O executivo-chefe da Domino’s Pizza reivindicou, na terceira semana de maio, que a empresa não consegue contratar motoristas suficientes para fazer as entregas – a mesma reclamação partiu da Lyft e da Uber, que afirmaram ter um problema similar. Uma franquia da McDonald’s na Flórida chegou a oferecer US$50 de incentivo a qualquer um que quisesse comparecer para uma entrevista. Outras franquias de fast-food chegaram a colocar faixas em seus restaurantes dizendo “ninguém quer mais trabalhar”. Que fenômeno é esse?
A ideia de que os Estados Unidos sofrem com a escassez de mão de obra não convence milhões de pessoas nesse país, mas mesmo assim tem se tornado quase uma “sabedoria convencional” . Sim, porque isso é mais mito do que realidade. Os EUA são um país capitalista e nesse sistema existe um mecanismo para lidar com a escassez. No caso de um produto ou serviço, seria o aumento de preço. Já no caso de mão de obra, seria o aumento de salários. Em uma economia de mercado, tanto a mão de obra quanto produtos e serviços têm valores flutuantes.
Quando uma empresa está lutando para encontrar mão de obra suficiente, mas há pouca procura, o problema pode ser resolvido caso ela ofereça um “melhor preço” a quem tem interesse, ou seja, melhores salários. E aí é onde está parte do problema. A extensão de vários meses do seguro-desemprego e o auxílio financeira devido à pandemia foi apenas o estopim para muitos trabalhadores preferirem ficar em casa e não voltar ao mercado de trabalho por agora.
Salários baixos e precarização
Na verdade, os salários pagos à classe trabalhadora estão defasados há tempo e são historicamente baixos. Essa defasagem vêm crescendo lentamente há décadas para todos os grupos de renda, exceto os ricos. Parte do problema poderia ser a consolidação corporativa e o encolhimento dos sindicatos trabalhistas. O fato é que os lucros corporativos têm aumentado rapidamente e em escala progressiva nas ultimas décadas enquanto os salários encolheram.
E ainda no mês de maio de 2021 algumas dessas grandes empresas responderam à alegada “escassez de mão de obra” fazendo exatamente o que teriam que fazer. O Bank of America anunciou que aumentaria seu salário mínimo por hora para US$25 e que pessoal terceirizado receberia no mínimo US$15 por hora. Entre outras empresas que também anunciaram aumentos salariais em maio, estão Amazon, Walmart, J.P. Morgan Chase, Chipotle, e Costco.
Trabalho vs pandemia
Sim, é verdade que muitos residentes nos Estados Unidos abandonaram temporariamente a força de trabalho por causa da pandemia e que algumas indústrias estão sofrendo pela falta de trabalhadores qualificados enquanto algumas pequenas empresas estão com problemas por não poderem oferecer melhores salários.
Há um debate partidário para entender se a extensão dos benefícios aos desempregados durante a pandemia fez com que os trabalhadores desistissem de trabalhar. Por enquanto, alguma combinação dessas forças junto com uma economia ainda em recuperação criou a impressão de escassez de mão de obra. Mas as empresas têm uma maneira fácil de resolver o problema: pagando mais.
O fato de tantos reclamarem da situação não é um indicativo de que algo está errado com a economia americana. Mas é um bom sinal de que os executivos e corporações se acostumaram tanto a uma economia de baixos salários que muitos acreditam que qualquer outra coisa não é natural.
Facebook Comments