Um estudo recente da Environment International trouxe à tona algo surpreendente, mas que pode não ser novidade para algumas pessoas: podemos estar inalando e comendo plástico sem perceber. Os danos que isso causará à saúde? Ainda é cedo para demonstrar todos.
A pesquisa testou 22 amostras de sangue anônimas e encontrou partículas de plástico em 80% das pessoas testadas – indicando que as partículas podem viajar pelo corpo e se alojar em órgãos. Essa foi a primeira vez que esse tipo de fragmento foi detectado no sangue humano.
Mas como poderíamos estar absorvendo plástico de forma inalatória ou pelas vias digestivas sem nem perceber? Bem, enormes quantidades de resíduos plásticos são despejadas no meio ambiente anualmente, e pesquisadores estimam que essa tendência vai piorar nos próximos 20 anos – de 188 milhões de toneladas em 2016 para 380 milhões de toneladas em 2040.
O que se sabe é que, anteriormente, humanos consumiam partículas de plástico por meio de alimentos e da água, em bem menor proporção, e quanto à inalação, apenas pelo ar e com microplásticos detectados nas fezes de bebês e de adultos. Mas isso mudou desde o início da do século 20 e com o rápido desenvolvimento industrial e tecnológico.
As implicações do novo estudo são ainda desconhecidas, mas os pesquisadores alertam que os pequenos fragmentos de plásticos podem causar danos às células humanas de forma preocupante já que ao serem inaladas e ingeridas são transportadas para todo o corpo.
De acordo com o estudo, metade das amostras de sangue continha plástico PET, comumente usado em embalagens e garrafas de bebidas, enquanto outro terço tinha poliestireno, usado para embalar alimentos e outros produtos. O restante das amostras continha polietileno, que é usado para fazer sacolas plásticas de compras usadas em supermercados.
Afinal, o quão ruim é para a saúde humana o plástico que ingerimos e inalamos sem perceber?
Até agora nenhum estudo publicado examinou diretamente os efeitos dos microplásticos em humanos, é o que afirma a revista científica Nature. Os únicos dados disponíveis são baseados em estudos de laboratório que mostram a exposição de microplásticos a células ou tecidos humanos, ou a animais como camundongos e ratos. Nas pesquisas, os camundongos que receberam grandes quantidades de microplásticos apresentaram inflamação no intestino delgado, diminuição da contagem de espermatozóides e menos filhotes, em comparação com os grupos de controle.
Até este momento, os níveis de microplásticos no meio ambiente são muito baixos para afetar diretamente e de forma rápida a saúde humana, observaram os pesquisadores, mas essa tendência muda e já se torna perigosa à medida que cada vez mais resíduos plásticos são despejados no meio ambiente.
Com a previsão de que a produção de plástico deva dobrar até 2040 é de suma importância que mais estudos avancem e descubram os malefícios à saúde humana da ingestão direta ou indireta destes micro fragmentos.
No Reino Unido, 80 ONGs e cientistas pediram ao governo que invista £15 milhões para pesquisar os efeitos dos microplásticos na saúde humana. A União Europeia já está incentivando esse tipo de estudo e tem financiado pesquisas semelhantes.
“A grande questão é o que está acontecendo em nosso corpo?”, se questiona Dick Vethaak, ecotoxicologista da Vrije Universidade de Amsterdam, na Holanda, e principal pesquisador do estudo sobre fragmentos de plástico. “As partículas ficam retidas no corpo? São transportadas para certos órgãos, como pela barreira hematoencefálica? E esses níveis são suficientemente altos para desencadear doenças? Precisamos urgentemente financiar mais pesquisas para que possamos descobrir”, complementou Vethaak, em uma entrevista ao portal The Guardian.
Tão importante quanto descobrir seus malefícios ao corpo humana é ter consciência que todo o planeta precisa se livrar do plástico que consome e descarta na natureza. Esse material leva muito tempo para se degradar e, à medida que continuamos a desperdiçá-lo, mais microplásticos continuarão a ser ingeridos por humanos.
Não é possível filtrar o plástico do corpo humano, afirmou Jo Royle, da Universidade Estadual de Nova York, ao Guardian. Ela conduziu as análises da água da torneira e avaliou, no estudo, que mesmo a água que passa por filtragem ainda tem plástico. Como ele é um contaminante onipresente, apenas com a mudança dos nossos hábitos diários e a redução do seu consumo vamos ter uma boa previsão para o futuro do planeta e da nossa saúde.
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