Por Rita de Cerqueira | Fotos: Roberto Romulo

6966922583 1ac8ffd0f0 zQuem vai ao nordeste brasileiro na época do carnaval não pode deixar de curtir as apresentações dos grupos de Maracatu, que se preparam o ano inteiro para abrilhantar a folia típica do estado de Pernambuco. É um contagiante espetáculo de cores, brilho e muito batuque!

Existem dois tipos de Maracatu: Baque Solto ou Rural e Baque Virado ou Nação. Na verdade, são dois folguedos diferentes apenas com o nome em comum e inspirados por valores africanos. O Maracatu Rural reúne trabalhadores das plantações de cana-de-açúcar que, durante o carnaval, desfilam pelas ruas de Recife, Olinda e cidades vizinhas. O personagem principal é o Caboclo de Lança, vestido com uma enorme capa, ricamente bordada com lantejoulas e chocalhos costurados por baixo. Nas mãos, traz a lança – uma haste enfeitada de fitas coloridas, também utilizada durante a dança.

Segundo estudiosos, há uma manifestação do sobrenatural; entidades protetoras são invocadas em rituais de Umbanda para que os brincantes tenham sucesso durante todo o carnaval. Alguns caboclos desfilam “atuados”, são os caboclos de frente, que saem manifestados, sendo diferenciados por segurar entre os dentes um cravo branco.

Quanto à origem, existe muita dificuldade para se chegar a uma conclusão, pois a bibliografia é muito recente e pouco aprofundada, mas o ponto em comum nas várias versões dos historiadores é que resulta de uma fusão de elementos de outros folguedos populares existentes no interior de Pernambuco.

6820811834 24cbfbbdfa zO Maracatu Nação é uma contribuição da cultura negra ao panorama musical e coreográfico do carnaval Pernambucano. Foi iniciado por negros africanos escravizados, a maioria procedente da nação Banto, de Luanda – uma nação exilada, coroando, em terras estrangeiras, dentro ou fora das igrejas, seus reis e rainhas. O costume nasceu em Pernambuco, documentadamente, em Setembro de 1966.

A palavra ‘maracatu’ servia para denominar um ajuntamento de negros, que foi especificando, aos poucos, os grupos que se reuniam costumeiramente em festas religiosas de Nossa Senhora do Rosário, a padroeira dos pretos. Até hoje, esse costume é mantido toda segunda-feira de carnaval no Recife – a noite dos Tambores Silenciosos – no pátio da Igreja do Terço, no bairro de São José, onde há o encontro de todos os grupos de Maracatu da região.

O desfile é aberto pelo Embaixador, carregando o estandarte da nação para dar passagem aos donos da festa: o casal Real, Rei e Rainha que seguem protegidos por um pálio (semelhante a um guarda-sol enfeitado) carregado pelo Vassalo. Em seguida, vêm as Baianas e Damas-do-paço, responsáveis pela condução das calungas ou bonecas (sempre erguidas na altura do busto da dama. Jamais a boneca vai ao chão ou é abaixada quando se está dançando, pois é um símbolo sagrado). Ainda compondo o Cortejo, índios ornados de cocares apontam seus arcos e flechas com coreografia característica, representando o Brasil.

Todo grupo de Maracatu Nação faz parte de uma comunidade. Seus integrantes, geralmente de baixa renda, aprendem a fazer suas próprias roupas e adereços. As calungas recebem tratamentos especiais. Próximo ao carnaval, são feitas obrigações assim como os Orixás do Candomblé. Aliás, cada grupo pertence a um Orixá diferente, que são os seus protetores. As bonecas representam essas divindades e usam as roupas e adereços correspondentes, além das devidas “preparações”. Durante o desfile utiliza-se uma espécie de réplica da boneca, enquanto a “bruxa”, ou seja a “calunga preparada”, nunca sai do seu peji (altar) na sede. Mas isso só acontece com os autênticos grupos vindos das nações que sobrevivem tradicionalmente até hoje.

Música

6966820057 1f96945fa9 zO pesquisador Guerra Peixe explica que “baque é sinônimo de toque, por isso os Maracatus Rurais são chamados de ‘baque solto’, pois a orquestra traz apenas um zabumba, o que caracteriza o toque solto”. Já nos Maracatus Nação dá-se o ‘baque virado’, significando toque dobrado, porque há pelo menos três zabumbas. Portanto, musicalmente, o Baque Virado é formado somente por instrumentos de percussão, enquanto que o Baque Solto quase sempre têm um trombone e outros instrumentos de sopro no seu conjunto, caracterizando assim o Maracatu de Orquestra, como também é chamado.

Vale conferir e cair nessa folia de Reis e Rainhas, no embalo dos tambores desses Cortejos afro-pernambucanos!

*Para conhecer o trabalho do jornalista  fotógrafo Roberto Romulo, clique aqui.

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