Conhecida como a “Califórnia Riviera”, Santa Bárbara se transformou nas últimas décadas em mais do que uma cidade de veraneio para ricos e famosos ou uma praia badalada. A região é sinônimo de “beleza natural” por suas montanhas majestosas e inúmeras belas praias; e sinônimo também de “malhação” e “bons vinhos”! Afinal aqui existem inúmeras e excepcionais opções que incluem mergulho, surfe, caminhada, vôlei, kitsurfing, caiaque, rock climbing e pesca; além de mais de cem produtores de vinho e vinícolas produzindo os melhores vinhos californianos. É muito fácil de se apaixonar por essa cidade charmosa que por vezes lembra cidades europeias e, por outras, o lado clássico e rústico do lado sul da fronteira (México).
Silvério Ferreira, músico e compositor, e um dos primeiros brasileiros a chegar a SB no ano de 1975, me recordou que naquela outrora época os únicos brasileiros na cidade estavam ligados com o futebol. Ele próprio, que tinha jogado em divisões de base de times importantes brasileiros, aqui chegou a receber uma oferta para estudar no Boston University por causa de suas habilidades com a bola. Mas teria que se dedicar na integra ao futebol. Como tinha uma outra paixão, a música, preferiu não dar exclusividade a apenas uma. Continuou em SB, onde chegou a fazer parceria com Jose Neto, guitarrista do Traffic. Hoje depois de mais de 30 anos, Silvério divide seu tempo produzindo trilhas sonoras para filmes e trabalhando como consultor de finanças.
O Brasil é destaque na ioga, pois um dos primeiros estúdios na cidade pertence a um casal brasileiro – Laís e Silvio, que fizeram história com o Yoga Center na Michelterena St. Mais novo, o Yoga Soup tem no seu proprietário Eddy, um declarado apaixonado pelo Brasil. A prova é que sua namorada e alguns próximos estudantes são brasileiros.
Atualmente uma das coisas que podemos afirmar com certeza é que muitos músicos de talento consumado vivem na cidade e ajudaram direta e indiretamente na primeira “introdução” da cultura “bossa nova”. Podemos começar com Airto Moreira e Flora Purim (hoje vivendo em L.A), passar pela Teka, encontrar o Pyatan e se deparar com o Contra-Mestre Mariano entre tantos. Este último, quando chegou em 2002 de imediato teve a impressão que estava no lugar certo para difundir seu lado artístico brasileiro. Para Mariano, os brasileiros no começo sempre terão dificuldades de adaptação, mas com sua “ginga”, carisma, e talento sempre terão importante papel no desabrochar da rosa. Capoeirista desde os 11 anos e criado escutando os ritmos afro-brasileiros da Bahia, Contra-Mestre Mariano foi dançarino e percussionista do balé folclórico da Bahia, e recentemente montou uma nova banda – Prakantar, com influências Afro/Jazz/Pop.
Comida brasileira em Santa Barbara
Caio, que chegou em 1997, trabalhou com várias coisas até chegar a ser motorista de táxi. A partir daí, com sua simpatia, contato direto com pessoas influentes e importantes, e a sensibilidade de um bom homem de negócio, sentiu a necessidade e demanda para táxis de luxo. Com muita determinação, em 2005 investiu na abertura da Ocean Cab Company para transportar passageiros da classe A e B em seus 8 Lincoln’s e 2 Limusines. E Caio foi quem nos falou sobre o Sevilla Restaurante na Chapala St. Aqui você pode presenciar uma influência Francesa-Brasileira na decoração e um estilo “cultural carnavalesco” no seu bar/lounge. De quebra no menu você pode encontrar a famosa moqueca e de vez em quando a tradicional feijoada.
E já que estamos falando em restaurante, apesar de não existir ainda um Brasileiro (Fev/2007), você pode notar um pouco do Brasil em outros lugares como o Café Buenos Aires. Aqui, além do tradicional tango e da boa comida argentina, no bar você pode tomar uma excelente caipirinha e escutar bossa nova. No Reds Coffeehouse que fica na zona funk da cidade entre a Garden St. e a State St. – e cuja proprietária Americana é a esposa do Caio, você encontra “free wireless internet acesso”, um bom expresso que lembra nosso café brasileiro e um pátio grande onde rola de vez em quando um churrasco a tarde com direito a atividades culturais geralmente promovido pelo Ginga Multicultural Center que fica logo ali pertinho. No Restaurante Cuscatlán na parte superior da De La Vina St, encontramos as latinhas de guaraná e água de côco do Brasil. E se pensar em salgadinhos e docinhos a opção é Lica, uma chef brasileira que se formou em arte culinária no SB City College.
