Os assustadores eventos ocorridos nos EUA no mês de agosto trouxeram à tona uma verdade inconveniente: movimentos racistas ainda estão vivos e dispostos a ficar nos holofotes. Em Charlottesville, na Virgínia, o mundo observou evidências desse triste fenômeno. Uma marcha organizada por grupos supremacistas e que protestava contra a remoção de um monumento que simboliza a escravidão e o racismo no país, terminou em um violento confronto com opositores. No total, 20 pessoas ficaram feridas e uma morreu.
Já não é novidade que os EUA vivem em clima de tensão racial, mas há muito tempo o país não via manifestações tão grandes e tão abertas de pessoas marchando com símbolos nazistas, da Klu Klux Klan (KKK) e de outros grupos extremistas. Especialistas no fenômeno consideram que a campanha presidencial e a eleição de Trump tenham servido de motor para o aumento no número de crimes de ódio no país.
Ao destacar temas como raça, religião e nacionalidade, o tom da última campanha presidencial americana pode ter influenciado os crimes de ódio e a exacerbação da intolerância contra muçulmanos e imigrantes. Isto levou à ação “indivíduos de motivações diversas, desde fanáticos hardcore até aqueles que apenas buscam uma emoção”, revelou o diretor do Centro de Estudo do Ódio e Extremismo, Brian Levin, em uma mídia digital.
Um estudo realizado três meses após o dia da eleição americana oferece mais evidências de uma espécie de “efeito Trump”. O Southern Poverty Law Center (SPLC), organização que monitora extremistas nos Estados Unidos, contabilizou 1.094 incidentes de ódio entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017, como parte do projeto #ReportHate (denuncie o ódio, em inglês).
O SPLC foi fundado por advogados de direitos humanos para monitorar grupos supremacistas brancos como a Ku Klux Klan, mas depois ampliou seu alcance. Agora, mapeou todos os grupos de ódio nos Estados Unidos: eram 917 em atuação no país em 2016. Dois anos antes, eram 784. O Estado da Califórnia (79) tem o maior número, seguido pela Flórida (63). O SPLC também está construindo um mapa de crimes de ódio, no qual Califórnia, Nova York e Texas concentram o maior número de incidentes.
Um grupo de especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) em direitos humanos se pronunciou a respeito dos últimos ataques de grupos extremistas e disse: “estamos alarmados pela proliferação e a saliência que ganharam os grupos que promovem o racismo e ódio. Atos e discursos deste tipo devem ser condenados sem panos quentes, e os crimes de ódio investigados e seus autores punidos”, exigiram mediante um comunicado emitido em Genebra.
Para os representantes da ONU “o Governo norte-americano deve adotar todas as medidas efetivas de forma urgente para controlar as manifestações que incitam à violência racial e entender como estas afetam a coesão social”.
Em San Francisco, importantes empresas do setor de tecnologia se moveram contra a disseminação de discursos de ódio e decidiu desativar a venda de camisetas, chaveiros e qualquer tipo de item que fizesse apologia à supremacia branca através do Apple Pay, sistema de pagamento online. “O ódio é como o câncer. Se não o encurrala, destrói tudo no seu ritmo. Suas cicatrizes duram gerações. A História nos ensinou uma e outra vez. Mas nem os países, nem os EUA aprendemos”, afirmou Tim Cook, CEO da fabricante do iPhone.
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