alunos universida eua estrangeirosCom cerca de 1,1 milhão de estudantes internacionais matriculados no país, a crescente restrição aos vistos estudantis promovida pelo governo Trump vem causando apreensão nas universidades americanas, que temem impactos financeiros severos e uma possível crise na qualidade e diversidade de seus corpos acadêmicos. Além do impacto imediato nas instituições de ensino, a restrição pode reverberar em setores econômicos estratégicos, especialmente na área de tecnologia.

A grande maioria dos estudantes estrangeiros nos Estados Unidos provém da Índia (331.602 alunos) e da China (277.398 alunos), representando uma fatia significativa do total. Entre 2022 e 2023, o número de estudantes internacionais de pós-graduação alcançou 467.027, o que corresponde a mais de um terço do total desses alunos no país. O Brasil, para surpresa de muitos, esteve na nona posicao com quase 17 mil estudantes internacionais matriculados nas universidades americanas. 

As áreas de estudo mais comuns entre esses estudantes são engenharia, matemática e ciência da computação, campos que compõem o núcleo das chamadas áreas STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics).

Universidades americanas, especialmente as da Ivy League, grupo de universidades norte-americanas conhecido pela excelência acadêmica, e outras instituições de elite, são destinos cobiçados mundialmente. A Universidade Carnegie Mellon, uma instituição privada, é a que mais recebe estudantes estrangeiros. 

Outras instituições notáveis no top 12 incluem a New York University (NYU) e a University of Southern California (USC) de Los Angeles, ambas privadas. Essas universidades dão prioridade aos estudantes internacionais, em parte porque suas anuidades são significativamente superiores às cobradas dos estudantes americanos.

Os estudantes estrangeiros pagam uma média de US$ 24.914 em anuidades, valor cerca de 30% maior do que o pago pelos estudantes americanos. Essa diferença gera controvérsias, principalmente porque universidades privadas tendem a priorizar estudantes internacionais por sua contribuição financeira, que muitas vezes subsidia bolsas para alunos locais.

Segundo dados do Instituto de Educação Internacional dos EUA, 86% dos estudantes internacionais de graduação e quase dois terços dos de pós-graduação custeiam integralmente seus estudos, sem auxílio financeiro das universidades. Assim, a presença deles é crucial para a sustentabilidade financeira de muitas instituições, principalmente aquelas com grandes fundos patrimoniais usados para investimentos acadêmicos, pesquisas e apoio a alunos.

O histórico do governo Trump contra estudantes imigrantes 

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Número de estudantes estrangeiros nos Estados Unidos entre 2023 e 2024. Fonte: Statista

Desde seu retorno à presidência, Donald Trump adotou uma postura dura contra as universidades americanas, especialmente aquelas que considera alinhadas a agendas contrárias às suas convicções políticas. Parte dessa estratégia inclui a restrição de vistos para estudantes estrangeiros, sobretudo chineses, sob alegações de vínculos com o Partido Comunista Chinês e questões de segurança nacional.

Recentemente, o secretário de Estado Marco Rubio anunciou a revogação de vistos de estudantes chineses suspeitos, além da suspensão do agendamento de novas entrevistas para vistos estudantis em consulados dos EUA na China. A Universidade Harvard, principal alvo dessas ações, chegou a ser proibida de matricular estudantes internacionais, embora essa decisão tenha sido suspensa por uma juíza federal.

Trump chegou a defender publicamente a redução do percentual de estudantes internacionais nas universidades, propondo um limite de 15% em instituições como Harvard, onde eles hoje representam 25% do corpo discente, e até 40% em outras universidades da Ivy League como Columbia.

Universidades com maior número de estudantes estrangeiros nos Estados Unidos:

  1. Carnegie Mellon: 42% dos estudantes
  2. Columbia University: 39% dos estudantes
  3. Northeastern University: 39% dos estudantes
  4. Rockefeller University: 38% dos estudantes
  5. New York University (NYU): 34% dos estudantes
  6. California Institute of Technology (Caltech): 32% dos estudantes
  7. University of Rochester: 31% dos estudantes
  8. University of Chicago: 31% dos estudantes
  9. Massachusetts Institute of Technology (MIT): 29% dos estudantes
  10. Boston University: 29% dos estudantes

Fonte: Centro Nacional de Estatísticas Educacionais dos EUA.

Quais serão os Impactos financeiros e acadêmicos das medidas anti alunos estrangeiros?

alunos estrangeiros euaEspecialistas alertam que essa ofensiva governamental pode levar a um êxodo acadêmico, colocando em risco não só a diversidade cultural e intelectual dos campi, mas também a própria sustentabilidade financeira das instituições. Muitas universidades dependem dos valores pagos pelos estudantes estrangeiros para manter suas operações e financiar bolsas a estudantes americanos.

Além disso, a Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, aprovou um projeto que prevê aumento significativo dos impostos sobre os fundos patrimoniais das universidades, agravando a pressão financeira sobre essas instituições.

Mas o impacto da restrição de vistos transcende o ambiente acadêmico. Os estudantes internacionais são a principal fonte de profissionais qualificados nas áreas de tecnologia, engenharia, ciência e matemática, com muitos deles permanecendo nos EUA após a graduação para integrar o mercado de trabalho, especialmente no Vale do Silício e Wall Street.

Atualmente, os estudantes internacionais representam a maioria dos beneficiários dos vistos H-1B, que autorizam trabalho temporário e permitem a permanência de mão de obra altamente qualificada. Cerca de metade das permissões H-1B emitidas entre 2020 e 2023 foram concedidas a estudantes oriundos da China e Índia.

Vale ressaltar que esses estudantes não competem diretamente com os trabalhadores americanos durante a sua formação, pois não possuem visto de trabalho, mas movimentam a economia local ao residir e consumir no país. Após a formatura, muitos contribuem diretamente para a inovação e geração de empregos.

A política americana tem provocado reações adversas, especialmente da China, que condenou as medidas como discriminatórias. O receio gerado entre famílias chinesas tem diminuído o interesse pelo ensino nos EUA.

Estima-se que, caso as restrições se mantenham ou se agravem, o número total de estudantes internacionais poderá cair abaixo de um milhão pela primeira vez desde 2015. Estima-se que entre 50 mil e 75 mil estudantes de pós-graduação em ciência e tecnologia serão impactados, com prejuízos que ultrapassam o âmbito acadêmico. Além disso, Hong Kong já tem se mostrado um destino alternativo para estudantes estrangeiros vetados nos EUA, buscando oferecer uma alternativa acadêmica para esse público.