Por Katia Moraes 

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Juliana Diniz é neta do Monarco, filha do Mauro Diniz e afilhada do Zeca Pagodinho

Mas o que é ser “nova” no mercado? “Nova” é tudo que é recente? Mas quem é que tem pouco tempo de existência nessa área? As únicas que estão gravando o primeiro CD são a Juliana Diniz e a Flavia Santana (apesar de estar na cena musical há muitos anos fazendo coro para vários artistas). Muitas caras “novas” na música popular brasileira? Muitas, mas nem todas conhecidas do público. “Na realidade as coisas continuam as mesmas e o mercado está nas mãos de uns poucos já bastante conhecidos”, diz Denise Prado da 100% Produções de São Paulo.

Sim, ainda existem mais mulheres que homens no Brasil. E, apesar da quantidade estar se equilibrando, dizem que por volta de 2050 serão seis milhões a mais do que eles. Sendo assim, nada mais natural do que o “florescer” de novidades femininas na cena musical. Paula Santoro, Nila Branco, Lucila Novaes, Flavia Santana, Paula Lima, Simone Guimarães, Tati Quebra Barraco, Vanessa da Matta, Lucila Novaes, Consuelo de Paula, Isabela Taviane, Karyme Hass, Rebeca Matta, Juliana Amaral, Monica Tomasi, Laura Finocchiaro, Kátia B, Virgínia Rosa, Juliana Diniz, Lu Horta.

Na área da MPB tem a cantora paulistana Monica Salmaso que está lançando seu quarto CD chamado “Iaiá”. Monica ganhou notoriedade em 97 com o prêmio Sharp de Revelação do Ano. Simone Guimarães é outra artista da Biscoito Fino que lançou seu quinto CD em 2003. A cantora e compositora surgiu em 96 quando recebeu duas indicações pro prêmio Sharp. Você sente a vibração de Milton Nascimento, das toadas e das modas de viola na sua música. Lucila Novaes também cita Milton como uma de suas influências.

Ela gravou dois CDs, o último lançado pela Lua Music, chamado “Claridade”. Paula Santoro, cantora mineira, é a única que está no primeiro CD produzido por Rodolfo Stroeter. Consuelo de Paula, outra cantora mineira, gravou dois CDs, um deles pela Dabliú Discos. Ela é conhecida como pesquisadora do folclore regional, especialmente congadas.

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Tati Quebra Barraco é funkeira nascida no Rio de Janeiro

Apesar da grande quantidade de nomes que encontrei na minha pesquisa, o catálogo de algumas gravadoras como a Trama de São Paulo (de acordo com o site oficial) apresenta um número maior de músicos homens. A Trama tem 30 artistas nacionais dentre os quais quatro são mulheres: Elis Regina, Gal Costa, Fernanda Porto e Patrícia Marx. No final das contas, somente duas são caras novas pra parte dos 180 milhões de brasileiros. A Universal Music (formada pela união da Polygram com a Seagram canadense e a franco-americana Vivendi), tem mais ou menos 26 artistas com dez mulheres com carreiras solo. Engraçado notar que a Universal finalmente contratou a primeira artista de samba!

Mas botando de lado esse papo hormonal, o mais importante é ver as mulheres se expressando cada uma no seu estilo. A baiana Sylvia Patrícia tem um som pop rock e faz shows pelo Brasil e na Espanha, onde passou a maior parte de 2005. Ela criou seu próprio selo e toca na rádio Nova FM. “Essa rádio só toca MPB e acaba sendo uma porta de entrada para os ‘novos’ artistas”, explica a produtora Denise Prado. Nila Branco é o rock de Minas passando por Goiânia. Ela tem 15 anos de estrada e três CDs gravados. Apesar de estar na EMI, tudo que está conseguindo é através da sua própria produção. “As gravadoras hoje no Brasil atuam muito pouco”, diz Denise.

A talentosa curitibana Karyme Hass também está na EMI mas só começou a tocar no rádio depois que o produtor Poladian de São Paulo mexeu os pauzinhos. Ou seja, padrinho, pra variar, continua sendo muito importante. Juliana Diniz é neta do Monarco, filha do Mauro Diniz e afilhada do Zeca Pagodinho. Mas na categoria de pagode, ainda não há nenhuma moçoila. A Emi Music tem uns 39 artistas nacionais no seu cast. Quantas mulheres com carreira solo? Umas dez. Novas? Uma ou duas. A única que equilibra melhor os hormônios é a Biscoito Fino.

Tati Quebra Barraco é uma mulher que saiu da Cidade de Deus e virou funkeira. Ela fala da realidade da favela e das condições em que vive. Como diz Denise: “Aqui no Brasil está uma febre esse negócio. Tati esteve até na França a convite do ministro Gilberto Gil”. Eu senti uma frustração nas palavras de Denise falando de Tati especialmente porque ela acha injusto que outras mulheres não estejam aparecendo mais na mídia, como por exemplo a Patricia Marx, que está no mercado musical desde os 7 anos de idade.

A cantora e compositora começou com o “Trem da Alegria” em 83 e agora tem sete discos, sendo que dois gravados pela Universal com produção de Nelson Motta. A imprensa na Europa a compara com Bebel Gilberto e Fernanda Porto.

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Laura Finocchiaro foi a pioneira em misturar MPB com eletrônico

Mas quem foi a pioneira nessa onda de misturar MPB com eletrônico foi a gaúcho-paulistana Laura Finocchiaro. “Ela já faz isso há muito tempo mas não teve a empatia que a Fernanda conquistou na mídia (ela recebeu uma indicação para o Latin Grammy em 2003). A Laura ficou muito no gueto com a questão de ser lésbica e acho que houve preconceito com relação a isso.” Nas palavras de Denise, “agora é mais fácil depois que as novelas começaram a abordar o tema e mostrar de uma forma mais romântica a questão da homossexualidade”.

No final das contas, fica parecendo que ser “nova” é uma estratégia de lançamento que abrange o país inteiro. O trabalho da Laura Finocchiaro, Patricia Marx, Katia B, Sylvia Patricia, Fernanda Porto, Monica Tomasi e de outras mulheres criativas dentro e fora do Brasil tem um ar de novidade porque ainda não atingiu o público merecido. Será que a paixão pela música que acorda com elas diariamente faz com que encarem tudo com senso de humor? Duvido. O certo é que o sucesso pra muitas delas chega mais fácil quando elas olham pra tudo como um processo de renascimento. Nesse sentido todas podem ser consideradas “novas”. E parabéns para Luciana Souza que pela segunda vez foi indicada para o Grammy!

* Katia Moraes é cantora, compositora e artista carioca. Ela é colaboradora de longa data da revista Soul Brasil e vive em Los Angeles desde 1990. Para saber mais sobre ela, visite: www.katiamoraes.com

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