Viajantes do Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Coreia do Sul e Austrália estão entre os mais impactados.
Uma nova proposta do governo dos Estados Unidos pode alterar significativamente os requisitos de entrada para milhões de viajantes estrangeiros que visitam o país sem visto. A iniciativa, apresentada pela Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês), propõe que cidadãos de países integrantes do Programa de Isenção de Visto forneçam informações detalhadas de redes sociais, contatos e familiares como condição obrigatória para a autorização eletrônica de viagem (ESTA).
A proposta, publicada no Registro Federal, está aberta para comentários até 9 de fevereiro de 2026. Se aprovada, transformará campos que hoje são opcionais em obrigatórios e ampliará drasticamente o volume de informações que viajantes precisam entregar antes de embarcar para os EUA.
O Brasil, até o momento, não integra o Programa VWP. Isso significa que cidadãos brasileiros não utilizam o ESTA e continuam obrigados a solicitar visto tradicional (como o B1/B2) para entrar nos Estados Unidos.
O que pode mudar
A medida tornaria obrigatória a inclusão de:
- nomes de usuário de todas as redes sociais utilizadas nos últimos cinco anos;
- selfies recentes, que podem ser usadas para validação biométrica, cruzamento de dados e verificação de identidade;
- endereços de e-mail usados nos últimos 10 anos;
- números de telefone dos últimos cinco anos;
- endereços IP associados ao viajante;
- nomes, datas de nascimento, endereços e telefones de familiares próximos;
- cidades de nascimento e residências atuais de parentes.
Embora o uso de selfies ainda não seja amplamente detalhado nos documentos iniciais, especialistas em imigração apontam que isso faz parte de um movimento contínuo do Departamento de Segurança Interna para integrar reconhecimento facial e biometria aos sistemas de triagem de estrangeiros.
A mudança atingiria cidadãos dos 42 países do VWP, como Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Austrália, Coreia do Sul e vários países europeus.
O que muda agora
Por enquanto, nada. Quem possui ESTA ou visto válido continua apto a viajar normalmente.
A CBP afirma que analisará todos os comentários públicos antes de decidir se implementa, altera ou revoga a proposta. Caso aprovada, a mudança poderá ser adotada de forma gradual ao longo de 2026.
Se entrar em vigor, milhões de turistas que chegam pelos principais aeroportos — como LAX, JFK, Miami e Atlanta — poderão ser submetidos a uma triagem digital sem precedentes, envolvendo dados biográficos, digitais e biométricos, incluindo selfies.
Por que agora?
Segundo documentos da CBP, as mudanças seguem uma ordem executiva de 2025, cujo objetivo é fortalecer a identificação de riscos à segurança nacional e pública antes mesmo de o viajante embarcar.
A verificação de selfies integrada a bancos de dados biométricos federais seria, segundo defensores da medida, uma forma de:
- confirmar a identidade do visitante;
- detectar fraudes;
- cruzar perfis de redes sociais com imagens públicas;
- prevenir a entrada de possíveis ameaças.
Por outro lado, grupos de defesa dos direitos civis argumentam que isso pode representar vigilância excessiva de viajantes inocentes e incentivar a autocensura online.
O governo Trump tem reforçado a fiscalização digital em todas as frentes. O Departamento de Estado já exige que muitos candidatos a visto, especialmente estudantes, deixem seus perfis públicos para inspeção.
Em diretrizes consulares, consta que a falta de presença online pode ser entendida como um “ponto negativo”, podendo prejudicar o solicitante.
Especialistas e entidades do setor de viagens alertam para possíveis consequências:
- esperas mais longas na aprovação do ESTA;
- aumento de pedidos sinalizados para revisão manual;
- atrasos próximos a eventos de grande porte, como a Copa do Mundo de 2026;
- maior exposição de dados pessoais e biométricos de viajantes estrangeiros.
No Aeroporto Internacional de Los Angeles (LAX), alguns viajantes ouvidos pela emissora KTLA disseram apoiar a verificação adicional, apesar das preocupações com privacidade, argumentando que as medidas poderiam “aumentar a segurança” das viagens.
O que dizem as autoridades
Desde 2016, o CBP inclui no ESTA uma pergunta opcional sobre redes sociais. O órgão ainda afirma em seu site:
“Se um solicitante não responder à pergunta ou simplesmente não possuir uma conta em uma rede social, o pedido ESTA ainda poderá ser submetido sem qualquer interpretação ou inferência negativa.”
Com a nova proposta, a ausência de informações pode passar a ser interpretada de forma distinta. Xiao Wang, CEO da Boundless, destacou a mudança de postura: “Autoridades podem passar a interpretar a ausência de resposta como um comportamento suspeito.”
FAQ – Perguntas Frequentes
1. O que exatamente muda no ESTA com a nova proposta dos EUA?
Se aprovada, viajantes terão que fornecer perfis de redes sociais dos últimos cinco anos, além de dados adicionais como e-mails, números de telefone, IPs e informações sobre familiares próximos.
2. Quem será afetado por essa mudança?
Cidadãos dos 42 países do Programa de Isenção de Visto, incluindo Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Coreia do Sul, Austrália e outros. Brasil não faz parte do programa então turistas brasileiros continuam a solicitar visto tradicional, nos consulados.
3. Por que o governo americano quer esses dados?
Segundo o CBP, a medida atende a uma ordem executiva de 2025 que orienta reforçar a segurança nacional e identificar possíveis ameaças antes do embarque.
4. Isso vai atrasar a aprovação do ESTA?
É possível. Especialistas e grupos do setor turístico apontam que um número maior de dados pode gerar análise mais lenta e mais solicitações sinalizadas para verificação adicional.
5. Quando as novas regras podem entrar em vigor?
A proposta está em consulta pública até fevereiro de 2026. Depois disso, passará por avaliação da Casa Branca. Se aprovada, pode ser implementada gradualmente nos meses seguintes.
