Fumaça e incêndios são uma parte natural da vida no oeste americano. Mas o céu cinzento têm se tornado mais comum na última década, à medida que a região enfrenta uma seca cada vez maior. Alguns californianos, especialmente os com asma, começaram a se perguntar por quanto tempo seus pulmões podem suportar um clima marcado por temporadas de incêndios florestais mais longas e mais violentas.
Houve uma média de 49 dias de fumaça em toda a Califórnia no ano passado — quase duas semanas a mais do que em 2011, de acordo com uma análise de dados meteorológicos federais por cientistas do Centro Sean N. Parker para Pesquisa de Alergia e Asma da Universidade de Stanford.
Evan Underwood, de 28 anos, ficou sem fôlego para esvaziar a máquina de lavar louça ou andar pelo apartamento nas últimas duas semanas, enquanto os incêndios ocorriam em todo o norte da Califórnia. Uma ida ao supermercado o deixa hiperventilando, com o peito latejando de dor. “Se as coisas não ficarem sob controle, teremos que mudar”, disse ele, morador de Bay Area há dois anos.
Nos lugares mais afetados do oeste, algumas pessoas agora passam os dias enclausuradas dentro de casa, até que aplicativos de qualidade do ar lhes digam que é seguro fazer uma corrida rápida ou andar de bicicleta. Outros estão lacrando portas e janelas e acumulando purificadores de ar e filtros pesados, para quando puderem ligar o ar-condicionado. Pneumologistas e especialistas em asma dizem estar lotados de ligações de pacientes desesperados.
Algumas pessoas estão indo embora, abandonando a Califórnia para ficar com parentes em qualquer outro lugar onde possam respirar sem tossir. Após dias de tosse e sofrimento, Cauley, o marido e dois filhos pequenos fizeram a viagem de 13 horas até Seattle para ficar com os pais dela até o céu limpar. “Essa é a única coisa sobre a qual podemos fazer algo”, disse ela. “Vamos lidar com qualquer que seja o estado da casa quando voltarmos.” Outros fugiram para a costa ou dirigiram-se para qualquer cidade próxima que pareça ter o melhor índice de qualidade do ar, pois os ventos empurram a fumaça em diferentes direções.
Estudos descobriram que as ligações para a polícia e as visitas ao pronto-socorro para problemas cardíacos e emergências respiratórias aumentam horas e dias após o início dos incêndios florestais. As chamas queimam não apenas árvores, mas também carros, tinta e plástico. Vendavais de pequenas partículas arrotadas no fogo podem viajar centenas de quilômetros e acabar na garganta de alguém, correndo pela maioria das máscaras como água por uma peneira. As partículas podem irritar os seios da face, olhos e garganta, e inflamar as bolsas pulmonares que levam oxigênio ao sangue.
Pesquisadores descobriram que o número de dias cheios de fumaça estava crescendo mais na parte sul do vale de San Joaquin, na Califórnia, onde trabalhadores rurais imigrantes passam longos e quentes turnos engolindo o ar carregado de poeira, produtos químicos e exaustão de equipamentos agrícolas. O aumento da fumaça foi mais lento nas áreas desérticas, onde há menos para queimar. “Vimos na Califórnia, na última década, incêndios de magnitude e intensidade totalmente sem precedentes”, afirma Chris Field, diretor do Woods Institute for the Environment em Stanford.
Enquanto centenas de incêndios florestais queimaram quase 1,4 milhão de acres de combustíveis secos e crescidos em toda a Califórnia e mais outros estados, os médicos disseram ter visto um aumento nas reclamações de pacientes. “Foi um desastre”, relata James D. Wolfe, alergista, imunologista e professor clínico de Stanford. “Era um paciente atrás do outro, a cada 15 minutos, chiando, sem conseguir dormir. É terrível”.
O médico temia que uma mãe e uma filha de 15 anos tivessem se exposto ao coronavírus após participarem de uma festa que havia sido transferida para um local fechado para evitar a fumaça. Poucos dias depois da festa, elas tiveram febre, queda do nível de oxigênio e tosse. A filha disse ao Dr. Wolfe que nunca se sentiu tão mal na vida. “A poluição os moveu para dentro de casa”, disse ele. “Eles estavam tentando fazer o melhor que podiam, e o tiro saiu pela culatra”.
O vírus complicou os planos de relaxamento das pessoas. Os que tiraram férias improvisadas ou ficaram com a família após outros incêndios agora dizem estar confusos com os riscos das viagens aéreas ou com a questão de saber se podem morar com segurança com membros da família até que o ar em casa esteja mais seguro.
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