Por Julia Melim

i006Em tudo o que esperávamos que o Brasil fosse falhar e apesar da campanha de #NãoVaiTerCopa, teve Copa do Mundo sim e o Brasil 2014 superou todas as expectativas. Nunca vi um Rio de Janeiro tão policiado, jogos no Maracanã tão bem organizados, metrôs limpos e funcionando, e pessoas do mundo inteiro visitando as diversas cidade onde os jogos estavam sendo sediados, felizes e satisfeitas. Foi um Brasil idealizado que surpreendeu a todos.

“A Copa, no seu caráter esportivo, foi muito boa – jogos de alta qualidade técnica, equipes boas e equilibradas, jogos com emoção, intensa disputa. Os estádios, aeroportos e infraestrutura básica também funcionaram bem, apesar de diversos prognósticos contrários,” diz Gabriel Shiozawa que acompanhou a Copa de perto no Rio e em São Paulo.

Além dos jogos, o Rio de Janeiro estava rodeado de eventos da Copa como o Brahma Deck no Maracanã que contou com o show do Thiago Abravanel, e o Bud Hotel em Copacabana atraindo convidados do mundo inteiro, inclusive o Ashton Kutcher e a Rihanna vieram dar o ar da graça.

Carlos Gardés que veio de Brasília para ver a final da Copa no Maracanã concorda, “A melhor parte foi a energia da cidade do Rio repleta de pessoas de todo o mundo, e a hospitalidade brasileira trazendo a certeza que a vocação turística do Brasil crescerá ainda mais com as Olímpiadas.”

No entanto, pra quem disse que foi “A Copa das Copas” não gosta de futebol, nem estava torcendo para a seleção brasileira. Nem sei o que dizer sobre a Copa. Sei que teve Copa no Brasil, aconteceu. Mas foi como um pesadelo que você acorda todo dia pensando que foi gol do Muller, e foi mesmo. A maioria dos jogos terminaram em 1X0 ou o que é pior 0X0 para irem disputar a taça nos pênaltis. E o único jogo que arrebatou de torcida de emoção, era uma emoção que a gente não queria sentir, destruindo os corações dos torcedores. Foi uma experiência traumatizante onde pais escondiam de seus filhos o que acontecia no campo, crianças choravam, e a lembrança mais forte que vai ficar foi a de um velhinho segurando a taça decepcionado pensando se ainda vai ver o dia em que o Brasil será campeão novamente. A seleção teve a pior campanha na Copa em quase 100 anos, e nunca mais vamos poder ver uma Copa no Brasil. Acho que por mais que seja divertido fazer a Copa no Brasil não traz sorte para a seleção. Se queríamos superar o Maracanazo, agora ainda temos que lembrar do Mineirazo.

“Vendo o que o Brasil vinha jogando e o que as outras Seleções jogavam, eu até esperava uma desclassificação, mas o 7 a 1 foi demais, um grande choque – era a Seleção Brasileira, que mesmo quando ia mal ainda era uma das melhores do mundo, e estava sendo trucidada, em casa,” diz Gabriel Shiozawa. “A Seleção foi pra Copa sem um esquema tático, sem formação definida, sem meio de campo armador. Faltou treino, faltou comando, faltou preparação. O esquema era tocar pro Neymar e vê o que rola. Se o camisa 10 não jogasse bem, era um martírio ver o jogo e, depois que ele se lesionou, não foi pensada nenhuma alternativa.”

Rumo ao Hexa foi o tema do jogo do Brasil contra a Alemanha, quando eles fizeram 6X0, mas já estávamos chorando desde o quarto gol. O garçom que vinha me acalmar enquanto todos assistiam ao massacre desesperador começou a chorar quando a Alemanha fez o quinto gol. É impossível falar da Copa sem lembrar do 7X1. Era como se a cada gol fosse um golpe de faca no coração, e ainda dói só de lembrar. Pamela Lacerda que acompanhou todos os jogos em São Paulo conta que imaginou que o Brasil fosse perder mas não de tanto. “Faltou um preparo psicológico porque não tinham jogadores que já tinham jogado em outras Copas, então eles não tinham estrutura emocional pra conseguir segurar o tranco e passar pela pressão de um jogo dentro de casa,” diz Pamela. E depois ainda tivemos que ver o Brasil perder de novo, dessa vez pra Holanda de 3X0 na disputa pelo terceiro lugar, mas 3X0 nem pareceu tão ruim assim depois do 7X1. A impressão que a gente tinha era que perder para a França em 1998 e ser eliminado pela Holanda não era nada. Eu sempre digo que perder a Copa é pior do que terminar um relacionamento, porque você tem que esperar mais 4 anos pra ter de novo.

