Por Lindenberg Junior

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Community College do Bronx, em Nova York

No Brasil, estamos acostumados a termos a opção de uma possível entrada em uma universidade federal ou mesmo estadual com custo zero para o aluno. No entanto, nos Estados Unidos é bem diferente, e não existe opção a custo zero. Nos últimos anos, a ideia fornecer essa opção se popularizou com mais ênfase em ideias ou programas de governos de políticos como Bernie Sanders. Este, por sua vez, se depara com opositores que argumentam que um programa nacional de faculdade gratuita seria extremamente caro para o país do Tio Sam. 

Ao tornar todas as universidades públicas gratuitas, seria possível economizar mais à frente com o grande custo que os Estados Unidos têm com programas de ajuda a muitos americanos em dificuldades e, em parte, por não estarem bem preparados para o mercado de trabalho. Também seria possível ver mais famílias de baixa renda com filhos com graduação universitária. Alguns especialistas acreditam que o custo é, atualmente, o principal motivo de tantos alunos não conseguirem concluir um curso superior de quatro anos.

Por outro lado, alguns especialistas no assunto argumentam que a fraca qualidade no ensino de muitas universidades ou faculdades e a falta de preparação de muitos alunos no final do ensino médio candidatos à admissão poderia ser um fator preocupante. Se esse fator tiver peso, segundo esses mesmos especialistas, o ensino superior gratuito acabaria sendo uma decepção cara, e não muito diferente de um complicado corte de impostos que flui apenas para famílias com filhos em idade universitária.

Na última semana de setembro (2020) uma equipe de economistas pesquisadores — Joshua Angrist e David Autor da M.I.T. e Amanda Pallais, de Harvard, divulgou um estudo que oferece algumas das melhores evidências iniciais (em inglês) sobre o assunto. 

O tema é importante devido à importância de diplomas universitários, os quais têm influência no desempenho de economias de diversos países ao redor do mundo. Obviamente, um diploma superior não é garantia de sucesso, mas os graduados tendem a ganhar muito mais, assim como a ter uma vida mais equilibrada financeiramente do que os não graduados.college eua

Alguns anos atrás, esses três economistas, junto à Susan Thompson Buffett Foundation, criaram um ensaio clínico randomizado, como aqueles para avaliar novos medicamentos ou vacinas. Alguns alunos do ensino médio receberam uma bolsa generosa — geralmente cobrindo o custo total da faculdade, dessa respectiva fundação, enquanto outros não. Os pesquisadores então rastrearam os dois grupos.

A bolsa de estudos aumentou as taxas de graduação entre os alunos que planejavam frequentar uma universidade de quatro anos. 73% destes conseguiram a graduação, enquanto apenas  63%  dos alunos que não conseguiram a bolsa se formaram. Os ganhos foram maiores entre os alunos não brancos, alunos pobres e cujos pais nunca estiveram em uma universidade. O estudo traz relevância aos argumentos dos defensores da opção de curso superior a custo zero. 

Por outro lado, a bolsa não teve efeito evidente nas taxas de graduação em faculdades comunitárias (Community Colleges, que geralmente têm preços mais bem acessíveis), que são mais como cursos profissionalizantes de 2 anos. Isso pode ser um sinal de que a qualidade educacional é um problema maior em muitas dessas faculdades de dois anos do que as mensalidades.

Talvez, a conclusão seja que um programa nacional de “curso superior a custo zero” seria extremamente “caro” nos Estados Unidos porque os benefícios fluiriam também para alunos de alta renda, que provavelmente terminariam de qualquer maneira. Mas um programa direcionado, com foco em estudantes de baixa renda, pode ter um grande impacto, ao mesmo tempo que deixa mais dinheiro disponível para outras prioridades, como a saúde. A reflexão é válida, visto que o ensino superior americano enfrenta grandes dificuldades financeiras atualmente

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