Cada semana de shutdown custa bilhões de dólares à economia americana

Cada semana de shutdown custa bilhões de dólares à economia americana

  Em 1º de outubro de 2025, os Estados Unidos começaram novamente um shutdown: uma paralisação parcial do governo federal causada pela falta de aprovação do orçamento pelo Congresso. Sem autorização para gastar, inclusive para pagar funcionários públicos, várias operações federais são suspensas ou reduzidas drasticamente – e isso gera impacto direto ou indireto na vida de quem vive lá ou se relaciona com o país.

Para brasileiros no exterior, compreender o que funciona ou deixa de funcionar durante um shutdown é essencial para planejar viagens, manutenção de vistos, acesso a serviços consulares ou simplesmente para lidar com a incerteza no cotidiano americano.

O que para e o que continua ativo durante o shutdown

  1. A) Serviços suspensos ou gravemente afetados (“não essenciais”):

Quando o governo federal fecha parcialmente, muitos serviços são congelados ou operam com equipe reduzida:

  • Processos internos de agências federais (licenças, auditorias, revisões normativas) ficam mais lentos.
  • Emissão e renovação de vistos ou passaportes podem sofrer atrasos acentuados.
  • Projetos culturais, educativos ou de pesquisa que dependem de verba federal têm suas atividades suspensas ou paralisadas.
  • Agências de ciência, tecnologia e inovação perdem parte do pessoal envolvido em pesquisa ou concessão de bolsas.
  • Algumas operações judiciais federais (tribunais, revisões de casos) enfrentam restrições orçamentárias ou adiamento de prazos.
  • Vários contratos terceirizados do governo (limpeza, manutenção, serviços auxiliares) podem ser pausados, já que muitas dessas empresas dependem de repasses federais.

Serviços que seguem funcionando – mas com restrições:

Nem tudo para completamente; alguns serviços considerados “essenciais” continuam em ação, embora enfrentem gravosos desafios:

Segurança nacional, policiamento, defesa, controle de fronteiras e imigração: departamentos como FBI, CIA, Polícia Federal dos EUA, agentes de fronteira e fiscalização aduaneira operam – em muitos casos sem pagamento imediato. 

Controle de tráfego aéreo, aeroportos, segurança nos voos: controladores e agentes da Transportation Security Administration (TSA) devem seguir trabalhando, inclusive sem remuneração até que o impasse orçamentário seja solucionado..

Programas sociais com financiamento “obrigatório” (mandatory spending): benefícios como Social Security (aposentadorias, benefícios de invalidez) e Medicare / Medicaid geralmente continuam porque não dependem do novo orçamento anual. 

Serviços postais (USPS) mantêm funcionamento normal — porque o serviço é autossustentável, não depende diretamente do orçamento do Congresso..

Agências de educação, de saúde e outras com dotação fixa parcial continuam parcialmente operando, mas com cortes de pessoal e suspensão de pesquisas ou concessões novas. Por exemplo: o Departamento de Educação planeja aposentar até 87 % de seus funcionários se o impasse persistir. 

Serviços judiciais federais podem começar a enfrentar falta de recursos em poucos dias — há risco de paralisações de processos ou adiamentos..

Imigração / vistos / USCIS: algumas funções essenciais continuam (detenção de imigrantes, fiscalização), mas muitos processos dependentes de pessoal ou de recursos novos sofrem atrasos ou suspensão. 

Importante destacar que, conforme a duração do shutdown, até mesmo serviços “essenciais” ou programas sociais protegidos podem sofrer atrasos ou cortes progressivos se os fundos de reserva se esgotarem.

No governo do democrata Jimmy Carter, entre 1977 e 1981, houve paralisações em 1978, 1979 e 1980

No governo do democrata Jimmy Carter, entre 1977 e 1981, houve paralisações em 1978, 1979 e 1980

O centro do impasse: visão de Estado, cortes sociais e política externa

O shutdown de 2025 não é apenas um problema técnico de aprovação orçamentária – trata-se de um embate ideológico entre visões diferentes de papel do governo.

  • Os Republicanos – apoiando o governo Trump – demandam cortes profundos em programas sociais, redução de gastos com saúde e revisão de subsídios. Além disso, querem reduzir significativamente a ajuda externa/internacional e o financiamento de projetos que consideram supérfluos.
  • Os Democratas pressionam para manter ou até ampliar investimentos sociais, evitar cortes no Obamacare (programa de saude) e preservar a rede de proteção aos mais vulneráveis. Defendem que muitos dos programas propostos para corte são essenciais para comunidades carentes.

A disputa pelo financiamento internacional (auxílio a países, cooperação internacional) é um dos pontos mais sensíveis: republicanos querem enxugar esta vertente orçamentária, democratas resistem fortemente. Ou seja: o governo está “funcionando” com urgência, mas o debate é sobre “quem paga” e “o que fica de pé” – ou seja, que tipo de Estado prevalecerá. Esse tipo de confronto político pode gerar impactos duradouros: cortes estruturais em áreas de pesquisa, educação, saúde e diplomacia podem sofrer rebaixamentos mesmo após o fim do shutdown.

