Você sabia que, de acordo com um estudo realizado em 2018 pelo Fórum Econômico Mundial, intitulado Futuro do Trabalho, 65% das crianças que estão começando o Ensino Fundamental no Brasil terão atividades profissionais que ainda não existem? As mudanças serão estruturais, estima pesquisa da consultoria McKinsey, salientando que para cada posto de trabalho eliminado pela tecnologia, 2,4 novos serão criados, principalmente em startups.
Com esta perspectiva, a clássica pergunta sempre feita às crianças e adolescentes — “O que você vai ser quando crescer?” — ganhou um sentido mais amplo e literal no contexto das fulminantes transformações tecnológicas e na estrutura do trabalho verificadas neste século.
O grande desafio, então, para garantir a empregabilidade humana na quarta revolução industrial encontra-se na educação. E este é um problema sério para países como o Brasil, nos quais o setor tem sido negligenciado durante muitos anos e sequer consegue cumprir com qualidade mínima a missão tradicional de alfabetizar, ensinar as quatro operações e os conhecimentos básicos.
Além da precariedade escolar, o nosso modelo de educação, a despeito de uma ou outra reforma pontual, foi criado há muito tempo e está longe de atender às demandas relativas à formação das presentes e futuras gerações. Assim, o Brasil, para se converter de fato em nação competitiva, de renda alta e mais desenvolvida, terá de fazer uma dupla lição de casa na área da educação: recuperar o tempo perdido na estruturação de um sistema público de ensino eficaz e de excelência e, ao mesmo tempo, prover os novos saberes que se exigem cada vez mais.
E quais são esses conhecimentos e habilidades já presentes no currículo de escolas de alguns países desenvolvidos? Capacidade de solucionar problemas e enfrentar situações críticas; criatividade; inteligência emocional; familiaridade com as tecnologias da informação; desenvoltura na comunicação e nas formas de expressão; facilidade de aprender rapidamente novos conceitos; e formação multidisciplinar.
Mas o Brasil ainda está atrasado na inserção do ensino nesta nova era do trabalho. Num momento em que o mundo discute e implementa esses avanços, o país ainda está patinando na aprovação do novo currículo nacional mínimo, continuamos pagando mal os professores, assistindo a uma interminável sequência de fraudes e vícios nas licitações para compra de materiais escolares para o sistema público e taxando com impostos altíssimos os cadernos, lápis, canetas, réguas e outros produtos essenciais ao aprendizado das crianças.
Diante desse desafio, que se torna ainda mais complexo no atual cenário nacional de instabilidade política e crise econômica, é preciso reformular e direcionar a clássica pergunta sobre o futuro às autoridades federais, estaduais e municipais da área da educação: o que vocês querem que o Brasil seja quando nossas crianças crescerem?
*Rubens F. Passos, economista pela FAAP e MBA pela Duke University, é presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritório (ABFIAE) e presidente do Conselho da Enactus Brasil.
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