“Eu nasci lá na Bahia, cidade do Salvador Terra boa hospitaleira que todo mundo da valor me criei na capoeira, escutando o berimbau que gemia bem tocado, lá no fundo do quintal Bimba foi meu professor, no Nordeste de Amaralina quem me ensinou a malandragem de dobrar de uma esquina…”
SB – Mestre, onde você nasceu e como foi essa historia de pisar na Califórnia?
M.A – Como na musica que cantei, nasci em Salvador, Bahia e hoje vivo em Berkeley, na Baia de São Francisco… “Com saudade do meu povo, mas ensinando a capoeira, eu me sinto lá de novo, camará!”
SB – Esses refrões são de alguma musica sua?
M.A – Essa musica que gravei em 1986 reflete muito da minha realidade nos Estados Unidos e acho que já pode responder algumas de suas perguntas. A esta altura do campeonato com, 65 anos de idade, 50 de capoeira e 30 de Estados Unidos, estou um pouco cansado do obvio. Capoeira é uma arte mágica, um patrimônio histórico e cultural reconhecido pelo nosso governo como uma arte sofisticada e complexa que transcende fronteiras geográficas, barreiras de gênero e condições socioeconômicas. Capoeira hoje em dia tornou-se uma significante embaixatriz da cultura brasileira.
SB – Queríamos que falasse um pouco do inicio e de como esta sua vida hoje entre a Capoeira, os EUA e o Brasil?
M.A – É bom frisar que minha trajetória também esta registrada em um dos meus livros, Capoeira: a Brazilian Art Form que continua no mercado desde os meados dos anos 80. Mas, cheguei aqui em 1978 para participar de uma semana brasileira promovida pela Neiman Marcus em Dalas, TX. Então, como muitos e muitos, fui ficando e criando raízes que se solidificaram. Hoje tenho um pé aqui e outro na Bahia, onde temos um projeto social para crianças da vizinhança de Itapoá. Este projeto se chama “Projeto Kirimurê” e atendemos cerca de 100 crianças em risco dando assistência escolar, educação sobre o meio ambiente e, naturalmente, tentando ajuda-los a se tornarem melhores cidades através da pratica da capoeira.
SB – E essa homenagem da cidade de Berkeley? Como foi isso?
M.A – Veja como são as coisas. Durante o nosso batizado esta semana a cidade de Berkeley proclamou oficialmente o dia 18 de Outubro como “Mestre Acordeon Day”. Em virtude desse trabalho de 30 anos, fomos reconhecidos pelo então prefeito de Berkeley (2008) e recebemos essa homenagem. Por outro lado veja que ironia. A capoeira que tanto tempo foi reprimida em seu próprio pais ganha hoje essa honraria. Não foi a primeira que recebi através dos tempos e sinto-me muito feliz. Mas acho que sou apenas um veiculo para validar a capoeira como a arte extraordinária que ela representa.
SB – Mestre nos fale um pouco do Capoeira Café, esse lugar que marcou época como um Café e ao mesmo tempo uma academia de Capoeira?
M.A – O Capoeira Arts Café foi uma das nossas escolas e durou 10 anos. Foi estabelecido em 1997 e durou ate 2007. Mas temos uma escola bacana, com muitos alunos e muitos amigos. O prédio em que o café existia foi demolido e será um teatro para o Freight and Salvage. Nesta escola nova nos estamos trabalhando com a BRASARTE World Center, dirigido por Conceição Damascena e que é uma parceira extraordinária. Então por agora estamos localizados no endereço 1901 da San Pablo Ave, em Berkeley, com CEP 94701. Assim que conseguirmos uma grana extra faremos um Café Brasileira de novo e com a mesma qualidade! Mas o Capoeira Arts Café foi um bonito trabalho de carinho de todos e que se tornou lenda através do nosso livro: Capoeira Arts Café -Uma academia de Capoeira. Este livro tem fotografias espetaculares, textos de alunos, mestres e é um trabalho que recomendo para todos, inclusive não capoeiristas. Alem do mais, a receita das vendas deste livro será destinada totalmente ao Projeto Kirimurê. Visitem nosso site: www.capoeiraarts.com
SB – Como você ver a internet em relação à capoeira? Pois por um lado ajudou a capoeira a se disseminar, ganhar espaço e ampliar fronteiras mais facilmente, mas por outro lado, esse mesmo veiculo ajuda a deixar a capoeira um pouco mais distante de suas tradições e suas raízes em um todo…
M.A – Boa Pergunta Lindenberg. O impacto da globalização trás benefícios e algumas conseqüências menos interessantes para a capoeira. No entanto, capoeira tem sido uma arte de sobrevivência, mudando roupagem em diversos períodos históricos para responder questões pessoais muito diversificadas. Na verdade, a capoeira esta indo muito bem e cada dia fica mais forte.
SB – Qual a sua visão para a Capoeira daqui a 10 anos?
M.A – Sucesso total.
SB – Obrigado pela entrevista e terminamos desejando ao Mestre e seus projetos também um sucesso total.
M.A – De nada, foi um prazer. Sucesso também para a Soul Brasil, que ajuda de uma forma ou de outra a disseminação de nossa cultura aqui na Califórnia.
* Este artigo foi originalmente publicado em uma edição impressa de 2015. Em 2021 mestre Acordeon se mudou da Califórnia para outro estado, mas na Califa ele deixou muitas raízes.
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