Por Fabiana Passoni
Ando conectada com o meu “Soul” e com o “Brasil”. Talvez por este motivo, o editor desta revista super bacana tenha me convidado para expor meus pensamentos em relação a um tópico muito interessante: o porquê de alguns estilos musicais brasileiros serem mais populares que outros. Poderia escrever milhões de razões e expor vários pontos, mas prefiro ser mais incisiva e dizer minha opinião sobre um assunto tão permeado de suposições. Claro, expresso a opinião, bem particular, de uma cantora na estrada musical.
Todos nós brasileiros, sabemos que o axé, o pagode, o forró, o pop-rock – inclusive o nacional – e o sertanejo são muito populares e com vias de acessos mais fáceis as mídias e, consequentemente, ao público. Podemos encontrar facilmente uma grande variedade de programas de rádio, TV e shows de eventos, os mais diversos, que toquem as músicas associadas aos ritmos dos quais mencionamos, mas não encontramos facilmente um programa ou espetáculo voltado a Bossa Nova ou Jazz no Brasil.
Minha visão para esta indiferença é simples: ritmo! Tudo a ver com o ritmo!
Nestes nossos dias, a grande massa popular procura diversão, devaneios que os remeta a um estado de entorpecimento, um quase esquecimento ante às grandes questões perturbadoras e frustrantes do cotidiano. Desta forma, os atos de dançar, pular, gritar e cantar juntos acabam contribuindo, de uma forma ou outra, para o relaxamento das tensões do stress diário. Estes estilos musicais possuem ritmo cadenciado que se ajusta a um e outro estado da alma de cada um dos ouvintes, diante das circunstâncias em que podem se encontrar.
Tudo aliado à cultura predominante da região onde vivem – e o Brasil é enorme. Diante de certas verdades, até mesmo quem não curte um destes ritmos pode cair na folia, mesmo que momentaneamente. Ninguém fica parado! Mesmo fora do Brasil, eu noto que toda aquela sinergia que estes ritmos possuem acaba por fazer um e outro corpo tremular de mansinho, disfarçadamente ou de forma escancarada e nervosa, pouco se ligando para o que a audiência possa estar pensando.
Já o Jazz, a Bossa Nova, o Chorinho, ou vamos dizer assim, o Jazz Brasileiro é algo mais profundo e denso, que requer atenção, tempo e postura absorta, aliado a um sentimento muito intrínseco que a mera euforia, para se chegar ao patamar de apreciação na forma que por si só exigem. Normalmente encontramos uma faixa etária mais avançada quando falamos em apreciadores destes ritmos brasileiros mais tradicionais e menos populares. Percebo este mesmo efeito nos outros países.
Como um exemplo parecido, posso citar o Hip Hop x Jazz. Aqui, nos Estados Unidos, o jazz tem seu valor tradicional, ancestral, e possui seu público cativo. Mas comprova-se que não tem o mesmo espaço nos meios de difusão que um artista de Hip-Hop. Os brasileiros que trabalham com esse estilo musical devem estar, na sua maioria, fora do Brasil ou tentando sair do Brasil. O valor da música brasileira além de nossas fronteiras é um fato consumado, principalmente esse estilo “Brazilian Jazz”. Me da muito orgulho ver a grande quantidade de talentos brasileiros nesses diferentes estilos e em busca de um lugar ao sol, fazerem sua parte na trajetória de divulgar a boa música brasileira ao redor do mundo.
Meu trabalho tem sido mais aceitado por estrangeiros do que por brasileiros. Andei questionando algumas pessoas sobre esta questão e a maioria delas me disse algo interessante: nos bastidores da música brasileira o que se ouve falar em demasia é o tal do “JABÁ”. o famoso “JABÁ”, pra quem não conhece, é uma gíria produtiva, é a palavra que designa o pagamento de importância monetária ou incentivo financeiro, que se paga ao DJ nas estações de rádio para ter sua música tocada e divulgada.
– “Dependendo do JABÁ? Tocamos até rachar!” Por fim, os espaços musicais encontram-se loteados – o que lastimo, por conta da diferença entre os tamanhos dos “lotes”. Penso que há espaço para todos e público para apreciar todos os estilos musicais. Após ter vivido os dois lados da moeda, optei por mixar a fusão do jazz com os velhos e tradicionais ritmos do Brasil. Assim, mesclo o pop, o pagode e o baião com o jazz. A música que faço já está sendo tocada em vários lugares dos Estados Unidos e Europa, mas no Brasil a questão é esperar para ver. E observar se alguém vai me cobrar o tal do jabá!
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