Por Willy Rubén Paffen | Tradução: Magali DaSilva

Oscar Garcia Rivera Comparsa ca 1940 oil on canvas 40 x 58 inches e1727219864480

Por mais de 300 anos, instrumentos como o tanguillo, gaditanos, jotas, rigadoons, etc, misturado com várias religiões e danças africanas, deram inicio ao ritmo que hoje constitui a essência popular da música cubana. Como o Jazz, que teve inspiração na música religiosa Gospel e o ritmo do Blues, a música popular cubana oscila entre a sagrada Yoruba (como em Bahia, Brasil), Congo, Abakwa Chants, Guarachas e Rumba.

A autêntica Rumba é um ritual que envolve tambores, cantos, declamações e dança. Nasceu entre o longo processo da influência africana na ilha de Fidel. O paralelo fenômeno do sincretismo ocorreu entre quatro grupos de diferentes crenças: Yoruba da Nigéria e Togo, o Carabalí do Sul da Nigéria e Camarões, o Bantú original do Congo e Angola, e Ararás original de Benin. O resultado foi à predominância do Yoruba e consequentemente da Santeria (Candomblé), a mais comum e conhecida expressão mística Africana em Cuba e em Brasil.

Consagrados tambores, o conjunto de três tipos de bata, são usados em cerimônias para invocar os orixás (tradição que vem dos Yorubas). Especificamente construídos dentro de padrões rigorosamente exigidos, usando peças inteiras de cedro talhado a mão, esses tambores mantém o tom Africano em ordem, onde o tambor mais alto {bass}, chamado Iya ou mãe, é o solista; o tambor médio, chamado Itotelê ou pai, segue o solista; e o tambor mais agudo, chamado okonkolô ou bebê, é tocado um tanto quanto em um mesmo tom repetidamente.

Todo tambor Batá, tem duas camadas de couro de diferentes diâmetros, é esticado nas pontas com a mão de várias maneiras, sendo tipicamente tocado sentado com o tambor posicionado na altura do joelho. Esses tambores sagrados tem relação com o Lucumi (cerimonial Yoruba em Cuba), assim com o som desses tambores tem relação com uma determinada linguagem. Em outras palavras, é como se os tambores tivessem voz e pudessem falar.

Image Musicos Rumba AutenticaA dança assim como os rituais teve papeis relevantes nas religiões Africanas trazidas para a América. E não deve ter sido por acaso. Essas cerimônias religiosas invariavelmente envolvem música com diferentes instrumentos de percussão, e que correspondem com os diferentes estilos de dança. Ou seja, a música era tocada para associar-se diretamente com os movimentos dos dançarinos. Danças seculares foram também desenvolvidas, crescendo com a transição e o fluxo populacional de áreas rurais para cidades, de trabalhadores escravos para cidadãos livres a margem da sociedade.

Os bem conhecidos estilos de dança; Zapateo, Jota, Habanera, Contradanza e Danzón, enquanto não tiveram influência africana, derivaram-se principalmente de estilos europeus. Entre os mais fortes componentes da influência africana estão: o Yuka, uma dança erótica do Congo semelhante à transa entre a galinha e o galo; o Quimbumbia, uma dança-jogo do Congo que envolve a participação de dois bastões pequenos; o Mani, uma dança-boxing de Angola semelhante com a Capoeira; o Palo, originário do Congo e particularmente praticada entre os trabalhadores agrícolas.

Também há o Tumbandera, uma dança esquisita executada com os pés enterrados, com uma corda amarrada a uma árvore e um tambor; o Caringa, dança realizada em fila, que no momento que a música muda os dançarinos fazem movimentos diferentes; e a Rumba, uma dança folclórica tradicional, originada dos portos de Cuba usando improvisados instrumentos de percussão, músicas chamadas por um solista e respondida por um coral, textos improvisados que relatam conflitos diários e específicos, e diferentes coreografias de acordo com o estilo atual.

A Rumba tradicional evoluiu até que adquiriu os instrumentos de percussão que a caracterizam hoje: Conga (quinto, três-golpes e salidor), palitos, caja e shekeré. Sobre influência de extintas formas de danças como Espanola, Jiribilla, Palatino, Tahona, Tanada, Reseda, Mamabuela, e Mandunga, a Rumba de hoje tem três estilos tradicionais: Yambú, Columbia e Guaguancó. O Yambú é um tipo de Rumba onde os dançarinos se movem como gente idosa. Com movimentos vagarosos que imitam mulheres fazendo trabalhos domésticos, e homens pegando lenços no chão com a boca. Columbia é um direto descendente dos Carabali’s (sociedade secreta de homens) do século 19, que envolve o uso de facas, lanças e espadas.

Image Musica 3 Los Munequitos de Matanzas e1727219989862

Grupo Cubano Los Munequitos de Matanzas

É dançada por uma só pessoa fazendo certas acrobacias, seguindo o ritmo percussivo do Quinto (principal tambor conga). Guaguancó é o tipo de rumba que alcançou nome internacionalmente, sendo a base do que hoje chamamos jazz latino e salsa. É distinguida pelo “vacunado”, uma dança agressiva onde o homem segue a mulher para possuí-la simbolicamente através de movimentos pélvicos. A mulher se faz indiferente, o homem se vê enlouquecido. Ela bloqueia, tenta evitar a aproximação, e protege o seu corpo com movimentos sedutivos.

Um excelente exemplo da Rumba de hoje são os Munequitos de Matanza. Um grupo Cubano, da cidade de Matanza, e cuja tradição musical é passada de pai para filho, agora, já por várias gerações. O grupo tem feito um trabalho magnífico e autêntico ajudando esse tipo de gênero musical a transcender em sua forma original.

A palavra Rumba invoca o humor, uma atmosfera de barulho e celebração. “Vamos a Rumba” quer dizer “Vamos Dançar e Celebrar a Vida em sua Plenitude”. A sensual “Mulata da Rumba”, a dançarina apaixonante e divertida é um dos maiores símbolos desse astral Afro-Cubano. Um grupo de amigos, uma garrafa de rum, e alguns instrumentos de percussão, são os únicos elementos necessários para que a Rumba comece em todo lugar, assim como o Samba em Rio e um Batuque-Axe em Salvador (Bahia).

 

Facebook Comments