Por Lais Oliveira / Fotos: Aryadne Woodbridge
Há meio século, mais precisamente em 1965, na 7ª edição do Grammy Awards, a maior premiação do mercado fonográfico, o mundo viu a famosa canção “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinicius de Moares, vencer na categoria gravação do ano, deixando para trás nomes como Barbra Streisand e nada mais nada menos que Beatles. Esta façanha surpreendeu tanto quanto a indicação de uma brasileira ao Grammy de 2016 com a mesma canção, só que com novos arranjos e estilo.
A responsável pela indicação foi a pianista Catina DeLuna, em parceria com seu marido, o venezuelano e arranjador Otmaro Ruiz. A regravação do clássico da Bossa Nova concorreu na categoria Melhor Arranjo, Vocal e Instrumental. Catina comemora a conquista, mas revela “o que me levou a indicação ao Grammy foi essa parceria. Otmaro é um dos grandes pianistas do mundo e possui um estilo singular. Ele é o grande vencedor e merecedor dos créditos”.
Residente nos Estados Unidos há mais de dez anos, ela deu início à sua formação musical no Brasil, em Campinas, interior de São Paulo. Formada em Piano no curso de Música Popular da Unicamp, ela fez parte de alguns grupos que tocavam com orquestras e concertos pelo país. No final de 2004, Catina chegou a Illinois para aprender inglês, mas, na universidade, fez contato com o departamento de música e se apaixonou pela estrutura e possibilidade de crescimento na música.
Ela conseguiu uma bolsa de mestrado na Northern Illinois University, na cidade de DeKalb e, em 2009, no fim do curso, conheceu Otmaro Ruiz e se mudou para Los Angeles, onde está até hoje, fazendo shows e dando aula na Silverlake Conservatory of Music. A parceria deu tão certo que durante os shows lotados, o público sempre exigia que os músicos gravassem um disco.
Enquanto músicos independentes e sem gravadora ou distribuidora, a dupla enfrentou dificuldades para produzir o álbum, apesar da vontade de registrar os arranjos únicos e bastante originais. Para fazer seu primeiro trabalho, intitulado ‘Lado B’, disco com regravações de clássicos brasileiros e uma música inédita (‘Estrela Azul’), Catina e Otmaro foram à plataforma de crowdfunding PledgeMusic arrecadar verba e, mesmo assim, precisaram entrar com uma boa quantia para financiar parte do trabalho.
A gravação do disco foi feita em seu “Home Studio” e o processo foi bastante caseiro, porém com músicos de alto escalão. A produção musical, artística e estética do álbum e a distribuição foram feitas por eles de forma independente, por isso mesmo a surpresa da indicação de sua versão de “Garota de Ipanema” num prêmio de tamanho porte. O reconhecimento, afirma a musicista, se deu pela originalidade e a qualidade dos arranjos, bem como pela coragem de se fazer música com liberdade, sem tentar agradar a gravadoras ou ao mercado.
“Há tantas regravações desta música de sucesso que, ser escolhida entre elas, se destacar e ser indicada é uma honra. Após 50 anos que a música fez sucesso aqui nos EUA é maravilhoso sermos nós a trazer Tom Jobim de volta aos ouvidos do mundo. É um grande reconhecimento do nosso trabalho”, afirma orgulhosa. A versão rearranjada concorreu, no 58º Grammy Awards, com David Bowie e outros músicos norte americanos na categoria Melhor Arranjo, Vocal e Instrumental.
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