A história da americana Dawn Prince-Hughes, de 36 anos, é no mínimo interessante. A mulher é portadora da Síndrome de Asperger, uma forma leve de autismo, e teve dificuldades de interação social em todas as fases de sua vida.
Devido ao autismo, a jovem foi vítima de bullying na escola enquanto criança, já na adolescência se envolveu com drogas e acabou indo morar na rua aos 16 anos Após quase cinco anos vagando, se tornou dançarina de shows eróticos para sobreviver.
“Eu simplesmente comecei a vagar por aí, ia para qualquer lugar com qualquer pessoa que tivesse uma casa ou me oferecesse drogas e álcool. Eu só queria ficar drogada ou chapada. Era tudo o que eu queria fazer até morrer”, revelou Dawn ao programa de rádio Outlook, da BBC News.
Enquanto se apresentava dançando em bares para sobreviver, ela usava o pouco dinheiro que recebia para comprar comida. Com um de seus primeiros pagamentos, a jovem decidiu ir ao zoológico. E sua vida de transformou a partir de então.
Ao avistar os gorilas pela primeira vez, ela Dawn conta que teve uma epifania. “Imediatamente percebi que eram seres que me entenderiam e que eu os entenderia. Ali, perto deles, com todas as informações sensoriais chegando, o som que era muito alto, a luz muito brilhante – tudo apaziguou. E eu descansei pela primeira vez na minha vida”, revelou.
Foi então que a jovem percebeu que tinha algo em comum com os gorilas: a lentidão na forma de se relacionar e interagir. “Sempre achei difícil o contato visual porque quando você olha realmente para alguém, a quantidade de informação que vai e volta é uma experiência intensa. Quando vi os gorilas pela primeira vez, eles ficavam apenas olhando para mim por cima do ombro. Era nessa velocidade que eu precisava ir”, afirmou na entrevista.
Após essa primeira ida, sempre que podia Dawn frequentava o zoológico e absorvia toda informação que aprendia com os gorilas. Ela gostou tanto que logo se tornou voluntária no local. E foi por meio da observação dos gorilas que ela diz ter aprendido as regras sociais da convivência humana.
Foi com o contato com os gorilas que Dawn percebeu que gostaria de compartilhar mais com outras pessoas, interagir e socializar. “Por exemplo, quando vi que um gorila estava triste, e outro gorila veio e deu um tapinha nas costas dele. Só isso bastou, e ele foi embora. Eu copiei esse comportamento e usei em uma situação na minha vida, funcionou muito bem. Foi a primeira vez que me senti realmente confortável estendendo a mão e tentando confortar alguém, fazendo esse tipo de contato”, explicou.
E um momento aparentemente simples, se tornou significativamente grande e mágico. Enquanto ela se concentrava colocando morangos na jaula para alimentar os animais, um dos gorilas, chamado Congo, tocou seu dedo. De acordo com a jovem, esse foi o momento mais mágico de sua vida. “Senti que o toque era algo maravilhoso e essencial, e até então eu não gostava. Soube naquele momento que era possível apreciar o toque de outro ser vivo”.
Dessa forma, Dawn percebeu que o contato com outros seres humanos, bem como regras e formalidades sociais não pareciam tão aterrorizantes quanto antes. O diretor do zoológico, observando o que acontecia, sugeriu que ela voltasse para escola e que fizesse cursos básicos.
Hoje Prince-Hughes Dawn é doutora em Antropologia, especializada em etologia e primatologia. Ela escreveu ainda vários livros sobre seu trabalho com os gorilas e a experiência de ser diagnosticada com autismo.
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