Por Rosana Braga
Num tempo em que a autoestima tem sido tão ovacionada, as pessoas têm confundido amor próprio com individualismo e egoísmo. Empolgadas com a possibilidade de se gostarem mais e reconhecerem com mais propriedade as suas qualidades, têm perdido o equilíbrio entre ‘ser’ e dar espaço para que o outro ‘seja’.
Passam a valorizar tanto a ideia de que devem se amar como são e especialmente que merecem ser amadas exatamente do jeito que são, que se equivocam quanto ao que seja relacionamento, troca, amor e felicidade. Tanto que tem sido muito comum ouvir alguém dizer convictamente coisas do tipo: ‘se fulano realmente me amar, tem de me aceitar como sou’. Embora haja um fundo de verdade nesta afirmação, existe uma enorme diferença entre aceitar você como você é e engolir tudo o que você faz sem reagir a nada.
Quando você diz ‘não vou mudar só porque o outro acha que estou errado’, sem ao menos refletir e considerar o que está sendo dito, isso não é amor próprio e sim de falta de humildade e arrogância. Relacionamentos são veículos sensacionais para que a gente consiga perceber nossas limitações e nossas dificuldades, mas se nos colocarmos como donos da razão, nos tornaremos cegos para a oportunidade de nos rever, ceder em alguns pontos e admitir que estamos enganados muitas vezes.
Precisamos considerar nossos enganos, dando razão ao outro para que possamos, através dos encontros, construir a verdadeira autoestima, e não muros que nos distanciam das pessoas, tornando-nos prepotentes e bem pouco atraentes. A autoaceitação é um sentimento excelente, desde que inclua a noção de que cometemos erros e principalmente de que só se pode ser feliz se, na mesma medida, soubermos aceitar o outro. Caso contrário, cairemos na armadilha da solidão como consequência de um egoísmo que repele em vez de atrair.
Perceba a diferença entre individualidade e individualismo. A primeira sugere nossa divina singularidade e a segunda sugere o radicalismo da primeira. É quando deixamos de reconhecer a divina individualidade do outro. Amar a si mesmo só pode ser de fato uma conquista quando você compreende que não pode crescer sem a presença das pessoas, sem trocar com elas, cedendo e se impondo conforme o ritmo das circunstâncias…
Como numa dança: a dança de amar e ser amado!
*Rosana Braga vive em São Paulo, é jornalista e autora de vários livros sobre autoajuda e relacionamento amoroso. Colaborou com a Soul Brasil nos dois primeiros anos da revista – www.rosanabraga.com.br
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