A reação do público em geral às novas variantes do coronavírus segue um ciclo familiar. As pessoas tendem a presumir o pior em duas questões diferentes: se a variante leva a uma transmissão mais rápida do vírus e se causa doenças mais graves entre as pessoas infectadas.
A primeira dessas preocupações se tornou realidade com as variantes Alpha e Delta: Alpha era mais contagiosa que a versão original do vírus, e a Delta era ainda mais contagiosa que a Alpha. Mas a segunda das preocupações em grande parte não foi confirmada: com a Alpha e a Delta, a porcentagem de casos de covid-19 que levaram à hospitalização ou morte manteve-se razoavelmente estável.
Esse padrão não é surpreendente, dizem os cientistas. Os vírus geralmente evoluem de maneiras que os ajudam a florescer. Tornar-se mais contagioso permite que um vírus ganhe força; tornar-se mais grave tem o potencial de fazer o oposto, porque mais hospedeiros de um vírus podem morrer antes de infectar outros.
Estamos no fim de novembro de 2021 e é muito cedo para saber se a variante Ômicron se ajusta ao padrão. Mas as primeiras evidências sugerem que sim. Infelizmente, a Ômicron parece ser mais contagiosa do que o Delta, inclusive entre as pessoas vacinadas. Felizmente, as evidências até agora não indicam que a variante Ômicron está causando doenças mais graves. Note alguns dados recentes que coletamos e que foram anunciando-se entre os dias 26 e 29 de novembro de 2021:
* Barry Schoub, um virologista sul-africano que assessora o governo local, disse que os casos de Ômicron tendem a ser “leves a moderados”. Schoub acrescentou: “É um bom sinal. Mas deixe-me enfatizar que ainda é cedo”;
* O Dr. Rudo Mathivha, chefe da unidade de terapia intensiva de um hospital em Soweto, também na África do Sul, disse que os casos graves se concentraram entre as pessoas que não foram totalmente vacinadas;
* A Dra. Sharon Alroy-Preis, uma importante autoridade de saúde em Israel, enfatizou que, quando as pessoas vacinadas são infectadas, ficam apenas ligeiramente doentes, de acordo com a publicação Haaretz.
O fato é que por enquanto não há evidências de que Ômicron cause doenças mais graves do que as variantes anteriores. Nos primeiros dias após a descoberta de uma nova variante, muitas pessoas se concentram nos piores cenários e, às vezes, manchetes alarmantes podem dar a impressão de que a pandemia está prestes a recomeçar e que as vacinas podem ser impotentes para deter a variante.
Existe uma incerteza genuína sobre a Ômicron. Talvez seja pior do que os primeiros sinais sugerem e cause doenças mais graves do que a Delta, mas presumir o pior sobre cada nova variante não é uma resposta racional – baseado na ciência. E o alarmismo tem seus próprios custos. Na ausência de novas evidências, a suposição racional é que covid-19 provavelmente permanecerá extremamente leve entre os vacinados – a menos que a saúde já seja precária.
Para concluir, anotamos aqui mais dois testemunhos. O Dr. Anthony Fauci, a maior autoridade de saúde dos EUA no que se refere à Covid-19, enfatizou no programa dominical de TV americano “Meet the Press” que existe um poder contínuo da vacinação, mesmo contra as variantes. “Pode não ser tão bom na proteção contra a infecção inicial, mas tem um impacto muito importante na redução da probabilidade de você desenvolver a forma grave”, disse Dr. Fauci. Já Katelyn Jetelina, uma famosa epidemiologista (Boletin Substack), fez uma observação semelhante dizendo “Não leve a variante Ômicron levianamente, mas também não fique pessimista. Nosso sistema imunológico é incrível”.
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