Por Adilson Moura & Lindenberg Junior

hawaii 1037024 960 720O Havaí realmente pode ser nomeado como um verdadeiro paraíso, principalmente por aqueles que moram ou já moraram em uma das 8 ilhas que formam o arquipélago Havaiano. Destaques para a Hawaii ou Big Island, a maior das ilhas; o Kauai, das belíssimas cachoeiras e incríveis paisagens, Maui, o paraíso do windsurf; e o Oahu, da capital , da famosa Waikiki e do North Shore das ondas gigantes. Aqui vamos dar especial atenção às duas últimas já que são as ilhas onde podem se ver melhor os rastros da cultura brasileira. É bom lembrar que por tradição a cultura Havaiana da muita importância a família e as crianças – veja mais abaixo o significado da palavra “Aloha” na integra. Essa palavra que identifica o Havaí é justamente a filosofia do crescimento em harmonia e do respeito ao próximo.

Os brasileiros que vivem no Havaí

Maui nos últimos anos vem obtendo grande influência da migração Brasileira. Esse território que antes fazia parte do sonho de muitos brasileiros, com ondas perfeitas e consistentes, hoje é local de moradia e de trabalho de pessoas como Alfredo Vilasboas, morador e salva-vidas de Ho’okipa, umas das praias mais conhecidas de Maui, vizinha de Jaws. Ho’okipa é uma das praias mais frequentadas por estar localizada em um ponto muito popular e com uma visão incrível. Alfredo reside aqui há mais de dez anos, tendo anteriormente trabalhado como cozinheiro, deu duro na construção e foi salva-vidas voluntário.

Apesar do localismo forte aqui em Maui, Alfredo foi muito bem recebido e agora já com alguns anos de batente, tem prestado serviço à comunidade Havaiana, conquistando a confiança e a admiração da galera local. Sem deixar de ressaltar seu grande amigo e companheiro de trabalho, Kaleo Amadeo, pessoa que sempre esteve e esta ao lado de Alfredo, e a quem ele é muito grato. Hoje bem estabilizado e com uma família constituída (a esposa Jody Mitchell e as filhas Wailani & Imehana) ao seu lado, Alfredo agradece a Deus por tudo ter acontecido dessa forma. E claro em especial ao posto de salva-vidas de Ho’okipa e amigos.

A menos de 3 milhas de Ho’okipa encontra-se o pequeno centro comercial de Paia, lugar onde acontecem as festas e baladas, frequentados pelos mais ecléticos tipos de pessoas. Composto por muitos bons restaurantes e bares atrativos, Paia, além de romântica, tem um ar de original e incomparável. O Bar “Charley’s” é um dos mais frequentados de Paia por apresentar música ao vivo bem eclética. Rola música havaiana, samoana, jamaicana e, claro, brasileira – algumas bandas brasileiras da Califórnia sempre passam por aqui. Paia Town sendo dúvida é um atrativo durante o dia pelos seus restaurantes e pequenas lojas, e à noite pelos seus bares e vida noturna. Um lugar fácil de cruzar com os “Brazucas” de Maui e muita gente malhada e bronzeada.

Com muito respeito à cultura havaiana e entendedor da importância da cultura brasileira, o professor Guga veio para Maui no final dos anos 90. Nascido em Caraiva, no Sul da Bahia, Guga cresceu e passou boa parte de sua vida estudando e vivendo da capoeira. Ele conta que na época de sua vinda para o Havaí, trabalhava fazendo passeios de barco próximo na área de Porto Seguro e Trancoso, além de dar aulas de Capoeira em um Centro Comunitário da região. Guga estava passando por uma fase muito difícil no Brasil e sentia que era hora de seguir novos horizontes. Foi quando escreveu uma carta para seu amigo Marcio que já morava em Maui por algum tempo e esse lhe estendeu a mão.

Pratica de esportes

Hoje com alunos de várias nacionalidades, inclusive Havaianos, Guga dar aulas de Capoeira em Paia. Aqui se prestou a ensinar uma arte um tanto quanto distante dos olhos Havaianos, mas tão presente no dia a dia de Guga. Ele é um dos únicos que se arriscou em abrir uma academia para ensinar uma arte marcial não conhecida por aqui. Professor Guga ainda lembra que existem várias dificuldades na aceitação da capoeira já que a cultura “Aloha” é muito forte e tradicionalista. Mas aos poucos vai ajudando a propagar a cultura do Brasil em Maui.

