A Controvérsia do Uso de Apps que Ajudam Estudantes com Respostas de Provas
Colar, filar, pegar as respostas, copiar… Todo estudante conhece algum desses termos – tendo praticado o ato ou não. O fato é que esse tipo de prática existe desde sempre em escolas e universidades, seja com alunos plagiando respostas de um colega, da internet, de livro de respostas ou de outros meios.
Com a pandemia de Covid-19 e a modalidade de ensino remoto, esse “hábito” se transformou num verdadeiro problema para diversas instituições e bastante difícil de ser corrigido, já que qualquer um com acesso à internet pode responder trabalhos e provas e chegar a um 10 facilmente.
Como se não bastasse a facilidade da internet, existem aplicativos que também fornecem essa “ajudinha” (ou trapaça?) e fazem com que estudantes passem direto em disciplinas específicas ou mesmo passem de ano sem mal terem estudado.
Nos Estados Unidos, um dos mais conhecidos se chama Chegg Study – cujo preço das ações triplicaram durante a pandemia! Ele tem como objetivo dar a resposta para questões de livros e exames dentro de segundos ou poucos minutos. Por US$14,95 ao mês (valor de Dez de 2021, quando produzimos esse artigo) uma pessoa consegue acesso a respostas de 46 milhões de materiais didáticos e de questões de provas no banco de dados da empresa Chegg em segundos e, assim, pode copiar as respostas como se fossem dela. Em outras palavras, a pessoa plageia.
A Chegg tem sede em Santa Clara, na Califórnia (no famoso Silicon Valley) mas é na Índia que se encontra o coração das suas atividades. Lá, a empresa possui mais de 70 mil experts formados em Matemática, Ciências, Tecnologia e Engenharia. Esses especialistas, que trabalham como freelancers, ficam online 24h por dia respondendo questões postadas pelos assinantes – muitas delas respondidas em menos de 15 minutos.
Mas a Chegg não fornece somente o serviço de respostas de trabahos, livros e provas. O negócio bilionário oferece ferramentas para criar bibliografias, para resolver problemas complexos de matemática e para melhorar a escrita. Mas o carro-chefe que responde pela maioria do lucro da empresa é o aplicativo Chegg Study.
Com a pandemia e o ensino remoto em escolas e faculdades de todo o mundo, as assinaturas do aplicativo tiveram um crescimento exorbitante. Só no terceiro semestre de 2020 o crescimento foi de cerca de 69% em relação ao ano anterior.
Entre março e dezembro de 2020, a receita da Chegg aumentou cerca de 54%, ou seja, pulou para cerca de US$440 milhões. A previsão é que no final do primeiro trimestre de 2022 os negócios ultrapassem a marca de US$650 milhões. Atualmente, a empresa está avaliada em mais de US$12 bilhões.
CEO da Chegg rebate críticas ao aplicativo e o debate está aberto
Dan Rosensweig, CEO da Chegg, não gosta que seu aplicativo seja chamado de plagiador de respostas ou que soe como algo negativo. Em entrevistas a grandes emissoras de TV americanas ele foi categórico e afirmou que o Chegg Study “não foi feito com o objetivo de colar”. Dan descrevu o aplicativo como um tutor atemporal e sempre ativo, pronto para ajudar os alunos com respostas detalhadas sobre os mais variados problemas e questões.
Dois executivos da Chegg, o vice presidente Arnon Avitzur e Erik Manuevo, sustentam a afirmação de Rosensweig sobre o objetivo da Chegg. “Oferecemos aos estudantes serviços personalizados para ajudar seus estudos a não ficarem parados”, declarou Avitzur.
Já o presidente da Chegg, Nathan Schultz, afirmou em uma declaração escrita “Não somos inocentes, sabemos que o plágio é um problema. Nós permanecemos 100% comprometidos em enfrentar essa questão e investiremos consideráveis recursos para assim o fazer”.
Mas será que seus investimentos têm valido à pena? Timothy Powers, um professor com Ph.D em administração e relações com estudantes da Universidade Texas A&M, afirmou a Forbes magazine que os estudantes de um curso de finanças usaram o Chegg Study para responder a várias provas online – Powers ainda citou que centenas de alunos sequer mudavam um pouco as respostas ao enviar as mesmas com o intuito de disfarçar o plágio.
Enquanto estudantes colam e pegam respostas de trabalhos e provas pelo Chegg, escolas e universidades investem pesado, chegando a gastar milhões, em supervisão remota. A prática gerou uma grande polêmica a respeito de privacidade, afinal, as faculdades estavam pagando empresas privadas para vigiar os alunos enquanto eles faziam os testes. Na supervisão para evitar colas e plágio, as equipes bloqueiam os navegadores da web dos alunos e os assistem pelas câmeras de seus laptops. Críticos afirmam que esse tipo de ação viola a privacidade dos alunos.
A professora Linda Treviño, coautora do livro “Cheating in College” (Trapacear na Faculdade) de 2012, disse que “o desafio é definir o que afinal constitui o plágio ou a cola”. Ela se refere entre diferentes situações como passar papel com gabarito entre os colegas na hora da prova, pagar a alguém para fazer o teste para você e pegar respostas de provas no aplicativo Chegg Study. Para a professora e autora é complicado definir com precisão.
Em janeiro de 2024, alguns meses após a publicação original deste artigo em 2022, a plataforma educacional online Chegg fez um anúncio indicando que os benefícios derivados do impulsionamento com inteligência artificial levariam mais tempo do que o inicialmente previsto, devido à inadequação das projeções de vendas. A Chegg está empenhada em se manter alinhada com as tendências do setor e tem direcionado seus esforços para aumentar a utilização do ChatGPT pelos alunos.
A empresa está buscando uma transição para se tornar mais orientada por IA, especialmente após a administração expressar preocupações no ano anterior de que o aumento do uso do ChatGPT pelos alunos estava impactando negativamente em seus resultados.
Como o Chegg Study surgiu?
A origem do Chegg Study se deu por meio de outro aplicativo um pouco mais antigo, o Cramster. Essa era uma startup com base no Sul da Califórnia e fundada em 2002 pelo atual engenheiro (2021) da faculdade UCLA, Aaron Hawkey, então com 24 anos na época.
Hawkey queria ter um lugar para conferir o gabarito dos questionários que respondia na faculdade. Sua ideia foi, então, construir um site que tivesse um esboço detalhado de resoluções em problemas de matemática, ciência e engenharia. Anos mais tarde, em 2010, a Chegg adquiriu a Cramster em uma negociação secreta. De lá pra cá, vem tentando criar reputação com os alunos ao mesmo tempo em que investe em talentos na área acadêmica“abroad USA” e em alta tecnologia.
Afinal, de quem é a culpa?
Existem mesmo culpados? Desde sempre alunos plagiam e colam. Para se ter uma noção do quão antiga é a prática, lá atrás, no século XII, estudantes chineses costuraram cópias em suas roupas, no tamanho de caixas de fósforos, para colar em concursos públicos.
O problema é realmente muito difícil de mensurar, afinal são diversas as formas usadas para colar em uma prova. É irracional colocar toda a culpa nas costas da Chegg. A natureza humana é propensa a falhas, especialmente quando se estuda em casa, pois é muito mais difícil de ser pego.
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