Por Alberico Manoel
Engana-se quem vem a Salvador e acha que aqui vai encontrar em termos musicais, apenas o Axé Music, termo proveniente do samba-reggae que nasceu dos movimentos afro-baianos para representar a sua cultura e expressão entre corpo e dança. A cidade soteropolitana oferece a sua população recitais de músicas, entre o lírico e clássico alternando entre a MPB e outros estilos musicais.
Apesar de ser a terra do Axé e do pagode, Salvador vem diversificando sua estrutura musical. Têm surgido alguns espaços alternativos para apreciadores de diferentes estilos musicais. As pessoas podem assistir a shows de qualidade desde o erudito passando pelo popular até o rock-pop. Os espaços alternativos têm crescido em virtude do movimento da democratização dos espaços públicos e da troca de poder que está permitindo novas aberturas aos espaços culturais da cidade, embora muito sucintamente para a população soteropolitana.
A professora de canto da UFBA Marilda Costa afirma ainda faltar mais investimento em divulgação e suporte, principalmente em relação aos instrumentos musicais nos espaços que já existem para a música clássica e erudita. Hoje, além do Teatro Castro Alves, apenas dois espaços (Palácio da Aclamação e o Museu de Arte Sacra) possuem estrutura suficiente já que para esses estilos musicais a acústica do local e um instrumento básico como um bom piano para acompanhar o cantor lírico ou o coral é de suma importância.
Certo dia quando entrei pela portaria da escola de música da UFBA, me deparei com uma cena curiosa. Um garoto de cor clara, cabelos castanhos, usando óculos com perfil emblemático aparentando ter 10 anos, estava ansioso a espera da professora de canto e de sua respectiva aula de música. Ele ligou para o pai reclamando que a professora não tinha chegado. Depois de alguns minutos de espera a professora chega e o garoto sorri em um sintoma de alivio. Infelizmente algumas crianças com interesse em música não possuem a mesma sorte de ter acesso a aulas de música, mas as esperanças são boas em virtude dessa nova onda cultural.
Lugares históricos estão abrindo as suas portas para essa diversificação musical da Bahia, mas o acesso ainda é de poucos. Lugares como o Palácio da Aclamação, no Campo Grande; a Reitoria e a Escola de Música da UFBA, no Canela; a Catedral Basílica de Salvador, no Pelourinho; o Museu de Arte Sacra, na 2 de Julho; e o eixo cultural do Rio Vermelho, são considerados hoje um espelho da policultura musical e diversificação dos estilos musicais.
O estudante de música da UFBA, Moises Mendes, diz “o que falta é uma estrutura musical adequada. Os estudantes passam quatro anos na universidade e depois saem e não encontram oportunidades. Muitos terminam largando a música e seguindo outra profissão”. O estudante Fabrício Dallas Veccio contrapõe o argumento de Moises dizendo “musica é paixão e quem tem amor por ela enfrenta os desafios e tenta a superação” indaga Dallas.
Chegamos a um lugar com muito verde, belas esculturas, árvores, prédios e uma sala grande com uma boa acústica reservada especialmente para shows. Quem olha de frente no local fica inebriado com tanta beleza. Um casarão arquitetônico do século antigo reservada para a música de qualidade. Esse lugar que se encontra entre a natureza e os altos prédios da metrópole em seu entorno, chama-se Palacete das Artes, antigo museu Rodin. Para a cantora Stella Maris, ganhadora do troféu Caymmi como melhor interprete em 2005 e também ganhadora do Festival da Educadora novamente como melhor interprete, essa é uma boa oportunidade do artista mostrar seu trabalho.
Nessa cidade bela, com belezas naturais incontestáveis, quando observada de cima parece uma cidade em cima de outra cidade. Desorganizada, desestruturada e sem uma administração que beneficie a sua estrutura cultural. Assim é Salvador. A terceira maior metrópole brasileira. A sexta economia do país com uma péssima distribuição de renda e um alto índice de desemprego. Sustentar uma política cultural com essas estatísticas da sociedade baiana é quase impossível.
Primeiro a população não tem acesso aos meios culturais da cidade devido a falta de informação em um estilo mais popular, segundo pelo grande índice de desemprego, e terceiro pela falta de uma política voltada para o crescimento da cultura local. Por exemplo, como uma metrópole do tamanho de Salvador não tem condições de dar a população o direito de transporte público durante as noites e uma política de segurança pública efetiva?
O crescimento populacional talvez explique essa tendência desordenada das metrópoles no mundo em que vivemos hoje. E é por isso que a cultura encontra-se falha. Ainda não se encontrou uma direção. Em contra posição, a cultura em países desenvolvidos movimenta bilhões de dólares. A cultura se movimenta em si em torno desses valores. E por que não direcionar a cidade de Salvador para essa realidade mundial?
Salvador é uma cidade que tem em sua cultura fortes pilares que condizem com seu cotidiano. Uma boa realidade pode ser a mudança de conceito e a visão do povo baiano de sua própria cultura e de como isso pode ser abrangido de uma forma mais rápida e efetiva entre a população.
Facebook Comments