Muitos Brasileiros no Havaí chegam pelo sonho da onda perfeita, alguns pelo puro prazer de conhecer o paraíso do surf e do windsurf, outros simplesmente porque querem sentir de perto a cultura e as belezas das ilhas Havaianas de perto. Vamos falar agora um pouco da historia de um grupo muito diferente do estereótipo “surfista conectado com as ondas perfeitas e de muito relax”. São estagiários do curso universitário de agronomia que chegam a Maui de todas as partes do Brasil em busca de mais conhecimento e aprendizado.

Plantações no Havaí

A finalidade é adquirir experiência nas plantações de legumes, frutas e flores da região. Os estagiários Brasileiros entendem bem do assunto e as plantações, tratamentos e colheitas Havaianas possuem técnica apurada. Geralmente o estágio tem duração de um ano, e isso significa que todo ano tem gente vindo e indo. Esse programa tem a intenção de ajudar países com escassez de mão-de-obra nessa área, e ao mesmo tempo ajudar estudantes Brasileiros recém formados ou em último ano de curso.

O estagiário Isaac conta que por ele nunca ter saído de perto da família e por nunca ter saído do Brasil antes, a adaptação se torna mais difícil. Mas esse esforço com certeza vai render bons frutos em um futuro próximo. Isaac ainda afirma que não é qualquer um que aguenta estagiar por aqui. Argumenta que apesar do lugar ser muito bonito, o trabalho é bem duro e requer muito esforço, e ainda existem as dificuldades com uma nova língua, complementa o estagiário. Esse tipo de trabalho e programas para estagiários já é um tanto quanto antigo, mas antes predominavam os chineses.

Hoje, existem pessoas de toda parte do mundo, e o Brasil por sua vez também tem sua forte participação. Quer dizer, enviando alunos com qualificações competitivas. Isso vem fazendo com que o Brasil esteja na frente com a preferência dos donos de fazendas e lavouras Havaianas. Evandro “Dodo” que esta há mais tempo nesse programa, conta que apesar de não sobrar muito tempo, ainda consegue pegar umas ondinhas pra refrescar a cabeça. No fim de semana é só diversão, balada em Paia e Surf na Little Beach-Makena.

Uma economia baseada na praia

Saindo do Norte de Maui e passando por Kihei, falamos com o Surfista Paulistano Laerte Nena. Antigo frequentador do litoral Norte Paulista, Nena veio para Maui para surfar e de alguma forma trabalhar e viver do Surf. Coisa que não é muito fácil por aqui, já que o lugar é um paraíso de figurões do surf e seus discípulos. Já bem conhecido por aqui e ainda sem patrocínio, ele menciona que tem que “ralar” bastante para se manter.

Apesar da vida que leva ser bem parecida com a do Brasil, as coisas são bem mais caras, e aparece uma dificuldade nova a cada dia, complementa. Nena que trabalha na Construção Civil há mais de 2 anos, trabalhou no Brasil com vendas e com outros trabalhos que não se relacionava com o surf. Procura e espera encontrar alguma forma de estar no meio do esporte que pratica e gosta desde sua infância. Enquanto continua na luta procurando Patrocínio, ele vai se preparando para as futuras temporadas de Tow-in-Surf em Maui.

Masao tattooing 9Ainda na parte Sul da ilha, encontramos a maior loja de tatuagem de Maui – “Maui Tattoo Co” e o tatuador brasileiro Massao. Ele nos diz “vem gente de todo mundo fazer tatuagem aqui conosco…”. Sim, afinal o Havaí tem uma tradição reconhecida no mundo inteiro por suas tatuagens legendárias e simbólicas. Massao, que morava em São Paulo, cresceu trabalhando como corretor de imóveis, foi também aeroviário, até que teve seu primeiro contato com artes quando foi morar em Itararé na Bahia. Ali pintava camisetas e vendia em calçadas e feiras. Chegou na Califórnia em 1999, onde estudou por 2 anos no El Camino College em Hawthorne próximo a Los Angeles.

