Por Laís Oliveira

closeup portrait young woman doing botox procedures by professional injection making lips modern devices technology medicine cosmetology therapyO conceito de “belo”, em termos de estética, sofreu inúmeras variações ao longo da História da humanidade. Quanto ao padrão corporal, por exemplo, a beleza é definida, na maioria das sociedades, pelos regimes patriarcais de cada época.

O que antes era dito como padrão de beleza, hoje já não é mais válido. Em suma, cada padrão se adequa às transformações sociais, políticas, econômicas, midiáticas e tecnológicas que cada sociedade vive.

O grande problema é que hoje, para chegar a um padrão de beleza praticamente inalcançável, milhares de mulheres se submetem a procedimentos estéticos invasivos e perigosos – muitos deles proibidos por órgãos de fiscalização – e caem nas mãos de profissionais não habilitados ou mesmo charlatães que lucram em cima de uma ditadura da beleza perversa e que mata.

Personalidades, atrizes, modelos esbeltas, digital influencers com a pele “perfeita”, lábios padronizados e a musculatura definida ditam o ideal corporal que “deve” ser seguido. Assim, o ser humano é pressionado, desde a mais tenra idade e de diversas formas, a concretizar, no próprio corpo, o ideal corporal da cultura na qual está inserido.

Símbolo de uma sociedade contemporânea em busca da estética perfeita, o botox é uma das estrelas do momento. Utilizado nos mais variados procedimentos estéticos e em diversas partes do corpo como queixo, bochecha, testa, nádegas, boca, entre outros, ele vem sendo indiscriminadamente por pessoas de diversas idades.

doctor examining female patients face at clinicConhecido também como toxina botulínica, a substância é utilizada em clínicas de dermatologia e de estética, por médicos e cirurgiões plásticos, e até dentistas com o objetivo de rejuvenescer, esticar, evitar rugas, paralisar a ação do tempo na pele, acabar com as linhas de expressão, corrigir problemas na arcada dentária e gengiva, para aumentar os glúteos, e muito mais.

Claro, há substâncias seguras no mercado – ainda que não se discuta até que ponto mulheres precisam sofrer para se encaixar num padrão de beleza quase inalcançável e que as aprisiona -, mas há diversas substâncias ilegais, que não passaram por testes e nem foram aprovadas por órgãos reguladores, circulando no mundo inteiro e causando verdadeiros estragos na saúde de quem utiliza.

Uma das mais polêmicas que tem gerado discussões no Brasil e em outros países é a Israderm. Além de não ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a suposta toxina botulínica, que ficou conhecida como “botox pirata”, tem origem misteriosa, mas ainda assim tem sido utilizada em clínicas estéticas por seu custo ser menos da metade de outras substâncias padronizadas e aprovadas.

Diversos pacientes têm relatado infecções após seu uso e, com o grande número de casos, a Anvisa proibiu, no segundo semestre de 2021, a comercialização, distribuição, fabricação, propaganda e uso do Israderm no Brasil.

Um cirurgião plástico do Paraná afirmou, em uma reportagem da emissora Rede Globo, que tratou de pacientes que disseram ter usado o produto e tiveram infecções. Sem ter seu nome revelado, ele alertou: “A gente já viu necroses de perdas do nariz e outras áreas da face devido a esse tipo de complicação”.

Também em 2021, o brasileiro Nelson Turin, que se passava por biomédico e atuava em Jacksonville, na Flórida, foi preciso em flagrante enquanto realizava procedimentos estéticos sem autorização legal e com substâncias desconhecidas, além de estar sob influência de álcool.

De acordo com as investigações, Turin oferecia serviços de preenchimento de lábios, queixos, bochechas, nariz e qualquer outro tipo de injeção de botox – o qual não se sabe a origem da substância. Além de não possuir licença médica, Nelson portava anestésicos e outros medicamentos sem autorização do Departamento de Saúde da Flórida e atendia os pacientes alcoolizado.

pexels gustavo fring 3985311É válido lembrar que produtos ilegais, sem registro, bula e orientações podem causar reações alérgicas de variados tipos, gangrena, úlceras e deformidades na pele. Em casos mais graves, as necroses e perda de partes do corpo onde foi aplicado o produto falso ou pirateado podem ser o pesadelo de quem se submete a determinados procedimentos estéticos. É preciso ficar atento e estudar bem o procedimento a ser feito, bem como a substância que será utilizada no corpo.

No Brasil, um fato que pouca gente sabe é que a toxina botulínica só pode ser prescrita por profissionais médicos ou odontólogos. É de suma importância que os pacientes que desejem passar por procedimentos no corpo busquem saber do especialista sobre a marca e a origem do medicamento, além pedir para ver a documentação da compra e checar sua veracidade.

Afinal, qual o limite na busca pelo corpo perfeito? A quem as mulheres estão servindo quando se submetem a procedimentos perigosos e com substâncias duvidosas para se encaixar em um padrão de beleza que aprisiona e pode levar à morte?

É importante que nos questionemos até que ponto as escolhas por procedimentos estéticos são genuínas ou meramente fruto da necessidade de se encaixar em padrões ditados. Esse é um bom caminho para construir uma sociedade por mulheres mais livres e que aceitam os corpos que habitam.

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