“Mas segue como um legado: acabaram os jogos, as trocas de cultura, as festas, mas seguem os estádios gigantes em cidades sem times, os que perderam suas casas, e os instrumentos da repressão. Além disso, diversos ativistas ainda estão ou presos ou indiciados,” diz Gabriel.

O pior foi ver a Argentina chegar na final depois de passar por tanta humilhação no jogo do Brasil e da Alemanha. Os Argentinos invadiram o país e tomaram conta de todas as cidades onde o Brasil estava jogando. “Os torcedores mais animados eram os Argentinos, e também eram os mais chatos,” diz Pamela Lacerda. “Também faltaram pessoas que falavam inglês nos estádios porque tiveram muitos estrangeiros que não sabiam o que fazer.”

Não adianta botar a culpa na Dilma; aliás eu acho uma maldade contra o próprio brasileiro não deixar a gente vivenciar a Copa, e não querer que o Brasil jogue e ganhe por razões políticas. Eu nunca vi em nenhum país do mundo uma torcida contra o seu próprio time. O povo deveria saber votar independente da seleção chegar na final ou não, mesmo se ganhasse Copa. Bom não precisamos nos preocupar com isso pelo menos por mais 4 anos e espero que o Brasil consiga se classificar pra próxima Copa.

Todos concordam que a Alemanha ganhou merecidamente a Copa, ficando agora com 4 títulos e chegando um pouco mais perto do Brasil. Carlos Gardés conclui, “A Alemanha definiu claramente sua meta, fez seu planejamento estratégico para ganhar o Mundial; o selecionado alemão desenvolveu um trabalho de longo prazo com a mesma equipe e mesmo técnico. O resultado é que todos se conhecem, entendem um ao outro, conhecem as regras e processos de dentro e fora de campo e cumprem seu papel sem improvisações.”

A seleção brasileira que antes estava em terceiro lugar no Ranking da FIFA, passou para sétimo, com Alemanha, Argentina, Holanda, Colômbia, Bélgica e Uruguai a sua frente. Ainda aguardamos o dia em que o Brasil vai nos mostrar o futebol arte do qual tanto nos orgulhamos e agora só vive na lembrança, e nos resta aguardar até 2018.

Juliana Zanon que é brasileira, mas mora em Miami, veio para o Rio também para a final da Copa do Mundo, “A Copa do Brasil foi a melhor coisa pras pessoas que vieram de fora e experimentaram a alegria do brasileiro. Todas as pessoas elogiavam que o povo era muito feliz, mesmo depois que o Brasil perdeu passaram a torcer pros outros times (obviamente contra a Argentina). Eu acho que todo mundo foi embora muito feliz do Brasil.” Embora o Brasil não estivesse na final, ela diz que ainda assim foi a melhor experiência na Copa porque une pessoas de todo o mundo.

Independente da Copa ser no Brasil ou não, o país parou completamente. Essa é uma das vantagens de ser brasileiro, a paixão que temos pelo futebol, e por sermos um povo tão apaixonante sabemos viver intensamente. Qualquer pessoa de outro país de passagem pelo Brasil percebe que esta é uma qualidade única, e por isso tantas pessoas se apaixonam pelo Brasil. Só o brasileiro não percebe como vivemos num país incrível mesmo com todos os altos e baixos, somos um povo que grita, chora e se emociona.

 

* Julia Melim é apresentadora, escritora e produtora. A catarinense vive entre as cidades de Los Angeles, Miami, NYC e Las Vegas – www.juliamelim.com 

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