Por Maurício Bridi
Quem poderia imaginar que a prática da meditação, que começou a conquistar o Ocidente nos anos 60, seria ferramenta indispensável na busca do autoconhecimento e da felicidade? No entanto, bem antes disso, mestres orientais (como Paramahansa Yogananda) já vinham conquistando a América e ganhando seguidores aqui e ali.
Hoje, mais de 3 décadas depois, a meditação infiltrou-se na nossa cultura, e assim como a psicanálise entrou na moda nos anos 70 e 80 – quando nenhum intelectual que se prezasse escaparia ao crivo de Freud ou Jung -, a meditação está sendo incorporada por milhares de ocidentais como prática rotineira em suas vidas. Hoje é uma ferramenta padrão usada na medicina, psicologia, educação e autodesenvolvimento.
Reeducar a atenção é a essência da meditação. O segredo está em redirecionar uma atenção dispersiva, o que é isso eficaz no controle da mente e, consequentemente: no controle da ansiedade; redução do estresse, ritmo cardíaco e pressão arterial; aumento da criatividade e do tônus muscular; fortalecimento do sistema imunológico, e inclusive na melhora do sono.
O estado de atenção leva o praticante a testemunhar os processos de sua própria mente, percebendo os mais sutis segmentos de seu fluxo de pensamento. A medida que o fluxo de pensamento diminui, é possível evocar as qualidades originais do “EU” e experimentar uma paz profunda, além de sensações de felicidade, alegria, entusiasmo e alta energia. Quando meditamos, é devido a um novo estado de consciência, vemos o mundo, as pessoas e as prioridades da vida de maneira diferente. Nossos valores mudam e nos relacionamos com as pessoas de outra maneira. Conseguimos purificar os pensamentos e trocar os padrões negativos por ações benéficas.
Apesar de os métodos variarem (por exemplo, o Tibetano e o Transcendental), os objetivos da técnica são os mesmos. Existem dois níveis de meditação. Um, mais superficial, onde há relaxamento e tranquilidade; e um outro mais profundo, alcançado com conhecimento correto e prática. A vida emerge de um mundo mais interno. É uma experiência muito sutil. Quando você sente sua alma, consegue perceber como as coisas acontecem.
A pergunta é: você consegue se mover nos dois mundos igualmente? Bem, quando você atua no mundo espiritual as coisas acontecem facilmente no mundo físico. Quando os pensamentos e sentimentos são limpos desprovidos de ego e de desejos pessoais, experimentamos a fruição do mundo em nossa direção. Tudo acontece com a maior naturalidade. Quando entende-se este mundo espiritual, caminha-se nele com a mesma naturalidade com a qual caminha-se na rua.
Todavia, a experiência da meditação não acontece apenas no nível dos pensamentos; este é um nível da aprendizagem. Porém, enquanto o pensamento não tem sentimento, não tem força real. A meditação exige a participação da pessoa por inteiro. Senão, a vida, a personalidade e a maneira de interagir não mudam.
Quando meditamos, devemos estar ali completamente, com todos os nossos sentimentos. Podemos comparar a meditação a qualquer outro exercício, que quando não estamos por inteiro ali , não executamos todos os movimentos por completo. Tente saltar de bicicleta é fazer um giro sobre seu eixo. Se você não tiver fé, não vai conseguir e talvez seja sua última tentativa. A mesma coisa ocorre com a meditação. Se a pessoa estiver com sua mente difusa em vários pontos, não conseguirá experimentar a plenitude.
Uma Rotina Prazerosa
A prática da meditação deve ser diária para que você sinta os benefícios em sua vida, sob a forma de saúde física, mental e emocional. Meditar deve ser um prazer e não uma obrigação. E a prática diária, feita com interesse e com o coração, levará ao sucesso. Começaremos a perceber tal clareza mental, quando problemas antes insolúveis, passam a ser resolvidos de forma muito mais simples e natural.
Qualquer hora é hora para se meditar, mas as horas matinais são especialmente mais propícias. Pela manhã, logo após o despertar, a mente está descansada e ainda não se envolveu em assuntos e problemas do dia a dia. A energia absorvida nesse período proporcionará um efeito positivo o dia todo. Nós devemos nos preencher de poder e energia antes de os problemas e dificuldades do cotidiano surgirem. Na verdade, a escolha de determinadas horas para a prática de meditação, sentado, em silêncio ou com uma música relaxante é uma etapa do treinamento para o desenvolvimento de uma atitude ou consciência meditativa.
É possível também meditar enquanto desempenhando ações. O tempo em que estamos realizando tarefas simples, rotineiras, que não exigem nossa completa atenção, pode ser aproveitado para a meditação. Enquanto dirigindo, caminhando, lavando louça, etc, nossa mente pode estar atenta e em atitude meditativa, desapegada da ação que está sendo realizada. Isto é o que chamamos de Karma Yoga. Esta técnica funciona muito bem para os indivíduos deprimidos e ansiosos e para as pessoas hiperativas.
A Consciência Expandida
Viver com qualidade é saber administrar nossa razão e nossos sentimentos na medida certa e na hora certa. Essa síntese pode ser alcançada com a prática da meditação em pouco tempo, se você der os passos certos na hora certa. Não vamos iludi-lo que seus problemas fugirão de você, mas você terá ferramentas adequadas para poder resolvê-los e, claro é imprescindível, também não criar novos. As provas da vida são necessárias para validarem nosso entendimento e desenvolvimento. Para avaliar seu desempenho veja-se no espelho de sua mente e verifique como você se saiu depois de cada novo desafio enfrentado.
* Mauricio Bridi é Filósofo e Yogi. Vive em São Paulo/Brasil e dedica parte de seu tempo a Universidade Espiritual Brahma Kumaris, que foi estabelecida em 1937 na Índia, e que hoje possui mais de 4.000 escolas em mais de 70 países.
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