Por Kátia Moraes

memorial 863327 960 720Fiquei ali olhando pro World Trade Center sentindo um silêncio por dentro. Quase todas as pessoas estavam em silêncio. O único barulho vinha do tráfego da Church St. O céu estava nublado e uma chuvinha caía nos turistas que liam as placas colocadas nos muros de arame em volta de onde estavam as Twin Towers. As placas davam a história dos prédios e a lista dos nomes das pessoas que faleceram. Os vendedores da Fulton St. sussurravam o preço das camisetas que estavam vendendo quando as pessoas passavam.

Eu achei que estava tudo errado. Que ninguém deveria estar ali com suas câmeras e suas curiosidades. E que todos estavam desrespeitando alguma coisa. Liguei pro meu marido do celular e contei o que estava sentindo. Estar ali era importante para me lembrar o que os atos de radicalismo fazem com a raça humana.

A exibição ” O Ciclo Cremaster” de Matthew Barney no Guggenheim foi uma viagem. A exibição inclui esculturas, pinturas, desenhos, fotografias e cinco filmes longa-metragens que exploram o processo criativo. Que experiência abstrata! Minha visita à St. Patrick Church foi um presente prá minha mãe que mora no meu coração. É um lugar incrível. Eu já tinha visto da rua mas ela é especial por dentro. Minha visita ao Lincoln Center e ao Metropolitan Opera House também foi maravilhosa. Fiquei feliz de saber que o Carlinhos Brown e outros artistas brasileiros que não são tão conhecidos (Selma do Coco, Lactomia, Mundo Livre S/A, Vanildo de Pombos, Mestre Ambrosio, DJ Dolores e Orchestra Santa Massa, Mestre Salustiano e Timbalada) vão se apresentar em julho. O show se chama, “Brasil: Além da Bossa”.

new york 993593 960 720Comi super bem no Elaine’s, um restaurante italiano tradicional que fica em Uptown Manhattan e onde o Robert Altman e Lou Lombardo (editor de muitos filmes dele) costumavam se encontrar. O lugar tem muita história prá contar e provavelmente estaria cheio de homens fumando charutos se não fosse a nova lei contra o fumo nos restaurantes. Acho que as pessoas não estão gostando muito dessa lei em Nova York. Meu estômago ficou muito contente com a comida do restaurante francês Balthazar. Me lembrou muito a Colombo, um restaurante tradicional no centro da cidade do Rio onde muitos artistas gostavam de ir no início do século XX. Infelizmente não tive tempo de comer no Sushi Samba. Será que no final da noite umas tainhas peladas dão um show de samba?

Assisti a uma banda de 10 pessoas no Café Wha depois do meu show no Sounds of Brazil com o Latin Project. O guitarrista começou tocando Brasileirinho e Noites Cariocas na guitarra baiana. Também tive o prazer de ouvir a voz de Barbara Mendes. Vi muita gente legal, incluindo o brasileiro DJ True que conheci na conferência de Dance Music em Miami. Só fiquei triste de não ter ido ao Cielo, um clube de música eletrônica que dizem ter um som maravilhoso.

St Patricks cathedral NY

Catetral Saint Patrick em Manhhattan

A selva de concreto é muito atraente, mas me sinto em paz na Califórnia. Eu ficaria deprimida vivendo naquele pique e no meio de tantos prédios. Ao mesmo tempo, a variedade e qualidade do entretenimento oferecido em Nova York não chegam aos pés do que Los Angeles pode oferecer. Enquanto eu andava pelas ruas da Big Apple eu pensei no quanto eu gosto de estar perto da natureza. As montanhas, o oceano e o espaço aqui de Los Angeles me confortam e diminuem a minha ansiedade. Por outro lado, as pessoas em Nova York parecem ter muito mais senso de humor. Elas não se levam tão a sério. Eu tenho a impressão que elas entendem melhor os seres humanos por interagirem com muita gente o tempo todo. Caetano escreveu uma canção sobre São Paulo que diz: “É que Narciso acha feio o que não é espelho”. Talvez eu esteja tendo um ataque narcisista.

* Katia Moraes é cantora, compositora e artista carioca. Ela vive em Los Angeles desde 1990 e é uma colaboradora de longa data da Soul Brasil. O artigo foi editado do original escrito poucos anos depois do triste episódio de 11/7 – www.katiamoraes.com

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