Por Laís Oliveira
Essa é uma das mais jovens modalidades esportivas no Brasil, mas graças à sua inserção nas olimpíadas, tem conquistado milhares de jovens no país. O skate surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1960, e, no final dessa mesma década, chegou ao Rio de Janeiro graças a filhos de americanos e brasileiros que viajavam nos EUA.
Mas a popularização dessa modalidade de esporte radical só começou nos anos 70 quando apareceu na Revista Pop, uma das mais lidas entre os jovens da época. Surgiram empresas brasileiras especializadas na venda de skates e produtos ligados ao esporte. E, apenas em 1976, a primeira pista da América Latina foi inaugurada em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.
O fato é que o esporte nunca foi tão popular e bem recebido quanto o futebol, por exemplo. O período no Brasil era a ditadura militar e, rapidamente, o skate foi tido como um esporte de vagabundo, maconheiro e de quem não queria trabalhar. Não existia muito apoio e incentivo à prática por parte dos pais e educadores. Muitos jovens, inclusive, apanhavam de policiais nas ruas quando eram pegos em cima das quadro rodinhas criando manobras nas pistas e avenidas.
No início dos anos 80, quando a moda migrou para os patins e a BMX, os fabricantes que não adaptaram sua produção começaram a falir aos poucos. O investimento caiu e aumentou o preconceito com os skatistas, que eram considerados marginais.
Em 1988, Jânio Quadros (PTB), então prefeito de São Paulo, proibiu a prática de skate na cidade. A prefeitura não queria skatistas nas ruas da Zona Sul já que o esporte era visto como marginal. Sua sucessora, a prefeita Luiza Erundina, revogou a medida.
Mesmo com a liberação, a modalidade ainda era pouco apoiada, os próprios skatistas juntavam dinheiro para construir pistas particulares e organizar campeonatos pequenos. Em 1984, uma nova onda de skate voltou a crescer junto à indústria brasileira – muitos filmes americanos passavam na televisão e mostravam jovens de várias idades andando de skate e se dedicando à prática.
A TV aberta do Brasil foi influenciada e passou a dar atenção ao esporte, o que ajudou a disseminar a modalidade. Entre o meio dos anos 80 e toda a década de 90, diversas estrelas internacionais do skate surgiram – um dos mais famosos era Tony Hawk – e o skate voltou a ser amado pela juventude, principalmente na modalidade street.
Em 1997, o skatista carioca Bob Burnquist – que vive na Califórnia desde 1995 – foi eleito o melhor skatista do ano no mundo após criar uma nova técnica que revolucionou o esporte, o switchstance.
Na entrada dos anos 2000, foi criada a Confederação Brasileira de Skate (CBSk). Segundo o Datafolha, naquela época já havia mais de 2,7 milhões de skatistas no país. A partir daí, centenas de pistas foram construídas por todo o Brasil, facilitando o treino de milhares de atletas, tanto amadores quanto profissionais.
Depois da consolidação do skate como esporte ao redor do mundo, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que a modalidade faria parte dos Jogos Olímpicos, a partir de Tóquio 2020. Com a pandemia, as Olimpíadas foram transferidas para 2021 e oficialmente começaram. E aí que o skate parece ter voltado a virar febre.
Desde o início do mês de julho até o último dia 25/07, de acordo com uma pesquisa do grupo Pequenas Empresas & Grandes Negócios, a busca por skates no e-commerce brasileiro cresceu 614%. A alta nas buscas coincide com o ótimo resultado que o esporte tem levado ao Brasil. Até o momento, o skate deu duas medalhas de prata para o país: Kelvin Hoefler, no masculino, e Rayssa “Fadinha” Leal, de apenas 13 anos, no feminino. Os dois concorreram na categoria Street, nos dias 24/07 e 25/07. Ainda há a categoria Park pela frente.
“Saber que muitas meninas já me mandaram mensagem no Instagram falando que começaram a andar de skate ou os pais deixaram andar de skate por causa de um vídeo meu, eu fico muito feliz porque foi a mesma coisa comigo. Minha história e a história de muitas outras skatistas que quebraram todo esse preconceito, toda essa barreira de que o skate era só para menino, para homem, e saber que estou aqui e posso segurar uma medalha olímpica, é muito importante para mim”, disse a atleta “Fadinha” ao site do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Tal qual o skate, o surfe, que apesar de ter chegado ao Brasil ainda nos anos 1940, já foi considerado esporte de vagabundo e ainda hoje é alvo de preconceito.
Mas a presença do esporte nos Jogos Olímpicos, pela primeira vez em Tóquio, pode significar, mais do que entretenimento, a derrubada desse antigo preconceito. Assim como tem acontecido com o skate, é possível que novas portas sejam abertas para os esportes radicais e eles estejam cada vez mais presentes em grandes competições mundiais.
E o Brasil está bem representado no surf este ano. No dia 27/07, o surfista Ítalo Ferreira fez história na modalidade e levou a medalha de ouro ao desbancar o japonês Kanoa Igarashi na grande final. De quebra, o surfista vingou o compatriota Gabriel Medina, eliminado horas antes pelo anfitrião nas semifinais.
Agora resta esperar se essa febre dos esportes radicais vai passar após as olimpíadas ou se, cada vez mais, novos skatistas e surfistas profissionais se formarão no Brasil com o maior incentivo a essas modalidades e uma visão positiva sobre os atletas.
Facebook Comments