Trabalhou na badalada “Venice Beach” tatuando por mais 2 anos, onde aprimorou seus conhecimentos e adquiriu uma fiel clientela. Chegou a Maui no segundo semestre de 2007. Ele conta que a vibração positiva do lugar é muito forte e que aqui tudo se inspira em “Aloha”. Complementa afirmando “o clima e o astral aqui é demais. Parece mesmo clima de cidade de praia no Braza, as pessoas caminhando nas ruas só de bermuda e óculos escuro, mulherada bonita e bronzeada a vontade, clima tropical. A qualidade de vida aqui é muito superior a outros lugares que estive morando. Mar, sol e a temperatura da água agradável”. Skatista old school e freesurfer nas horas vagas, Massao chegou a Maui com o pé direito para reforçar o time dos mais talentosos artistas de Maui. Mais informações: www.instagram.com/massaotattoo

Partimos agora para a ilha do Oaho, onde está localizada a capital Honolulu, a famosa praia de Waikiki e o paraíso do surf no “North Shore” da ilha. Tivemos a oportunidade de conversar com Mestre Kinha que chegou à ilha no ano de 2000. Nascido no Rio de Janeiro, ele trabalhou como guarda municipal antes de pisar em solo Havaiano. Kinha recebeu um convite do Mestre Beiçola (Paulo Alto, CA) para ensinar e passar experiência de capoeira a um de seus principais estudantes em Honolulu. Na época o hoje Mestre Kinha passava por um momento difícil na sua vida, e não hesitou na proposta do amigo Beiçola.

Ele chegou sabendo apenas 3 ou 4 palavras de inglês e com saudades dos 2 filhos que tinham ficado no Brasil, mas focado no que tinha que fazer para superar as dificuldades – ensinar e propagar a capoeira, aprender inglês e fazer boas amizades. Há quatro anos atrás (2003) casou-se com a brasileira Carmem e um ano depois formou seu grupo “Capoeira Besouro Hawaii”. Kinha nos diz “Comecei o grupo com apenas minha esposa, três filhos que estavam aqui e três bons amigos.

Foram momentos difíceis, porém de grande proveito em minha vida, pois reforçou a minha persistência e me fez chegar e atingir a minha meta. Hoje eu tenho mais de cem alunos e dou aulas seis dias por semana em diferentes lugares na ilha”. Perguntado sobre o Brasil no Havaí, Mestre Kinha complementa “Eu costumo dizer que o Havaí é um dos estados Americanos que mais se parece com o Brasil. Por exemplo: as praias, as árvores, o clima, as montanhas e o aloha. Quando se passeia pela ilha você pode ver um pouco do Nordeste, Sudeste, Norte e Sul do Brasil. Ou seja, você ver uma praia que lhe faz lembrar o Rio, outra que lembra a Bahia, e rios que te lembra o Pará e por aí vai”. Mais informações: www.capoeirabesourohawaii.com

Alguns dos lugares onde se podem encontrar brasileiros são na famosa praia do Waikiki, já que todo primeiro sábado do mês rola uma tradicional roda de capoeira; na praia de Kaimana, ao lado do Waikiki; em um churrasco já tradicional que acontece de vez em quando na praia de Waimanalo, e claro no North Shore por causa do Surf, principalmente entre os meses de novembro e fevereiro. Durante essa época uma parada no mercadinho “Foodland” no North Shore fica fácil de escutar um ou outro falando português.

Os biquínis e as sandálias brasileiras “havaianas”, além de roupas e acessórios podem ser encontrados na loja Brazilian Show Room na Waialae Ave em Honolulu. Ali está a proprietária Nadia Ribeiro, uma mineira com sotaque cearense. Nadia antes de chegar no Havaí, Nadia viveu vários anos em Jericoacara no Ceará. Há vários anos no ramo de moda, bastante alegre e extrovertida, Nadia pisou no Havaí pela primeira vez no ano de 2000. Ela se apaixonou de cara pelo Havaí, e ficou por 10 meses dos quais 6 foram no North Shore. Regressou para Miami, e em 2003 voltou a pisar em terras havaianas dessa vez para ficar.

Nadia nos conta que pelo menos 2 vezes por ano ela organiza uma festa brasileira na frente de sua loja que é bastante badalada. Faz isso por amor com a intenção de matar as saudades do Brasil. Ali acontece, em plena rua, um batuque brasileiro, bebida e comida típica e, claro, uma integração entre brasileiros e havaianos. Se você tem saudades da comida brasileira ou de uma caipirinha, o “Tudo de Bom B.B.Q” na Kapiolani Blvd esta por ali. Se quiser comprar alguma bicicleta ou acessório, ou ainda “levar um lero” com uma personalidade brasileira bem conhecida no Oaho, a opção fica por conta da loja “Boca Hawaii” na Cooke St. em Honolulu, propriedade do esportista Raul “Boca” Torres.

