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Foto: Sony Pictures

 O cinema brasileiro vive um momento de grande expectativa com a possibilidade de “Ainda Estou Aqui”, estrelado por Fernanda Torres e dirigido por Walter Salles, alcançar uma histórica indicação ao Oscar. O filme, que já conquistou o público nacional e internacional, traz à tona um capítulo doloroso e necessário da história do Brasil: os impactos da ditadura militar sobre a vida de uma família.

Fernanda Torres, que segue os passos de sua mãe, Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar em 1999 por “Central do Brasil”, é agora o foco de uma intensa campanha da Sony Pictures Classics para garantir sua indicação como Melhor Atriz. Essa possibilidade revive memórias de uma aparente injustiça histórica: muitos brasileiros ainda acreditam que Montenegro deveria ter vencido Gwyneth Paltrow naquela ocasião.

Um filme que reabre feridas e constrói pontes

“Ainda Estou Aqui” narra a história real da família Paiva, marcada pelo desaparecimento de Rubens Paiva, ex-deputado federal e ativista político, durante a repressão militar nos anos 1970. Interpretado por Selton Mello, o personagem é o ponto de partida para a trama, que explora os desafios, medos e resiliência de sua esposa, Eunice Paiva, vivida de forma intensa por Torres.

Walter Salles descreve o filme como um “instrumento contra o esquecimento”. Para ele, “a história pessoal da família Paiva é a história coletiva de um país”. Com uma narrativa visceral, o longa confronta o público com as cicatrizes deixadas por um regime que torturou milhares de brasileiros e desapareceu com centenas de opositores.

O filme encontrou relevância no cenário político atual, já que os últimos anos trouxeram à tona discursos nostálgicos em relação ao regime militar. Como destacou Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme, “Ainda Estou Aqui” é um lembrete de que essa história não pertence apenas ao passado.

Recepção crítica, público emocionado e a campanha para o Oscar

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Foto: Sony Pictures

Desde sua estreia em novembro, “Ainda Estou Aqui” tem quebrado recordes de bilheteria, ultrapassando a marca de 2,5 milhões de espectadores no Brasil. Internacionalmente, sua recepção foi igualmente calorosa. O filme estreou no Festival de Veneza com um prêmio de Melhor Roteiro e uma ovação de dez minutos.

Críticos destacam a atuação de Fernanda Torres como um dos pilares do sucesso do longa. Isabela Boscov, renomada crítica de cinema, afirmou que Torres “entregou um dos papéis mais profundos do cinema brasileiro nas últimas décadas”. Já veículos internacionais, como a Variety, elogiaram o impacto emocional e a importância histórica do filme.

Com o título “With I’m Still Here, Brazilian Icon Fernanda Torres Goes Global”, a revista americana Vanity Fair, especializada em artes e entretenimento, publicou um artigo destacando a carreira da renomada atriz brasileira, vencedora do prêmio de Cannes. O texto elogia intensamente tanto a atuação de Fernanda Torres quanto o filme de Walter Salles.

Já em um artigo intitulado “A Surprise Blockbuster in Brazil Stokes Oscar Hopes, and a Reckoning“, o renomado New York Times relembra que, décadas atrás, a mãe da atriz ficou muito perto de conquistar um Oscar, sendo considerada por muitos como a legítima favorita na época. O texto também destaca que o filme brasileiro e, especialmente, a atuação da atriz possuem chances reais de vencer, pelo menos, o Globo de Ouro.

Para o público brasileiro, o longa é mais que uma obra de arte; é uma catarse coletiva. Espectadores jovens e idosos compartilham suas experiências nas redes sociais, enquanto debates sobre a ditadura ganham força em escolas e na mídia.

A nomeação oficial do Brasil ao Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional aumenta as esperanças de reconhecimento na premiação mais prestigiada do cinema mundial. No entanto, a corrida de Fernanda Torres para uma indicação como Melhor Atriz enfrenta desafios. Tradicionalmente, atrizes de filmes em língua estrangeira têm poucas chances nessa categoria – apenas duas foram premiadas em toda a história do Oscar.

Mesmo assim, a Sony Pictures Classics está investindo em uma forte campanha, semelhante à realizada para “Central do Brasil” há 25 anos. O fato de Torres seguir os passos de sua mãe confere uma narrativa simbólica que pode atrair votos na Academia.

Um momento histórico para o cinema brasileiro

Independentemente do resultado, “Ainda Estou Aqui” já deixou sua marca como um dos filmes mais impactantes do cinema brasileiro contemporâneo. Para Fernanda Torres, uma indicação ao Oscar “já seria uma grande vitória”. Sua mãe, Fernanda Montenegro, concorda: “É uma herança de vida, de profissão”.

Enquanto o Brasil aguarda os anúncios da Academia em janeiro, “Ainda Estou Aqui” segue marcando o público, lembrando o poder da memória e da arte como resistência. O filme não é apenas uma homenagem à resiliência brasileira, mas um convite à luta por justiça, verdade e humanidade. “Ainda estamos aqui”, como disseram Torres e Montenegro. E o cinema brasileiro também.

‘Ainda Estou Aqui’ é pré-indicado ao Oscar 2025

No dia 17 de dezembro, foi anunciado que Ainda Estou Aqui foi pré-indicado ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional. A obra é uma das 15 semifinalistas anunciadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ao lado de produções como Emilia Pérez e A Semente da Figueira Sagrada. A cerimônia do Oscar acontecerá em 2 de março, no Dolby Theatre, em Los Angeles.

Esta é a primeira vez desde 2008, com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, que um filme brasileiro avança nesta categoria. Ambas as produções têm em comum a ambientação no período da ditadura militar no Brasil.