Por ironia do destino, ela tinha um vizinho que era diplomata e falou bem de Santa Barbara. Havia morado na cidade por vinte anos e tinha mencionado a cidade como um lugar especial no seu coração. Vanessa pensou ser um lugar ideal para uns seis meses, aprender um pouco mais de inglês e seguir adiante para sua vida na cidade “grande”. Como Deus escreve certo em linhas tortas, seus planos mudaram de melhor para ainda melhor. Já em Santa Bárbara, conheceu Helena Hale, uma atriz de 75 anos, que a tratou como neta e a encorajou nos seus ideais artísticos. Cinco meses depois conheceu seu atual marido, o músico Randy Tico.
Vanessa menciona “no começo nem tudo são flores, a cultura é diferente mesmo! Nós brasileiros somos geralmente mais barulhentos e mais pegajosos, só para começar com a lista de diferenças. Fazemos samba em qualquer praça, cantamos de qualquer maneira. O negócio é não deixar o samba morrer! O corre-corre é diferente”. Vanessa continua, “no entanto, devo muito da minha vida a essa cidade, e ao grupo de teatro, as aulas de dança e a minha primeira audiência internacional”. Vanessa hoje viaja muito, mas continua com sua base na cidade que a adotou.
O Ginga, que foi fundado anos atrás pela versátil Vanessa Isaac e pelo “japa” Daniel Chin, oferece aulas de dança, capoeira e diferentes workshops na área artística/cultural. A Vanessa que chegou em 1995, nunca imaginou residir em Santa Bárbara.Ela nem sequer sabia que a cidade existia. Sua vontade sempre foi sair e descobrir novos lugares, e pensava em Los Angeles, Nova York ou Londres. Como sempre estive envolvida na dança, teatro e música desde garota, pensou que o melhor seria estar em uma grande metrópole.
Daniel Chin, que chegou em 2000, nos disse que morar em Santa Barbara foi um sonho que se tornou realidade. Como capoeirista, surfista e residente de São Paulo, tinha conhecimento do que podia encontrar. Era uma cidade perfeita. Segura, bonita, e não tão longe de Los Angeles, com boas ondas e um público jovem devido a UCSB e ao SB City College. Quando chegou tratou logo de aperfeiçoar seu inglês e de se dedicar a ensinar e promover a capoeira. Chin menciona: “Era e ainda é muito gratificante ter a oportunidade de divulgar um pouco a cultura brasileira na terra do tio Sam. Vejo que a cada dia, mais Americanos e Latinos residentes em SB se identificam com nossa cultura. A imagem do brasileiro é boa, de trabalhador esforçado e dedicado”.
Uma cidade para quem busca conhecimento
Daniel Chin hoje dedica tempo integral a capoeira e ultimamente abraçou dois projetos sociais com crianças carentes. No Milagre de Lader junto com o Peoples Self Health Housing ajuda a crianças que não tem acesso a “after school program”, e na Catalino School junto com o Diabetes Resourse Center of SB. Ele também foi o promotor junto com seu amigo Paulinho, da famosa Monday Brazilian Night no Sharkeez e que durou mais de 2 anos. Nas horas vagas Chin faz o que sempre sonhou em fazer na California e nos dar a dica.
“Para surfar temos 2 pontos que são show: El Rincón, poucas milhas ao Sul de SB, e Jalama Beach, um SB county park que é muito bom para acampar e que fica a umas 30 milhas ao Norte no sentido de Lompoc. Para um hiking, temos muitas boas opções, mas no sentido Norte subindo a FWY 154, você se depara com cachoeira, rio e um visual alucinante. Kiteboarding é no East Beach entre as ruas Leadbetter and Devereux. E recentemente começamos um Futvoley em Butterfly Beach em Montecito”. Aliás, é aqui nessa praia que entre os meses de Maio a Setembro os brasileiros se encontram.
E como aqui existem muitos jovens brasileiros de classe média/rica que passam de 6 meses a 2 anos estudando no USCB ou no City College e voltam ao Brasil, existe uma rotatividade muito grande de brasileiros jovens que vem e que vão de SB. É bom lembrar que a UCSB (University California of Santa Bárbara) e o SB City College são em suas respectivas categorias as que mais recebem brasileiros em programas de intercambio internacional. O que atraem os jovens é a proximidade com o mar (o UCSB tem até praia particular!) e ao mesmo tempo as montanhas, os rios, o surf, a beleza e a excelente infra-estrutura da cidade, além de saber que Los Angeles e Hollywood esta a menos de 1h30min de carro.
