Por Stevonne Ratliff
Ao invés de optarem por uma viagem de férias ao Havaí ou à Europa, muitos afroamericanos preferem ir à Costa Brasileira. Para afroamericanos em férias, o Brasil parece ser mais que um lugar para descansar e relaxar. O país serve como Meca para aqueles em busca de história negra, cultura e promessa de democracia racial.
Poucos afroamericanos aventureiros tornam-se ícones de rentabilidade às viagens de negros Americanos ao Brasil. Mulheres negras africanas fundaram a agência de viagem “Soul Planet” na intenção de inserir a cultura africana e afrobrasileira na história de afroamericanos de classe média com viagens a Salvador e Rio de Janeiro. O fundador da agência Avocet, Charles O. Smith, criador da publicação nacional e feminina afroamericana – Essense, por exemplo, espera que as viagens culturais ao Brasil estabeleçam pontes entre essa diáspora Africana. Ele explica, “Nossa missão na agência Avocet é assegurar que nossos convidados tenham uma única e autêntica experiência de viagem, que seja enriquecedora e divertida, e que os engajem em um bom nível emocional, físico e espiritual.”
No passado, o pouco conhecimento que o afroamericano tinha do Brasil Negro foi adquirido através de livros escolares. Entretanto, maiores oportunidades e crescimento econômico dos afroamericanos têm permitido que muitos vejam nosso país-irmão com seus próprios olhos. A interação direta com o Brasil tem tido uma influência maior na cultura afroamericana atual. Mas para aqueles que não podem viajar, o Brasil é disseminado nos Estados Unidos através de música, filme e esportes.
Mais que nunca, o estilo brasileiro tem dado sabor às cenas de músicas americanas. Artistas como Kelis e Pharell Williams experimentam o samba, “baile” funk e batucada ao mesclar tais ritmos ao Hip-Hop. A rede de televisão BET e MTV exibem vídeos de rappers como Snoop Dog e Ja-Rule quando passeiam pelo Rio – Cidade Maravilhosa, com um ar diferente de doce Hip-Hop. Mesmo que os ritmos afro-americanos e brasileiros tenham misturado-se por séculos, ícones da música moderna como Sérgio Mendes traça explícitos paralelos e semelhanças entre o Hip-Hop e o samba brasileiro. Seu álbum “Sem tempo” ilustra o Hip-Hop americano e artistas R&B como membros da banda Black Eyed Peas, John Legend, Índia Arie, e Q-Tip.
Filmes narrando histórias de negros brasileiros tornam-se rapidamente clássicos no arquivo de filmes afroamericanos. Eles são adicionados à coleção de DVDs de famílias negras como “Vindo à América” e “Cor de Rosa”. Afroamericanos ainda consideram a experiência de afrobrasileiros muito similar, quando vêem tais filmes. Os sons do Brasil provam ser ainda mais interessantes que as telas exibem, uma vez que as legendas em inglês traduzem uma linguagem estranha e hipnótica que não é nem de longe espanhol.
O Brasil na Cultura Afroamericana
Filmes brasileiros servem como referencial maior para afroamericanos viajarem e saberem mais sobre o Brasil. As imagens de belezas exóticas do filme Orfeu Negro continuam impulsionando os financeiramente bem-sucedidos afroamericanos ao Brasil. A lista de trilhas sonoras de filmes de Antonio Carlos Jobim soam para eles como uma música de alerta e dá esperança de encontrar uma negra Eurydice nas ruas de Copacabana.
Até mesmo o crime e a violência das grandes cidades do Brasil têm se tornado uma fascinação. Jovens negros que por décadas veneraram gangues americanas como Don Corleone (Granfather) e Tony Montana (Scarface) têm adicionado o filme brasileiro Cidade de Deus, lançado em 2002, às suas coleções sangrentas. Bandidos viciados com atiradores de elite e o cangaceiro-vilão “Zé Pequeno”, rival de negócios de criminosos como Nino Brown no filme New Jack City.
O fato de Cidade de Deus ser baseado em história real impacta bem mais que outros filmes que deixam no ar dúvidas quanto à autenticidade dos guetos americanos e cidades menores. Neste caso, até mesmo o elemento criminoso prova ser mais um estímulo do que desestímulo a viagens para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro; atrativos para os maldosos que “têm que têm que ver para crer”.
Embora a máquina de entretenimento do Rio de Janeiro sirva de estímulo aos afroamericanos irem ao Brasil, muitos procuram explorar o lado mais profundo, espiritual de laços históricos entre afroamericanos e afrobrasileiros. Se a África é a terra-mãe para afroamericanos, o Brasil é definitivamente a terra-irmã, literalmente e figurativamente. No início de 1548, as fronteiras do Brasil abrigaram 5 milhões de africanos do oeste que estavam sendo negociados para escravidão pelos portugueses.
Este grupo, totalizado em 40% daqueles vendidos no Atlântico, valiam sete vezes mais que nos Estados Unidos. Em circunstâncias particularmente miseráveis, as famílias eram separadas. As mães biológicas, pais, irmãos, e irmãs destes africanos eram às vezes vendidos e enviados para outros países; muitos deles para a América do Sul.
