Por Lizoel Costa
A MPB nasceu da mistura entre a modinha portuguesa e o lundu africano promovida por Chiquinha Gonzaga.
A Música Popular Brasileira – a famosa MPB – tem suas raízes fincadas no final do século XIX e início do século XX. Foi nessa época que nomes pioneiros como Chiquinha Gonzaga começaram a moldar um estilo que nascia do encontro entre a modinha portuguesa e o lundu africano. Essa fusão criou uma sonoridade cheia de balanço, malícia e identidade própria, desafiando as rígidas convenções sociais das festas e salões da época.
O Primeiro Samba e o Surgimento de uma Identidade Brasileira
Em 1917, Ismael Silva ajudou a acender uma revolução musical ao apresentar o arranjo de “Pelo Telefone”, considerado o primeiro samba gravado oficialmente. Composto por Donga e Mauro de Almeida, e interpretado por Bahiano, o samba consolidou um padrão rítmico totalmente brasileiro – mais distante das heranças europeias e africanas e cada vez mais marcado pela criatividade popular.
Assim como o blues nos Estados Unidos, os primeiros cantos brasileiros carregavam uma melancolia ancestral, consequência da repressão religiosa e cultural que tentava impedir a expressão africana através dos tambores. Com o tempo, os cultos afro-brasileiros passaram a ser tolerados por setores da Igreja Católica, criando um sincretismo único que impregnou a música produzida nas senzalas e nas cidades.
Do Samba à Era de Ouro do Rádio
Ao longo do século XX, a música brasileira floresceu em diversas direções. Artistas como Sinhô, Pixinguinha, Noel Rosa, Geraldo Pereira, Assis Valente e Ary Barroso ajudaram a definir a estética musical nacional. Vozes como Mário Reis e Orlando Silva, além do carisma global de Carmen Miranda, expandiram a presença da música brasileira no imaginário internacional.
Os anos 1950 marcaram a Era de Ouro do Rádio, que pavimentou o caminho para a chegada de um dos movimentos mais influentes de todos os tempos: a Bossa Nova. Embora João Gilberto rejeitasse o termo “samba-jazz”, sua batida suave e sua forma de cantar revolucionaram a maneira de fazer música no Brasil.
Foi com a Bossa Nova – e não com o estilo carnavalesco difundido por Hollywood — que a música brasileira conquistou prestígio internacional. Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Johnny Alf, Carlos Lyra e Roberto Menescal se tornaram verdadeiros embaixadores da música brasileira no mundo.
Tropicália: A Revolução dos Anos 60
Na década de 1960, festivais musicais dominavam o Brasil — verdadeiras competições, e não encontros como Woodstock. Foi nesse cenário que surgiu a Tropicália, movimento que uniu guitarras elétricas, psicodelia, crítica social e uma visão ousada de brasilidade. A atitude inovadora de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil chocou os mais conservadores e transformou a música brasileira para sempre.
MPB, Resistência e o Período da Ditadura
Durante os anos 1970, a música brasileira se tornou sinônimo de resistência política. Ícones como Chico Buarque, Elis Regina, Maria Bethânia, Gonzaguinha e o coletivo do Clube da Esquina, liderado por Milton Nascimento, traduziram em letras e melodias um sentimento coletivo de esperança, coragem e contestação.
Os Anos 80 e o Surgimento do Rock Brasileiro
Com a abertura política, os anos 1980 trouxeram renovação criativa. A Vanguarda Paulistana revisitou tradições musicais enquanto o rock brasileiro emergia com força. Bandas como Titãs, Paralamas do Sucesso, Ira! e Legião Urbana começaram sob forte influência britânica, mas logo encontraram uma sonoridade autêntica, misturando rock com ritmos brasileiros.
Anos 90: Internet, Independência e Reinvenção
A chegada da internet nos anos 1990 transformou a indústria fonográfica e democratizou o acesso à música. Agora, não eram mais as grandes gravadoras que determinavam o que o público ouviria. Nesse novo cenário, a música brasileira resgatou suas raízes e abraçou novas fusões: samba com rock, música eletrônica com grooves nacionais e experimentações independentes.
Artistas como os Paralamas abriram caminho para uma nova geração que misturava ritmos sem preconceito, refletindo um Brasil plural.
O Século XXI: Misturas, Colaborações e um Futuro em Construção
No novo milênio, a música brasileira se tornou ainda mais híbrida e diversa. Estilos antes separados agora convivem naturalmente:
- Samba com beats eletrônicos
- MPB com elementos do trap
- Pop com funk, brega e pagode
- Rock com ijexá e maracatu
- Música independente com influências globais
Vivemos um período de transição, experimental e imprevisível. Mas é justamente nesse ambiente fértil que surgem as grandes transformações culturais. O futuro da música brasileira está sendo inventado agora – e promete novas revoluções.’
* Lizoel Costa é jornalista e músico. Foi integrante do grupo “Língua de Trapo” no Rio de Janeiro. Atualmente vive em Campo Grande, Mato Grosso, onde apresenta o programa “Na Cadeira do DJ” na Regional Radio FM. Contato: lizoelcosta_terra.com.br
FAQ – Perguntas Mais Frequentes
O que é MPB?
MPB significa Música Popular Brasileira, um conjunto de estilos que mistura samba, bossa nova, ritmos regionais, jazz, rock, pop e influências contemporâneas.
Qual foi o primeiro samba gravado?
“Pelo Telefone”, registrado em 1917, é considerado o primeiro samba gravado oficialmente.
Por que a Bossa Nova é tão importante?
A Bossa Nova revolucionou a música brasileira com harmonias sofisticadas e projeção internacional, tornando artistas como João Gilberto e Tom Jobim ícones globais.
O que foi o movimento Tropicália?
Foi um movimento cultural dos anos 1960 que misturou música, artes, política e contracultura, combinando ritmos brasileiros com guitarras elétricas e psicodelia.
Como é a música brasileira no século XXI?
É diversa, híbrida e influenciada tanto por tradições regionais quanto por produções independentes e ritmos modernos como funk, trap, pop e música eletrônica.
