No momento em que se discutem leis mais rigorosas para quem comete qualquer tipo de violência sexual contra mulheres, uma das apresentadoras de maior credibilidade no Brasil, Ana Maria Braga, revelou que já foi vítima de assédio moral e sexual durante a carreira. Ela considera que a sua revelação pode servir para que outras mulheres não tenham medo de denunciar os abusos sofridos.
A apresentadora do programa ‘Mais Você’ afirmou que chegou a quebrar o braço na escada ao sair correndo quando sofreu o assédio. Ela falou sobre a necessidade de mudar a cultura do país como algo essencial para não mais se culpar a vítima. “Sempre acham que a culpa é da agredida. É difícil quebrar a cadeia do machismo burro e absoluto”, disse.
O assédio sexual é uma das grandes aflições que atingem mulheres de todas as idades, classes e etnias. Este crime tira a liberdade da mulher de ocupar determinados espaços públicos, de andar sozinha em certos horários ou de escolher o que vestir por medo de sofrer alguma violência pelo machismo enraizado na cultura de vários países, não só do Brasil. A título de esclarecimento, o assédio não é apenas o ato sexual em si. Entram neste tipo de violência cantadas rejeitadas, piadas e comentários que colocam a vítima em situação de coação psicológica.
Segundo uma pesquisa divulgada em 2011 pelo grupo ABC, nos Estados Unidos, uma em cada quatro mulheres sofreu assédio sexual no trabalho. 59% delas não denunciaram o agressor por acreditarem que a denúncia não surtiria efeito. O assédio não é só machista, é racista também. No Brasil os dados são ainda mais assustadores: uma pesquisa feita com 2.285 mulheres entre 14 e 24 anos, com renda familiar de até R$ 6 mil, moradoras de 370 cidades brasileiras, revela que 94% delas já foram assediadas verbalmente e, 77%, sexualmente.
O combate às opressões de gênero parte de casa, onde também se torna cenário corriqueiro de casos de assédio sexual contra mulher. É uma questão gritante, porém silenciada na maioria dos casos, pois a mulher não tem autonomia para se defender e denunciar, geralmente por falta de apoio e cumplicidade da mãe que, para atender e agradar o marido ou companheiro, prefere se opor a filha. Em muitos casos a própria esposa sofre essa prática pelo marido, consequência da recusa, resulta em estupro ou estupro conjugal.
O machismo que mata
O estupro é uma das piores consequências da cultura machista e da sociedade patriarcal em que ainda vivemos. Este crime silencia, traumatiza, fere e mata crianças, adolescentes e mulheres todos os dias, em todos os lugares do mundo. O assunto ganhou contornos ainda mais fortes nas últimas semanas, aonde ruas e redes sociais foram tomadas por campanhas que exigem medidas para coibir a violência contra a mulher.
Os manifestos foram motivados pelo estupro coletivo sofrido por uma adolescente de 16 anos no final de maio, no Rio de Janeiro. Ela foi estuprada por 30 homens enquanto estava desacordada após uma festa na cidade. O crime repercutiu mundialmente e envergonhou o Brasil mostrando uma triste realidade: ainda precisamos avançar muito na luta pela equidade de gêneros no país e no mundo.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência física ou sexual. Além disso, cerca de 120 milhões de meninas já foram submetidas a sexo forçado e 133 milhões de mulheres e meninas sofreram mutilação genital. Para diretora da ONU Mulheres, a violência contra a mulher é a violação de direitos humanos mais tolerada no mundo e é preciso enfrentar esse crime com urgência por todo o mundo.
A boa notícia é que, aos poucos, os números parecem estar mudando, pois 125 países já adotaram leis contra o assédio sexual e 119 contra a violência doméstica. No entanto, apenas 52 países do mundo possuem leis contra o estupro conjugal. A luta para punir de forma mais eficaz os crimes contra a mulher é uma forma de avançar contra a cultura do machismo e salvar vidas diariamente. Esta luta não pode parar.
Para saber um pouco mais sobre os dados da violência contra a mulher imigrante nos Estados Unidos e as leis que as amparam, leia nosso artigo: https://www.soulbrasil.com/mulheres-imigrantes-tem-protecao-de-lei-americana-contra-violencia-domestica/
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