Conhecendo a história, afroamericanos que viajam ao Brasil não podem calar a pergunta: “E se meus ancestrais foram trazidos para a Bahia ou Pernambuco, ao invés de Mississippi?” Após algum tempo em Salvador (Capital da Bahia), eles sentem movidos pelo ritmo da percussão e do Axé, ao invés do sensual jazz sulista. Falando uma língua portuguesa do “Negro Baiano”, ao invés de Gullah ou Creole. Uma viagem à Bahia pode suscitar uma pergunta, “e se os tambores das casas de candomblé conduziram nossas mães e irmãs ao estado de transe de Yemanjá ou Oxum, ao invés do coro santo induzido da igreja?”.
Muitos viajantes afroamericanos acham isso fraternal. Um Brasil negro e Estados Unidos negro – duas manifestações diferentes da mesma mãe África. Nem mesmo séculos de escravidão poderia fazer perder a essência e os laços familiares entre ambos. As possibilidades de revelar os próprios mistérios frequentemente trazem afroamericanos à cidade de Salvador, coração da Bahia. Com uma predominante 80% da população negra, Salvador tem a maior população de descendentes Africanos no mundo fora do continente Africano.
Outro atrativo além da autodescoberta é a promessa de um Brasil da “democracia racial”. Ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil não implementou o sistema de pós-escravidão de Jim Crow. Para afroamericanos, a era da pós-escravidão consistiu em discriminação e segregação legal. Até pior, negros eram submetidos a ódio racial das piores formas. Isto permitiu aos americanos brancos assassinarem, aterrorizarem, barbarizarem, e saquear a vida, a liberdade e a propriedade de famílias negras, “em nome da lei”. Até quando vamos em frente com esta era horrível da história humana? Desiludidos afroamericanos ainda veem o Brasil como uma sociedade racista cega de minoria negra. Para aqueles que não são visionários, o Brasil parece ser uma utopia para o espírito negro passivo.
Muitos brasileiros – negros, brancos e “outros”, orgulham-se da mistura racial de sua população e concordam com o mito do país da democracia racial. Na realidade, as forças opressivas que controlam os estagnados afrobrasileiros surgem com mais frequência na forma de pobreza e corrupção política. Não é raro que turistas americanos encontrem muitos afrobrasileiros durante suas estadias nas praias mais quentes do Rio. Uma maioria de brasileiros negros e pessoas mestiças estão amontoadas nas favelas. Muitos em morros vizinhos ao mar, de onde se estouram guerras por conta do comércio internacional de cocaína e a pobreza do terceiro mundo que inclui crianças faminta e sem educação básica. Favelas são amplamente o código nome do caos econômico e político do país.
Racismo Oculto na Sociedade Brasileira
Entretanto, eles também falam da história de segregação social. Uma realidade que é massivamente apagada das lembranças de brasileiros, tanto negros quanto brancos. Isto é feito com esperança de manter a democracia racial. Ao contrário dos Estados Unidos, brasileiros negros ainda não são vítimas de Jim Crow. Entretanto, a eles são desveladamente negados empregos e entrada em lugares públicos como bons hotéis e restaurantes. Apesar da condição econômica, aos Afro-Brasileiros se negam vistos para viagens internacionais. Atentados à sistemática de aprimoramento como ação afirmativa, diante da violência negra.
A verdade é que o Brasil é uma sociedade altamente racista, mas que abraça suas raízes Africanas num nível superficial. A maioria dos brasileiros ignoram o racismo ou nega as necessidades e contribuições de sua população negra. É muito bem mascarado. O negro brasileiro pode ser amado, usado e ignorado, pois sua cultura é abraçada com um sorriso. Entretanto, a apatia é o maior inimigo do avanço negro no Brasil, como muitos acham mais fácil negar suas raízes negras como se tivessem tido uma avó branca.
Esta atitude não os livrará das favelas. Uma democracia racial não pode existir se os indivíduos não reconhecerem e tentarem mudar as injustiças raciais. Felizmente, movimentos políticos e culturais em Salvador são a linha de frente do estabelecimento do orgulho, identidade e poder negro. afroamericanos que viajam ao Brasil em busca da grande democracia racial ficam seriamente desapontados ao sentir também, o racismo e os efeitos da escravidão na própria pele.
Afroamericanos que viajam ao Brasil são como qualquer um. Eles vêm ao Rio, uma cidade urbana com muitas belezas naturais, e à Bahia, casa das baianas negras e capoeiristas acrobáticos nas ruas de Salvador. Ainda, laços familiares do Brasil permitem ao país manter-se num lugar privilegiado no coração dos afroamericanos. O Brasil negro e os Estados Unidos negro são como irmãs-gêmeas que foram criadas em famílias diferentes.
Desde que partiram da mãe África, seu tempo no novo mundo tem sido vagamente diferente, ainda que sutilmente com muitas similaridades. Felizmente, o mundo se torna menor graças ao fortalecimento econômico e avanços na mídia e na tecnologia. Viajar ajuda as duas irmãs perdidas da África encontrarem uma à outra criativamente, politicamente e espiritualmente. Afroamericanos visitam o Brasil na expectativa de encontrarem um lar distante de casa.
*Stevonne Ratliff é uma escritora e empresária californiana e afroamericana que vive no Rio de Janeiro, Brasil. Anos atrás, ela usou seus benefício de desemprego para iniciar sua própria linha de produtos naturais para cabelos e cuidados com a pele, Beija-Flor Naturals em 2009.
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