“Eu tenho um sonho de que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos de ex-escravos e os filhos de ex-donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da irmandade. (…) Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter”.
A famosa frase, citada em seriados, filmes e documentários, faz parte do discurso proferido em 1963 por Martin Luther King. Ele foi um dos maiores líderes do movimento pelos direitos civis da população negra nos Estados Unidos, durante as décadas de 1950 e 1960.
Graças à sua importância para o país, esta personalidade ganhou uma data anual para lembrar o quanto agregou à História da luta pela igualdade entre negros e brancos nos EUA. O Dia de Martin Luther King é um feriado nacional estabelecido em 1983 e celebrado na terceira segunda-feira do mês de janeiro, data próxima ao aniversário do ativista (15 de janeiro 1929). Neste ano, a data é comemorado na segunda-feira, 20 de janeiro.
Michael King Jr. nasceu em Atlanta, na Geórgia, filho de um pastor protestante e de uma professora. Adotou o nome Martin Luther King posteriormente, inspirado no monge alemão Martinho Lutero, figura central da Reforma Protestante do século 16.
Desde cedo, ele viveu na pele a segregação racial respaldada pela lei no sul dos Estados Unidos. Aos 17 anos, tornou-se pastor assistente de seu pai. Interessado nos estudos, formou-se em Sociologia, Teologia e cursou doutorado em Filosofia.
Uma de suas primeiras ações na militância em defesa da causa negra aconteceu em 1955, depois que Rosa Parks, ativista negra pelos direitos civis, foi presa por se recusar a ceder seu lugar a um homem branco em um ônibus em Montgomery, no Alabama. Na época, com a segregação racial institucionalizada, os passageiros negros eram obrigados a ocupar apenas os últimos assentos nos ônibus e, se preciso, dar seus lugares a passageiros brancos.
A partir desse episódio, Luther King e outros ativistas e simpatizantes da causa passaram a não usar ônibus públicos, em um boicote que durou 382 dias e causou prejuízos financeiros à cidade. Como consequência, a Suprema Corte do país declarou ilegal a segregação em transportes públicos. Ao longo de sua trajetória, ele foi preso, sofreu diversos atentados e sua casa chegou a ser bombardeada.
Luta contra o racismo
Em 28 de agosto de 1963, mais de 250 mil americanos acompanharam seu emblemático discurso durante a Marcha sobre Washington por trabalho e liberdade, uma manifestação política de grandes proporções que ocorreu na capital do país. Na escadaria do Lincoln Memorial, King defendeu a liberdade, a igualdade e o fim da marginalização dos negros. Por esse ato, foi considerado o Homem do Ano de 1963 pela revista Time.
A marcha acabou pressionando a administração do então presidente John Fitzgerald Kennedy (JFK) para que as questões de direitos civis fossem levadas ao Congresso. No mesmo ano, Kennedy apresentou a Lei dos Direitos Civis, que concedia igualdade ampla e nacional a todos os americanos. JFK foi assassinado em 1963, e coube ao novo presidente, Lyndon Johnson, assinar o Ato de Direitos Civis, em 1964. Por sua luta, Martin Luther King recebeu, aos 35 anos, o Prêmio Nobel da Paz daquele ano, sendo a pessoa mais jovem a ganhar o prêmio até então.
Já em 1965, Luther King apoiou e participou das famosas Marchas de Selma a Montgomery, no Alabama, que reivindicavam o pleno direito ao voto para as pessoas negras. As marchas foram fortemente reprimidas pela polícia, mas acabaram surtindo efeito.
O presidente Lyndon Johnson se posicionou favoravelmente a uma mudança eleitoral, e a Lei dos Direitos de Voto foi aprovada pelo Congresso em 1965. Ambas as leis, de 1964 e 1965, são marcos da luta contra o racismo nos Estados Unidos, proibindo práticas eleitorais discriminatórias e os sistemas estaduais de segregação racial.
Após anos de luta, Martin Luther King foi assassinado em 4 de abril de 1968, aos 39 anos, na varanda de seu quarto em um hotel em Memphis, no Tennessee. O autor do tiro, disparado de fora do prédio, foi identificado como sendo um defensor da segregação racial.
O assassinato provocou uma forte revolta nos Estados Unidos, com protestos em mais de 100 cidades, incluindo a capital, Washington. A violência dos conflitos entre manifestantes e policiais resultou em mais de 40 mortes, 3.500 feridos e 27 mil presos. Ainda hoje, King segue como grande referência para os movimentos negros que combatem a discriminação racial, a desigualdade e a exclusão social.
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