Em um universo alternativo e inegavelmente melhor, a temporada de filmes de verão estaria terminando agora. Os estúdios estariam calculando as receitas de blockbusters como “Viúva Negra”, “F9” e “Mulher Maravilha 1984.” Os observadores das bilheterias estariam fazendo suas listas dos vencedores e perdedores da temporada. Cinéfilos saciados com o espetáculo estariam olhando para a tarifa de prestígio mais inebriante do outono. Em vez disso, Hollywood se vê tentando salvar o pouco que resta de um verão quase esquecido pela pandemia.
No penúltimo fim de semana de agosto, três filmes estrearam exclusivamente nos cinemas em grande parte do país, os primeiros novos filmes desde que os multiplex foram forçados a fechar as portas há cinco meses. (Para uma perspectiva histórica, no auge da pandemia de gripe de 1918, um embargo foi colocado no lançamento de novos filmes por um mês.) O thriller “Fúria Incontrolável”, o romance juvenil “Words on Bathroom Walls” e o filme “Cut Throat City” – três longas pequenos que, de outra forma, poderiam ter sido ofuscados por gigantes de grande orçamento – agora se encontram carregando nas costas o que Hollywood espera que seja um futuro sustentável, pavimentando o caminho para a tão adiada inauguração doméstica do alucinante filme de ação de Christopher Nolan, “Tenet”, em 3 de setembro.
Os novos títulos chegaram às três principais redes de cinema norte-americanas, AMC, Regal e Cinemark, que reabriram na sexta-feira (22) em 100 a 200 locais cada, com capacidade reduzida e protocolos de limpeza e segurança aumentados. Isso elevou o número total de cinemas abertos nos Estados Unidos para mais de 1.500 (incluindo cerca de 300 drive-ins), em comparação com os cerca de 1.100 no fim de semana anterior a este, de acordo com a mensuradora de bilheteria Comscore. Espera-se que outras reaberturas em fases ocorram antes do fim de semana do Dia do Trabalho e do lançamento de “Tenet”.
No entanto, os cinemas permanecem fechados em alguns estados, incluindo os cenários críticos de Nova York e Califórnia. E não está claro até que ponto o público assustado por meses de manchetes terríveis sobre a pandemia está pronto para se aventurar de volta aos cerca de 70% dos cinemas, abertos. Na segunda semana de agosto, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, defendeu manter os cinemas de seu estado fechados dizendo que “em uma escala de risco relativo, um cinema é menos essencial e apresenta um alto risco”.
Confira como e porque esses três filmes improváveis assumiram os papéis principais neste verão sem precedentes.
Fúria Incontrolável
Inicialmente programado para estrear em setembro, “Fúria Incontrolável” é estrelado por Russell Crowe, como um homem no fim da linha que transforma um incidente passageiro de violência na estrada em uma onda de terror contra uma mulher inocente. Em maio, com o calendário de lançamentos de verão embaralhado, o estreante Solstice Studios viu uma oportunidade de apresentar seu longa-metragem de estreia ao torná-lo o primeiro filme a receber os cinéfilos de volta aos cinemas, mudando sua estreia para o fim de semana de 4 de julho, à frente de dois estúdios: “Mulan”, da Disney, e “Tenet”, da Warner Bros.
Quando um novo aumento de casos cancelou os planos de reabertura dos cinemas, Solstice mudou “Fúria Incontrolável” para o final de julho e, eventualmente, para 21 de agosto, ainda na esperança de tirar proveito da falta de competição. Com times jogando entre arquibancadas vazias e escolas de todo o país adotando o ensino remoto, muitos em Hollywood temem que o público opte por permanecer em segurança abrigado em suas casas, onde têm um suprimento quase infinito de conteúdo para transmitir. Mas, para os produtores do filme, há uma demanda reprimida pela experiência comum de ir ao cinema.
Cut Throat City
O filme estreou na sexta-feira (22), em cerca de 400 telas em todo o país, incluindo o Vineland Drive-In da City of Industry, na Califórnia (há 10 drive-ins desse tipo no estado dourado). Os produtores esperam que o burburinho devido ao fato de ser um dos primeiros títulos em cinemas reabertos contribua para a fama ainda este ano, quando “Cut Throat City” chegar ao VOD, vídeo doméstico e outras plataformas pós-cinemas.
A empresa não tem um, mas dois novos filmes que entram nos cinemas dos EUA na última semana de agosto: a sequência de zumbis coreanos “Train to Busan: Peninsula” – que a Well Go estreou nos cinemas do Canadá no início deste mês. Estreou na Coreia do Sul em julho, onde os cinemas voltaram a funcionar há algum tempo, e liderou as bilheterias. Mas, enquanto a Well Go terá dois títulos em exibição ao mesmo tempo, a sobreposição de público esperada é baixa.
Words on Bathroom Walls
Adaptado do romance jovem-adulto de mesmo nome, de Julia Walton, o filme é estrelado por Charlie Plummer (“Todo o Dinheiro do Mundo”) e Taylor Russell (“Waves”). A história mostra um estudante do ensino médio com diagnóstico de esquizofrenia que vai para uma nova escola e começa um romance com uma colega de classe. O lançamento veio rapidamente neste verão, quando a Roadside Attractions adquiriu o filme da LD Entertainment, em junho, mas a estreia inicial, em 7 de agosto, foi transferida para 21 de agosto, quando as principais redes de cinema atrasaram os próprios planos de reabertura. “Words on Bathroom Walls” estreou na sexta-feira (22) em mais de 900 telas domésticas, e, na Califórnia, o Vineland Drive-In será a única locação mostrando o título.
A Roadside Attraction já havia sido forçada a lutar uma vez, quando o coronavírus restringiu o lançamento da estrela Katie Holmes, “The Secret: Dare to Dream”, planejado para abril. Mas, ao contrário do antigo “The Secret”,“ Words on Bathroom Walls” é voltado para os jovens espectadores, cujos distribuidores esperam que retornem aos cinemas primeiro. “Escolhemos especificamente um filme para jovens adultos”, disse o co-presidente da Roadside Attractions, Howard Cohen, “porque pensamos que o público mais velho ficaria um pouco mais hesitante em sair imediatamente”.
Para distribuidores menores, ter que se ajustar agilmente a novas estratégias e mudanças no setor não é nada novo, e as métricas de sucesso podem ser medidas de forma diferente da de um blockbuster – ainda mais em tempos sem precedentes. Para o co-presidente da Roadside Attraction, parte de ser um distribuidor independente é olhar para os filmes de forma um pouco mais cirúrgica, no sentido de que estamos olhando para filmes que são para públicos diferentes, e não filmes que precisam ser para todos para ter sucesso.
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