No Oaho formam-se grupos musicais brasileiros, mas não permanecem por muito tempo. Do mesmo jeito rápido que eles se formam, também se desfazem com a mesma rapidez. Mas para falar de música e da cultura brasileira no Havaí nos últimos 30 anos nada melhor do que da boca de Brazil Borges, a personalidade brasileira mais conhecida do Havaí. Ele nos fala que alguns grupos se formam e se desfazem porque muitos brasileiros no Havaí estão em trânsito. E complementa dizendo “mas quando se junta dois ou três com algum instrumento termina dando samba e churrasco”.

Willion Borges, conhecido como “Brazil” desde que residiu inicialmente em São Francisco entre 1969 e 1974, é um carioca da “gema” da praia de Copacabana. Se considerando um amante da praia e da natureza, não gosta de frio e chegou aos EUA há 30 anos atrás pisando em São Francisco. Após alguns anos na terra da famosa ponte “Golden Gate” e logo depois que o amigo Cláudio do grupo “Viva Brasil” retornava de umas férias no Havaí e lhe falava das maravilhas de lá, arrumou as malas e se foi. Chegou sem conhecer ninguém, na cara e na coragem.

De lá para cá, Brazil já vendeu e fez demonstração de pipa (ou papagaio para os nordestinos), trabalhou com araras tropicais e ajudou a introduzir o “padcab” na parte turística da ilha entre outras tantas coisas. Sempre, trabalhos criativos e focalizando o turista que visita a ilha do Oaho. Um apaixonado pela música brasileira, nos falou de um novo instrumento de samba – o “xequebalde”, que esta fazendo o maior sucesso na ilha. Aliás, conta com orgulho que apenas ele possui o tal instrumento (Nov, 2007). E por falar em samba, descobrimos que Brazil é amigo de uma legenda do samba carioca e que viveu também por vários anos na ilha. Trata-se de Carlinhos Pandeiro de Ouro, personagem da velha guarda da Mangueira e que desde alguns poucos anos atrás se mudou para Los Angeles.

Por último enfocamos o surfista e artista plástico Hilton Alves, que com o apoio de algumas empresas brasileiras esta no Oaho desde Agosto (2007) implantando a continuidade do seu projeto social “Surf Art Kids”. Hilton tenta unir a arte, a diversão e a beleza dos oceanos e já tem várias de suas obras registradas nas cidades de Santos e Guarujá. Último Outubro (2007) o artista coloriu uma parede do Waialua Elementary School na ilha Havaina. Hilton que sempre busca inspiração nos oceanos para a realização de seu trabalho retratou com a ajuda de seu amigo André da Montanha, o fundo do mar com corais e golfinhos em uma parede de 3 m de altura por 7 m de largura, utilizando técnicas de air-brush.

Apaixonado pelo mar, ele surfa de pranchinha, com pranchas antigas e dá os seus drops de peito. E, claro, marca presença no North Shore Havaiano expressando toda a beleza do mundo aquático em telas, paredes e murais. Vale lembrar que a nova onda do paddle surf também já está sendo congelada nas telas. A coleção Waterman retrata imagens de stand up, e inclui também canoagem, mergulho e big surf – www.101perfectwaves.com

Segundo dados não oficiais se especula que existam entre 1300 a 2000 brasileiros no Estado Americano do Havaí, com uma maior presença durante os meses de inverno entre dezembro e fevereiro em conseqüência da temporada das boas ondas e das principais etapas do Campeonato Mundial de Surf, o WCT.

O Significado do “Aloha”

aloha 305853 960 720É uma palavra de reconhecimento internacional e que de imediato faz lembrar o paraíso mais conhecido do Pacifico: O Havaí. A palavra significa uma única mistura de beleza e generosidade, espírito e cultura, que define um dos lugares mais especiais do planeta. Definitivamente Aloha é uma expressão de amor e vida, e cada outono, mais precisamente no mês de setembro, sua gente celebra esse “Aloha Espírito” em usa maior intensidade. Se você quiser sentir essa cultura em sua maior plenitude recomendamos viajar ou estar presente no Havaí no mês de setembro. Mais informações: www.ctahr.hawaii.edu/agtourism

*Adilson é um criativo artista gráfico bem articulado na área de surf e skateboarding que viveu em Orange County na California e desde 2006 vive em Maui no Havaí. Adilson faz trabalhos de designer freelancer para a Soul Brasil magazine e pode ser contatado através do email orange-flys@hotmail.com 

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