Impactos econômicos, no transporte e nos voos

  • Analistas estimam que cada semana de shutdown custa bilhões de dólares à economia americana. Um memorando da Casa Branca projeta perda de até US$ 15 bilhões por semana só em PIB. 
  • Essa paralisação afeta diretamente as companhias aéreas, usuários de transporte e atividades conexas: atrasos, cancelamentos e sobrecarga operacional se intensificam. Recentemente, mais de 4.000 voos foram atrasados em um dia crítico. 
  • Em aeroportos menores, já houve casos de torres de controle desativadas por horas por falta de pessoal — um alerta sobre até onde a crise pode escalar. 
  • A indústria do turismo e do lazer também sofre: parques nacionais, museus federais e monumentos dependem de verba pública e podem fechar temporariamente. 
  • Se o shutdown se prolongar, programas de nutrição como WIC (para mulheres, bebês e crianças) podem ficar sem verba suficiente, gerando interrupção na assistência nutricional. 

E os vistos, imigração e serviços consulares brasileiros?

Para brasileiros que vivem nos EUA, viajam para lá ou precisam usar serviços relacionados, o shutdown cria desafios:

  • Renovações e emissão de vistos e passaportes podem enfrentar atrasos, pois parte do pessoal consular depende de repasses orçamentários.
  • Serviços de imigração via USCIS (U.S. Citizenship and Immigration Services) podem atrasar revisões de pedidos, entrevistas ou adjudicações que dependem de pessoal deslocado. 
  • Em situações emergenciais, pode haver limitação de atendimento presencial, suspensão de rotinas administrativas e backlog no processamento de documentos.
  • Para quem já depende de benefícios federais nos EUA (ex: Social Security, Medicare), mesmo que esses programas continuem ativos, a burocracia e suporte podem ter atendimento reduzido ou temporariamente inoperante.
  • Se você estiver fora dos EUA e precisa voltar, demora na emissão de documentos ou falhas em permissões podem complicar seu retorno.
Durante o primeiro governo de Trump, entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, houve o shutdown mais longo da história dos EUA, com 35 dias. O impasse foi sobre a exigência do presidente de verba para construir o muro na fronteira

Durante o primeiro governo de Trump, entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, houve o shutdown mais longo da história dos EUA, com 35 dias. O impasse foi sobre a exigência do presidente de verba para construir o muro na fronteira

O que fazer se você for brasileiro nos EUA agora

1) Planeje com antecedência: se tiver vistos ou documentos federais expirando, tente solicitar renovação antes que o shutdown se agrave.

2) Monitore os prazos e status: acompanhe sites oficiais do USCIS, consulados e embaixada para alertas de serviço reduzido.

3) Tenha reservas financeiras: atrasos salariais ou impossibilidade de atendimento podem exigir improviso — mantenha uma reserva emergencial.

4) Documente tudo: protocolos, datas, comprovantes são importantes em caso de contestação ou reclamação futura.

5) Procure apoio jurídico imigratório ou consular: advogados especializados podem orientar sobre prorrogações, adiamentos ou recursos administrativos.

6) Esteja preparado para atrasos: viagens, agendamentos de entrevistas ou movimentações dependentes do governo devem ser vistos como sujeitos à instabilidade.

FAQ – Perguntas Mais Frequentes 

O que exatamente é um shutdown?
É a paralisação parcial das atividades do governo federal quando o Congresso não aprova leis de financiamento (orçamentos ou resoluções de continuação). Sem essa autorização legal, muitas agências devem suspender operações até que haja consenso.

Quantos funcionários federais podem ser afetados?
Estima-se que centenas de milhares de servidores fiquem “furloughed” (afastados temporariamente sem salário) e outros tantos sejam obrigados a trabalhar sem pagamento até que o shutdown termine. 

Os funcionários federais dos EUA receberão pagamento retroativo após o fim do shutdown?
Tradicionalmente sim – a lei Federal Employee Fair Treatment Act de 2019 estabelece que servidores afastados devem receber o pagamento retroativo depois que o governo reabrir. Porém, nesta ocorrência, há debate sobre uma nova interpretação da administração que questiona o pagamento automático. 

Posso entrar nos EUA ou sair durante o shutdown?
Sim. Portas de entrada internacionais (aeroportos, fronteiras) permanecem operando, embora com risco de atrasos em controles e fiscalização. 

Meus benefícios do Social Security ou Medicare serão suspensos?
Não – esses programas são considerados “obrigatórios” e não dependem do orçamento anual, então os pagamentos geralmente continuam. 

O que acontece se eu tiver entrevista de visto marcada durante o shutdown?
Pode haver remarcações ou atrasos. Se o consulado ou embaixada for afetado por cortes, falta de pessoal ou suspensão de serviços, seu atendimento pode ser adiado.

Como brasileiros podem se proteger com o shutdown nos EUA?
Planejar com antecedência, manter documentos em ordem, ter recursos financeiros de reserva, consultar advogado de imigração e acompanhar comunicados oficiais são medidas-chave.