Falsos relatórios policiais já são um problema antigo, seja nos EUA ou em outros países. Porém com a tecnologia dos smartphones e suas câmeras potentes, esse problema tem sido solucionado dia após dia. O que acontece é que, nos últimos anos, os vídeos amadores de flagrantes feitos por diversas pessoas têm mostrado que vários relatórios policiais podem estar errados. No passado era a palavra do policial contra a do suspeito ou vítima. Agora, o vídeo feito de telefones celulares mudou, de certa forma, o debate sobre a forma que a polícia atua.
Em Buffalo (NY), dia 4 de junho (2020), um vídeo mostra dois policiais empurrarem um homem de 75 anos no chão o deixando deitado enquanto o sangue escorria de seu ouvido. O reporte policial sobre o caso diz que o homem “ficou ferido quando tropeçou e caiu”. Se não existissem diversos vídeos mostrando ângulos diferentes do ocorrido, a verdade talvez nunca viria à tona.
Em um subúrbio de Sacramento, um policial deu vários socos em um garoto de 14 anos enquanto o prendia; o relatório do policial não mencionou os socos. Já o relatório da polícia de Minneapolis sobre a morte de George Floyd inicialmente deixou de fora os detalhes mais importantes, como o joelho pressionado em seu pescoço por quase nove minutos.
Esse é um problema geral que ocorre nas polícias em diversas partes do mundo. O criminologista da Universidade Estadual de Bowling Green, Philip Stinson, que analisou milhares de relatórios policiais, disse à CNN que mentiras ou omissões de fatos são bastante comuns.
O que se nota depois desses fatos junto com os protestos por mais de 700 cidades americanas atingindo todos os 50 estados do país é que ativistas e organizações que lutam por direitos humanos e/ou justiça social passaram a, além de protestar pela brutalidade policial, se preocupar pela frequência de denúncias falsas que ocorrem nos EUA. Os protestos lutam contra o racismo, mas também pede tratamento adequado da polícia para com os cidadãos e que ajam com a verdade dos fatos.
Os vídeos têm gerado efeito e promotores públicos e chefes de polícia de várias cidades nos EUA já adotaram algumas medidas nos últimos anos. Na cidade de St. Louis, o promotor público Kim Gardner parou de aceitar novos casos ou solicitações de mandado de busca de policiais com histórico de má conduta ou falsos depoimentos em relatórios. Na Filadélfia e Seattle estão fazendo o mesmo e criaram “Listas Negras”, segundo o The Marshall Project.
Chris Magnus, chefe da polícia de Tucson, Arizona, disse ao Marshall Project “se estivesse ao meu alcance, os policiais que mentem não seriam apenas colocados em uma lista negra, mas seriam demitidos e também não poderiam trabalhar para nenhum outro departamento de polícia nos EUA”. Muitas vezes, porém, sindicatos policiais impedem a demissão de oficiais com um histórico de brutalidade e desonestidade, o que lança uma sombra sobre os policiais que dizem a verdade e são honestos.
O fato é que depois da morte de George Floyd que gerou protestos que lutam contra a brutalidade policial e o racismo não só nos EUA, mas em outros países, os vídeos através dos celulares passou a ser uma ferramenta cada vez mais usada na luta por igualdade racial e justiça social. Os celulares passaram a ser uma “boa arma” e as pessoas estão se conscientizando cada vez mais disso.
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