Por Isabela Jordão

Image Human Rights Cenas de 1992 Foto KCRW e1703888603894O brutal assassinato do afro-americano George Floyd na cidade de Minneapolis, em 25 de maio de 2020, causado pela violência policial de três brancos e um sino-americano, desencadeou protestos em pelo menos 75 cidades dos EUA. Os clamores populares por justiça e igualdade racial, muitos deles pacíficos, foram marcados pela infiltração de vândalos em alguns locais, que se aproveitaram do momento para saquear estabelecimentos. Este acontecido remete a outro episódio similar, de 1992, conhecido popularmente por L. A. Riots.

Assim como em 2020, o estopim para as manifestações em 1992 foi o abuso de força policial contra um homem negro. Em março de 1991, o trabalhador da construção civil Rodney King, que estava em liberdade condicional por roubo, foi detido sob acusação de dirigir em alta velocidade. Ao sair do carro por ordem dos policiais, três brancos e um hispânico, King foi espancado com chutes e bastões, por cerca de 15 minutos. A cena foi filmada por um civil, enquanto mais de 10 policiais assistiam e comentavam sobre o ato. Rodney King teve fraturas no crânio, ossos e dentes quebrados, além de danos cerebrais permanentes.

George Floyd, morto em 2020, entrou para a história como vítima de brutalidade policial.

George Floyd, morto em 2020, entrou para a história como vítima de brutalidade policial

Os agressores foram judicialmente acusados de uso excessivo de força. No ano seguinte, e por coincidência também no mês de abril (29), o júri popular, constituído por 12 moradores do condado de Ventura, Califórnia – nove brancos, um latino, um birracial, um asiático e um negro – declarou a inocência dos policiais.

A indignação popular foi instantânea. Menos de três horas depois do veredicto, o sul de Los Angeles, onde mais de 50% da população é negra e pobre, se tornou palco da maior onda de violência do estado da Califórnia. Manifestantes atearam fogo, saquearam e destruíram lojas, mercearias e restaurantes. Motoristas de pele clara, brancos e até mesmo latinos, foram arrancados de seus carros e caminhões e espancados. Foram cinco dias de violência e distúrbios, deixando um rastro de 58 mortes e mais de 2.800 feridos, além de mais de 3.100 estabelecimentos destruídos e um prejuízo total que ultrapassou 1 bilhão de dólares.

Rodney King foi espancado violentamente em 1992, mas não chegou a falecer naquele ano

Rodney King foi espancado
violentamente em 1992, mas não morreu na ocasião

Cerca de 1.100 oficiais da marinha, 600 do exército e 6.500 militares da guarda nacional foram necessários para controlar os protestos. Em agosto do mesmo ano, um Federal Grand Jury solicitou novo julgamento contra os policiais Stacey Koon, Laurence Powell, Theodore Briseno e Timothy Wind, por violação de direitos civis contra Rodney King. Em 17 de abril de 1993, cerca de dois anos depois do espancamento, Powell e Koon foram presos; os outros dois, inocentados. No ano seguinte, Rodney King foi indenizado em US$3,8 milhões.

Além das semelhanças na brutalidade policial contra homens negros e nas reações violentas, os episódios de 2020 e da década de 90 compartilham diferenças relevantes:

1. No caso Floyd, as manifestações se espalharam por todo o país, enquanto no caso King, se concentraram na região de Los Angeles e, em particular, na área central e sul — zona mais pobre da cidade.

2. No caso Floyd, 40 cidades precisaram determinar toques de recolher e 15 estados acionaram a Guarda Nacional. Ainda assim, uma quantidade considerável dos protestos foi pacífica e com apoio e participação de policiais, como, por exemplo, em Coral Gables (Flórida), Camden (Nova Jersey) e Houston (Texas); já no caso King, todas as manifestações foram de distúrbios e muita violência.

Protesto em frente ao City Hall, em Los Angeles

Protesto em frente ao City Hall, em Los Angeles

3. Rodney King não veio a falecer por conta da agressão sofrida, vindo a público no terceiro dia de protestos para pedir paz. No episódio de 2020, George Floyd morreu asfixiado pelo policial que o abordou. No entanto, o irmão da vítima, Terrence, veio a público diversas vezes declarando também estar indignado com o assassinato e também pedindo paz:

“Se a própria família dele está tentando lidar com isso e manter a positividade e ir por outro caminho para buscar justiça, por que você está aí destruindo a sua cidade? Quando você terminar e mais na frente quiser comprar alguma coisa, estará fechado porque você destruiu. Por isso relaxe. A justiça será feita”, declarou o irmão de George Floyd em entrevista ao National Review.

4. A condenação dos agressores de Rodney King demorou dois anos para acontecer e apenas dois dos envolvidos foram presos; em contrapartida, o assassino de Floyd foi preso quatro dias após o assassinato, e os
três policiais que participaram da abordagem foram demitidos.

O caso George Floyd teve dimensão mundial e se tornou um marco da História recente. Entre alguns fatos relevantes, citamos o pronunciamento da lenda do basquete americano, Michael Jordan. Durante toda a sua carreira na NBA, o atleta jamais se pronunciou politicamente, e relutava em comentar questões sociais. Desta vez, porém, ele se juntou a um coro de vozes da NBA e de outros esportes dos EUA, exigindo mudanças em favor dos negros americanos.

“Estou profundamente triste, com muita dor e com muita raiva”, disse Jordan em 31 de maio, seis dias após a morte de George Floyd. “Já tivemos o suficiente. Precisamos continuar a nos expressar pacificamente contra as injustiças e exigir a responsabilidade!”, concluiu. Poucos dias após o pronunciamento, Michael Jordan doou 1 milhão de dólares a organizações que lutam contra o racismo e outras causas sociais.

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