Alguns desses estudantes brasileiros e outros tantos que vivem na cidade, terminam por conseguir empregos temporários de valet parking (manobrista), entregador de pizza e garçon para se manterem. No caso das meninas existe um número grande de babysister. Podemos frisar até que as babysister brasileiras na cidade são conceituadas e bem requisitadas. Em virtude desse perfil de educada, trabalhadora e carismática, Ângela Monlleo montou sua agência de empregos e hoje comanda um time grande de babysisters brasileiras para famílias de classe A e B de Santa Bárbara.
Mercado de trabalho para brasileiros
Seu colega Ricardo “Franjinha”, pioneiro instrutor de JJ na cidade e campeão Pan Americano 2006 em L.A, afirma que infelizmente não tem muitos alunos Brasileiros e menciona que os brasileiros que chegam para SB inicialmente somente querem festas e ganhar o suficiente para pagar as contas. Praticar JJ não é prioridade deles. Em compensação muitos Americanos demonstram um crescente interesse. Ainda esse ano Franjinha abre a sexta filial Parragón JJ em Agoura Hills (entre Camarillo e Los Angeles) somando um total de seis academias nos EUA. Ricardo diz: “o comércio brasileiro esta crescendo rápido e hoje temos 2 academias de jiu jitsu, 2 de capoeira, uma guria que distribui biquínis brasileiros em lojas locais, outra que vende bijuteria finas e sempre vai ao Brasil, um representante de uma firma de transportes/mudanças para o Brasil e até a sua revista né?
A enfermeira Teresinha Landry que trabalha no setor cardíaco de um grande hospital na cidade acrescenta que os Americanos ultimamente mostram interesse pelo Português, que sente a comunidade brasileira desunida, e que vê os momentos culminantes da cultura brasileira durante o Solstice Festival no verão e no Carnaval Brasileiro em meados de fevereiro. Tetê como é mais conhecida, ainda nos disse que vê de positivo muitas academias oferecerem aulas com ritmos e swing brasileiros e de negativo, o fato da cidade ainda não ter um restaurante brasileiro.
O instrutor de jiu-jitsu Rodrigo Clarck, que chegou no final de 2002 depois de ter trabalhado em uma estação de esqui em Lake Tahoe, crer que a influência do Brasil na cidade se deve em grande parte aos brasileiros que estão envolvidos com a arte, gastronomia, música e esporte. “Sempre tive o desejo de montar minha própria academia de Jiu-Jitsu. Mas antes de chegar a SB, fazia o curso de direito e não sabia exatamente o que queria profissionalmente. Decidi ficar e apostar na ideia de abrir meu próprio negócio. No começo foi difícil, pois tive que correr atrás e batalhar para fazer com que meus planos dessem certo.” Mas as coisas foram fluindo e Rodrigo se apaixonou por uma Americana. Amor à primeira vista! Hoje bem estabelecido e com uma academia de “Brazilian JJ”, Rodrigo tenta encarar as coisas naturalmente. e com as coisas negativas servindo de lição para seu amadurecimento.
Interessante foi escutar a história do Haroldo Souza de como chegou a SB. Hoje um empresário bem sucedido, proprietário do Brasil Stone que comercializa Granito e um dos sócios do Club & Lounge Culchez, Haroldo desembarcou em Miami em 1984 com 19 anos e com a mulher Elizabeth, pegou um mapa, olhou rápido alguns lugares e “boom”, apontou para Santa Bárbara e disse para a companheira “esse é o lugar onde vamos viver e criar nossos filhos”.
Em seguida, enfrentaram uma jornada de 5 dias de ônibus até chegar em SB. Lavou pratos em restaurantes, vendeu carros, montou pacotes e trabalhou com intercâmbio de estudantes Brazil/EUA, e após uma reforma em sua casa, surgiu a ideia de importar e comercializar com granito e mármore.
A realidade é que há alguns anos atrás se podia contar nos dedos quantos brasileiros moravam por essas bandas. Agora, ouvir o Português Brasileiro pela State St. se tornou coisa cotidiana. Esses brasileiros apontam por unanimidade, o clima e as diferentes opções de lazer ao ar livre como o de melhor, e o alto custo dos alugueis e imóveis como sendo o de pior. Por fim, na Riviera Californiana você se depara com brasileiros no comércio, no jornalismo, no esporte, na saúde, na ioga, na música, nas artes e nos serviços públicos. Todos ralando e correndo atrás, alguns tantos progredindo e se destacando, e todos dividindo a magia e alegria brasileira com a comunidade de Santa Barbara County.
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