Por Marcia De Souza
Já era quase meia-noite e nada do Bob ligar. As meninas estavam lá em casa desde as sete horas e, agora, super atrasadas. Dependemos mais uma vez de uma carona do meu “quase” ex namorado, afinal, se ele não ligar em cinco minutos, juro que termino tudo. Vou ligar para o tele táxi e vou para o night-club com as meninas, livre, independente e recém-solteira, quem sabe eu encontro alguém interessante por lá. Quem sabe um “amor a primeira vista…”
Chegamos no Club Blue Planet pontualmente à uma hora da manhã, graças ao Bob que não ligou. Logo de entrada senti meu coração acelerar, minhas mãos suarem frias e a minha barriga dar uns calafrios sem explicação, mas deixei pra lá e nem liguei. Entramos, eu, a Taís, a Sandra, o Mauro, o Sérgio, a Carmem e a Flavinha. Procuramos uma mesa, mas, por causa da hora, não tinha mais nenhuma disponível. Então fomos direto ao bar pegar uma bebida, de preferência, algo leve, quem sabe um mate com limão (tinha visto alguém bebendo algo parecido…). Não estava querendo cuidar de bêbados, já bastava o Bob, pois quando saíamos, ele sempre bebia incontrolavelmente, sem sequer preocupar-se comigo ou com quem quer que estivesse com ele. O nosso namoro, de quase um ano, terminaria por causa de mais um deslize cometido por ele e, pela ausência da minha rotineira paciência, mas não quero mais pensar nisto. Nem acredito que estou aqui, em pleno bar, no centro de um lugar badalado, cheio de gatos, sozinha, a menos de meia hora de um final de namoro, e ainda tenho muita força para sorrir, dançar e ficar muitíssimo bem.
Começou a tocar música lenta, assim não vale. Tenho que superar, afinal de contas sou ou não uma mulher pronta para descobrir novos mundos, situações e destruir meus obstáculos? Bem, talvez eu ainda não esteja tão preparada como deveria…
Todos vão dançar, exceto eu, fico sentada segurando meu copo de mate com limão e olhando para os lados – que situação – de repente, escuto um cochicho do meu lado esquerdo. Ao que parecia, dois rapazes decidiram quem iria me chamar para dançar, olho bem discretamente enquanto eles me disputam, quase morro, meu Deus, que dois “malas”! O que é que eu faço agora? Não dá mais tempo de correr para me esconder no banheiro, um deles vai acabar vindo até aqui e, mesmo que eu não aceite dançar, tenho certeza que vai sentar-se ao meu lado e puxar aquela velha conversa chata. Ai não, lá vem um em minha direção e o mais feio – eu mereço – onde estão os homens bonitos quando se precisam deles? E agora, o jeito é encarar a fera e torcer para que ele me ache sem graça e vá logo embora.
– Não, obrigada.
– Está sozinha?
– Não.
– Meu Deus que falta de criatividade.
– Meu nome é Fernando, e o seu?
– Hana
– Posso me sentar, Hana?
Antes que eu pudesse responder, surge do nada um outro rapaz, coloca sua mão sobre o meu ombro e responde ao ”desmancado” Fernando que aquele lugar já está ocupado, olha para mim e dá um sorriso, enquanto eu, nem sei o que dizer. O Fernando sai com o rabinho entre as pernas, ainda bem.
– Olá, Hana, posso me sentar ao seu lado e lhe fazer companhia?
Nem sei o que respondi na hora, mas lembro muito bem que ele sentou-se educadamente e me olhou bem no fundo dos olhos e toda aquela sensação de ansiedade voltou a acontecer. Tirei logo o olhar dele, mas não consegui resistir por muito tempo. Então, para disfarçar o nervosismo, perguntei-lhe o que estava fazendo ali, depois me toquei do fora que dei, mas ele foi gentil e mudando de assunto tocou-me as mãos e me levou até o meio do salão. Nem respondi se queria ou não dançar, e mesmo que ele tivesse me perguntado estava tão encantada que acredito que daria o maior vexame. Começamos a dançar, fiquei esperando que ele, como todos os outros, começasse a me fazer perguntas de sempre, mas que bobagem minha pensar isto, é claro que ele não é igual a nenhum outro.
Ele afastou meu rosto do seu ombro e me olhou, eu continuava um pouco nervosa mas ao mesmo tempo confiava nele, como se o conhecesse a muito tempo e soubesse que ele não me faria mal nenhum. Ele me olhou mais uma vez e me disse, ao que parece, o trecho de alguma poesia, depois me beija a face e sai pela porta principal, me deixando no meio do salão sem entender absolutamente nada.
Eu ainda estava parada no meio do salão e escutava a voz dele me dizendo uma única frase que ainda tilintava em minha mente: “O verdadeiro amor não morre, por isto eu estou aqui e tenho você nos meus braços…”
Mauro me disse, que eu estava olhando para a porta de saída, quando eles me encontraram parada no meio do salão, pois já eram cinco horas da manhã e estavam me procurando para irmos embora.
A Flavinha vem me acordar, aos solavancos…
– Acorda, acorda, Hana, adivinha quem ligou?
Não foi preciso mais nada, meu coração disparou, minha barriga dava calafrios e minhas mãos suavam, só pensava nele, dei um pulo rápido da cama, e quase gritando perguntei se “ele” deixou algum recado? E a Flavinha respondeu que o “Bob” apenas gostaria de saber a que horas iríamos ao club mais tarde, pois não queria atrasar e nos fazer ir de táxi.
* Marcia de Souza é uma amante de livros, viveu em Los Angeles e Moscou, e voltou a residir em sua cidade natal, Recife, onde trabalha como secretária executiva de uma empresa multinacional de energia alternativa com base na Espanha.
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