Por Lindenberg Junior
Ao passo que a internet se tornou uma bênção para algumas publicações de grande porte e de alcance nacional, seja nos Estados Unidos ou no Brasil, para pequenas mídias locais ou comunitárias, ao contrário, a revolução digital tem sido tão destrutiva quanto temida.
Para gigantes nos EUA como o New York Times, L.A Times e Washington Post, por exemplo, nunca tantas pessoas se tornaram assinantes ou leitores – inclusive com aumento de ofertas para empregar jornalistas. O que notamos é que os primeiros anos da internet pareciam ter o potencial de esmagar a mídia impressa tradicional, mas a história, com o passar dos anos, terminou mostrando que o impacto sofrido foi menor devido à capacidade dessas grandes corporações de investir pesado em novas tecnologias e também em pessoal mais capacitado.
Milhares de pequenas empresas de mídia faliram à medida que suas receitas de publicidade desaparecem de forma progressiva nos últimos anos. Em 2020, com a pandemia, diversas mídias com esse perfil ainda resistem à crise como podem. Aqui nos Estados Unidos, mais de 60 redações de jornais locais fecharam desde março (2020), de acordo com Poynter Institute. Alguns deles tinham mais de um século, como é o caso do The Eureka Sentinel, em Nevada; The Mineral Wells Index, no Texas; e The Morehead News, em Kentucky.
Segundo o mesmo Poynter, mais de 1800 jornais e revistas fecharam suas portas desde 2004. A nível de mídia brasileira impressa nos EUA, na primeira década desse século, tínhamos mais de 100, sendo que até o final de 2019 (e antes da pandemia) esse número não chegava a 40. Na Califórnia por exemplo, constatamos o encerramento do jornal Brazil Today em São Francisco e da revista Brazil Explore em Los Angeles.
Mas é bom frisar que esses casos não se encaixam no que os americanos chamam de “creative destruction”, no qual novas empresas de um mesmo nicho substituem empresas mais antigas. E esses acontecimentos tem consequências para a sociedade, pois quando um jornal de uma cidade pequena ou um jornal ou revista comunitária fecha, desaparece com ele os canais de fontes de informações locais ou comunitárias. Por outro lado, segundo o Poynter Institute “essas pequenas mídias, têm um papel super importante tanto em manter suas comunidades informada quanto em democratizar e diversificar as fontes de notícias”.
E o que pode ser feito? Eventualmente, os empresários que ainda resistem à crise podem tentar tornar suas notícias locais lucrativas. Muitos já tentaram nos últimos anos, sem sucesso. Com minha experiência de anos em marketing de fusão e em, particular, marketing de conteúdo, posso dizer que uma das saídas seria o que no Brasil se chama de artigo institucional ou corporativo, ou seja, artigos pagos, bem produzidos e que podem ser veiculados offline e online, com táticas de SEO.
Mas em um futuro próximo, a nova tendência e talvez única confiável parece envolver a filantropia. Pelo menos nos EUA, os americanos há muito tempo aceitaram esse formato para dar apoio às artes, à religião e mesmo ao ensino acadêmico. Muitas dessas iniciativas dependem de doações de pessoas que abraçam uma causa ou iniciativa ou trabalho; é o caso por exemplo, de várias estações de rádio ao redor dos EUA, como a KPFK 90.7FM de Los Angeles e a KQED 88.5FM de São Francisco. Segundo alguns experts, o jornalismo local e comunitário de mídias impressas com versões digitais deve seguir esse formato para a sobrevivência.
“Precisamos de filantropos em todo o país para abraçar o jornalismo local e comunitário”, afirmou Sarabeth Berman, executiva-chefe do American Journalism Project, em uma entrevista recente ao New York Times. Podemos chegar à conclusão que isso se tornará uma tendência para 2021 e anos posteriores. De nossa parte, torcemos muito que esses filantropos (indivíduos e empresas) brasileiros nos EUA abracem essa causa para a sobrevivência das mídias comunitárias e o apoio ao jornalismo sem fins lucrativos.
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