A perda de peso observada foi superior à registrada em medicamentos como Ozempic e Wegovy

A perda de peso observada foi superior à registrada em medicamentos como Ozempic e Wegovy

A farmacêutica norte-americana Eli Lilly anunciou nesta quinta-feira (11 de dezembro de 2025) resultados positivos de um estudo clínico avançado com a retatrutida, um medicamento experimental para obesidade. Segundo a empresa, os participantes que receberam a dose mais alta do fármaco apresentaram a maior perda média de peso já registrada entre medicamentos dessa classe, superando resultados observados com tratamentos atualmente populares, como Ozempic e Wegovy.

Os dados fazem parte do estudo global de Fase 3 TRIUMPH-4, que avaliou adultos com obesidade ou sobrepeso e osteoartrite no joelho, sem diabetes. Em 68 semanas de acompanhamento, pacientes que utilizaram retatrutida 12 mg perderam, em média, 28,7% do peso corporal, o equivalente a 32,3 quilos (71,2 libras). No grupo placebo, a redução média foi de apenas 2,1%.

Segundo a empresa, alguns participantes perderam tanto peso que decidiram abandonar o estudo por conta própria. “É incrível”, afirmou Dra. Caroline Apovian, codiretora do Center for Weight Management and Wellness do Brigham and Women’s Hospital. “Agora, temos um medicamento que rivaliza com os benefícios de perda de peso da cirurgia.”

Além da perda de peso, o estudo também apontou melhora significativa na dor e na função física associadas à osteoartrite do joelho. A pontuação de dor medida pelo índice WOMAC foi reduzida em até 4,5 pontos, o que representa uma diminuição média de 75,8%. Mais de 1 em cada 8 pacientes tratados ficou completamente livre de dor no joelho ao final do estudo, percentual superior ao observado no grupo placebo.

De acordo com Apovian, a estratégia da Eli Lilly parece estar direcionada principalmente a pessoas com obesidade severa, ou seja, com índice de massa corporal (IMC) acima de 35 ou 40. A própria companhia informou que 84% dos participantes do estudo tinham IMC acima desse patamar.

Como funciona a retatrutida

A retatrutida é um agonista triplo que atua simultaneamente nos receptores hormonais GIP, GLP-1 e glucagon, mecanismos ligados à regulação do apetite, do metabolismo e do gasto energético. O medicamento é administrado uma vez por semana e ainda está em fase de investigação, sem aprovação para uso comercial.

De acordo com a Eli Lilly, os resultados reforçam o potencial do fármaco para tratar pacientes com obesidade associada a outras condições clínicas. “Pessoas com obesidade e osteoartrite no joelho frequentemente convivem com dor e mobilidade reduzida, podendo eventualmente necessitar de uma artroplastia total do joelho”, afirmou Kenneth Custer, Ph.D., vice-presidente executivo e presidente de Saúde Cardiometabólica da Lilly.

O medicamento também mostrou melhora significativa da dor em pacientes com osteoartrite no joelho

O medicamento também mostrou melhora significativa da dor em pacientes com osteoartrite no joelho

O analista Evan Seigerman, do BMO Capital Markets, estimava que o medicamento apresentaria uma perda média de peso entre 20% e 23%, além de uma redução de pelo menos 50% na dor no joelho. Após o anúncio, as ações da Eli Lilly subiram mais de 3%. Segundo a empresa, mais de 1 em cada 8 pacientes ficou completamente livre da dor no joelho ao final do estudo.

“Estamos otimistas com os resultados do estudo TRIUMPH-4, que destacam o poderoso efeito do retatrutide, um triplo agonista inédito, sobre o peso corporal, a dor e a função física”, completou.

Efeitos adversos e segurança

Assim como outros medicamentos da classe das incretinas, a retatrutida apresentou efeitos colaterais principalmente gastrointestinais. Entre os eventos adversos mais comuns estiveram náusea, diarreia, constipação, vômitos e diminuição do apetite, com maior incidência nas doses mais elevadas. As taxas de interrupção do tratamento por eventos adversos variaram entre 12,2% e 18,2%, dependendo da dose, contra 4% no grupo placebo.

A empresa informou que as taxas gerais de descontinuação foram semelhantes entre os grupos e que muitos casos estiveram associados à percepção de perda de peso excessiva, especialmente em pacientes com IMC inicial muito elevado.

Disputa bilionária no mercado de obesidade

A retatrutida marca a entrada da Eli Lilly em uma nova fase da disputa bilionária no mercado de medicamentos para obesidade. O fármaco, conhecido como “triple G”, atua de forma inédita ao imitar três hormônios reguladores da fome — GLP-1, GIP e glucagon —, enquanto os tratamentos atuais agem em apenas um ou dois desses mecanismos. A empresa aposta no medicamento como o próximo pilar de seu portfólio, ao lado do Zepbound e de um comprimido ainda em desenvolvimento, embora ainda não haja previsão de lançamento comercial.

A estratégia é considerada central para que a Lilly mantenha a liderança frente à Novo Nordisk em um mercado que pode alcançar cerca de US$ 100 bilhões até a década de 2030, segundo analistas. Enquanto a Lilly avança com estudos de fase final, a rival dinamarquesa tenta reagir e anunciou, em março, um acordo de até US$ 2 bilhões por um medicamento experimental chinês com abordagem semelhante, ainda em estágio inicial. 

A Lilly espera divulgar resultados de mais sete estudos de Fase 3 até 2026, o que deve definir o posicionamento definitivo da retatrutida nesse cenário cada vez mais competitivo. Os resultados detalhados do TRIUMPH-4 ainda serão apresentados em congresso médico e publicados em revista científica revisada por pares.

Lembramos que a retatrutida ainda está em fase de testes e não está disponível para prescrição fora dos estudos clínicos. Nenhum medicamento experimental deve ser utilizado sem orientação médica e aprovação das autoridades sanitárias.

FAQ – Perguntas frequentes

1. O que é a retatrutida, novo medicamento da Eli Lilly?
A retatrutida é um medicamento experimental de aplicação semanal que atua em três receptores hormonais (GIP, GLP-1 e glucagon) e está sendo estudado para o tratamento da obesidade e doenças associadas.

2. Quanto peso os pacientes perderam no estudo?
No estudo TRIUMPH-4, participantes que receberam a dose de 12 mg perderam, em média, 28,7% do peso corporal em 68 semanas, o equivalente a cerca de 32 quilos.

3. A retatrutida é melhor que Ozempic e Wegovy?
Os resultados indicam uma perda de peso média maior do que a observada em estudos com medicamentos atualmente disponíveis, mas a comparação direta depende de análises clínicas adicionais.

4. O medicamento já está disponível para uso?
Não. A retatrutida ainda está em fase de testes clínicos e não foi aprovada por autoridades regulatórias como FDA ou Anvisa.

5. Quais são os principais riscos e efeitos colaterais?
Os efeitos mais comuns incluem náuseas, diarreia, constipação, vômitos e redução do apetite. O uso deve ser feito apenas sob supervisão médica, quando aprovado.