Por Laís Oliveira
_Já são 94 anos de Oscar (completados em 2022) e a representatividade latina na premiação segue sendo questionada. Na verdade, a edição de 2018 ficou marcada como a que mais obteve nominações latinas na história da academia, ainda assim com um número baixo de premiados.
O primeiro ator latino a ser indicado para o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, por exemplo, foi José Ferrer, ator porto-riquenho, com o filme Joan of Arc (1948) — sendo também indicado dois anos depois para o prêmio de Melhor Ator pelo seu papel no filme Cyrano de Bergerac (1950) —, e o primeiro diretor, foi o brasileiro Héctor Babenco, indicado para o prêmio de Best Director (Melhor Diretor), apenas em 1965, pelo filme O Beijo da Mulher Aranha (1985). José Ferrer levou o prêmio em 1951, mas Héctor Babenco nunca conseguiu uma estatueta do Oscar.
Nas últimas décadas houve um avanço na participação latina e negra no evento, seja como jurada, na produção ou mesmo concorrendo a prêmios, tudo isso decorrente do intenso debate acerca da representatividade em tela.
Graças a essas movimentações vindas não somente dos próprios atores, diretores e produtores, mas também do público, que responde nas bilheterias, na internet, criticando nas redes sociais e em grandes movimentos pela arte e liberdade de expressão, cada vez mais a pressão sobre os estúdios e produtoras americanas – em especial de Hollywood – aumenta e eles buscam diversificar, mesmo que minimamente, seu quadro de profissionais.
Mas pouquíssimos são os produtores, diretores e atores latinos – esse número cai ainda mais quando falamos de latinos negros – que levam estatuetas para casa pelo reconhecimento do seu trabalho na sétimar arte americana.
Na edição de 2022 do Oscar, a 94ª, que aconteceu no dia 27 de março, uma latina entrou para a história da premição. Ariana DeBose foi a primeira mulher negra, latina e assumidamente queer a ganhar um Oscar na história da academia.
Gênero-queer ou genderqueer é uma identidade de gênero não-binária, ou seja, que não se identifica como do gênero masculino ou feminino, independentemente do gênero ou sexo atribuído ao nascer.
Ariana levou o prêmio pelo remake de “Amor Sublime Amor” e bateu suas concorrentes Jessie Buckley, Judi Dench, Kirsten Dunst e Aunjanue Ellis na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.
No longa, Ariana interpreta Anita, um papel que foi representado por Rita Moreno no filme original, em 1961. Um curiosidade interessante é que Rita Moreno também é latina, nascida em Porto Rico, e também levou o oscar pela mesma interpretação na primeira versão do filme.
Em 2020, com o avanço dos debates acerca da falta de representatividade negra e latina no Oscar, em quase um século de evento, a produção decidiu mostrar que está disposta a mudar esse cenário, mesmo que a passos lentos.
Nos últimos três anos, por exemplo, houve a adição de 819 novos membros de 68 nacionalidades diferentes na Academia de Hollywood. Entre os novos membros, 36% são de minorias étnicas pouco representadas, incluindo seis brasileiros.
Mas ainda há muito o que caminhar. De acordo com um levantamento da Universidade do Sul da Califórnia (USC), 73,7% dos personagens com diálogo ou nome nos filmes com maior bilheteria entre os anos de 2007 e 2018 nos EUA eram brancos. Já a porcentagem de produtores e diretores latinos nos filmes de maior bilheteria não passava dos 4%.
Por esse motivo, grandes feitos como o da atriz Ariana DeBose devem ser aclamados e servir como um pedido de atenção da comunidade latina à academia americana de cinema: “Nós estamos aqui, temos talento, podemos competir com americanos e merecemos reconhecimento”.
Outro nome vindo de Porto Rico que tem se destacado na sétima arte americana é Lin-Manuel Miranda. O ator e cantor porto-riquenho se transformou no queridinho de Hollywood e um dos principais nomes da indústria da atualidade. Ele já venceu alguns dos prêmios mais importantes do mundo (como o Emmy, o Grammy e o Tony) e tem trabalhado com gigantes como a Disney, a Warner, a HBO e a Netflix.
Atualmente, Miranda está no segundo lugar dos programas mais vistos da Netflix com A Jornada de Vivo, animação que ele produziu, protagonizou e escreveu as músicas. Também são dele as canções de Moana (2016), pelas quais foi indicado ao Oscar, e de Encanto, filme que levou o Oscar 2022 na categoria de Melhor Animação.
O sucesso de Lin-Manuel Miranda começou em 2015, quando estreou seu musical Hamilton na Broadway, o maior teatro de Nova York. Ele já tinha colocado seus espetáculos nos principais palcos do mundo, mas o sucesso da peça sobre o político Alexander Hamilton (1757-1804) foi uma surpresa. E desde então, seu nome virou conhecido em solo americano.
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