Por Laís Oliveira
Aplicativos de relacionamento conectam milhões de pessoas no mundo inteiro, mas também as expõem a condutas agressivas. Casos de violência relacionados a esses tipos de aplicativos, entre eles, Tinder, Grindr, Bumble, Badoo, OkCUpid, Happn e Hinge, que vão de ameaça e assédio a estupro, crescem assustadoramente e atingem majoritariamente mulheres.
Entre 2014 e 2019, o número de registros de crimes relacionados a essas plataformas aumentou mais de 250%. O Tinder é, enquanto o número um mais baixado no mundo, o aplicativo mais conhecido e com maior quantidade de denúncias.
As ocorrências chegam diariamente às delegacias. Entre as principais denúncias estão difamação, injúria e ameaça, mas há relatos mais graves, que incluem estupro, extorsão, furto e lesão corporal.
Há também o crescente número de ameaças registradas a mulheres que se negam a marcar novos encontros com antigos parceiros. Esses estão enquadrados entre difamação, injúria e ameaça, que lidera a quantidade de registros.
De acordo com o Pew Research Center, 37% dos usuários de sites e apps de relacionamento nos EUA continuaram a ser contatados mesmo após demonstrarem não ter mais interesse, 35% receberam fotos ou mensagens explicitas não solicitadas, 28% foram chamados de nomes ofensivos, e 9% receberam ameaças físicas.
Com a chegada da pandemia, de acordo com o Dating.co, houve um aumento de 82% no namoro online global já em março de 2020, quando as medidas de isolamento entraram em vigor em diversos países. O levantamento revelou que usuários norte-americanos são os que mais dão match no mundo, com seis ou mais conversas acontecendo simultaneamente.
Um relatório divulgado pelo Match Group – proprietário de aplicativos de relacionamento como Tinder, OkCupid e Hinge – revelou que, no terceiro trimestre de 2020, a companhia registrou 10,8 milhões de usuários pagantes em seus apps de paquera em todo o mundo, um salto de 12% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Com o aumento no número de usuários, os casos de violência também subiram. E para tentar coibir essa prática entre usuários do Tinder, o Match Group vai permitir que os usuários possam investigar o passado das pessoas com as quais estão se relacionando na plataforma virtual. Será possível saber se a pessoa já foi acusada de algum crime, principalmente aqueles relacionados com abuso e assédio sexual.
A investigação será feita a partir de um serviço prestado pela Garbo, organização sem fins lucrativos que “faz a coleta de registros públicos e relatórios envolvendo violência ou abuso, incluindo prisões, condenações, ordens de restrição, assédio e outros crimes violentos”.
A Match ainda não deu muitos detalhes de como o serviço vai funcionar nem de quando ele será ativado. O que se sabe é que a pesquisa poderá ser feita utilizando apenas o nome completo ou com a combinação do primeiro nome e do número de telefone. Além do Tinder, outras marcas da empresa, como os aplicativos OkCupid, Hinge Match, também deverão contar com recurso.
Paul Eastwick, professor do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, Davis, e que também coordena o Laboratório de Pesquisa de Atração e Relacionamento, afirma que os apps e sites de relacionamentos online possuem uma estrutura complicada por natureza, na qual os usuários essencialmente podem apenas compartilhar fotos e talvez um pouco de texto para expressar quem são.
“Os aplicativos de namoro pegaram o melhor e o pior da internet. É o melhor porque fornecem uma maneira para pessoas se conhecerem. Mas terão muitos dos mesmos problemas da internet, como a amplificação de vozes hostis e preconceituosas”, afirmou Eastwick.
Tentativas de tornar os aplicativos de encontro e namoro mais éticos e tolerantes são sempre bem-vindas, mas é necessário educar o usuário, em especial o homem, sobre como o machismo que leva à violência de gênero, está presente em todos os âmbitos da sociedade e precisa ser superado.
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