city 1868530 1920Nos últimos quatro anos, universidades americanas descobriram potenciais efeitos negativos da solidão para o organismo humano. Com base nas conclusões apresentadas, é possível visualizar o isolamento como um problema de saúde pública, visto que afeta o bem-estar individual e a expectativa de vida. Por conta disso, o governo britânico chegou a criar um gabinete exclusivo para tratar da questão.

Pesquisadores da Florida State University College of Medicine afirmaram, em 2017, que a solidão pode tornar uma pessoa mais vulnerável a doenças neurodegenerativas, tais quais depressão, hipertensão e diabetes, além de aumentar em 40% o risco de demência. Em 2018, um estudo da Universidade de Chicago alongou a lista de riscos da solidão, ao revelar que a ausência de interação social pode ser tão danosa quanto o cigarro.

Já a Universidade da Califórnia, em San Diego, publicou recentemente dados sobre a incidência etária da solidão. De acordo com o estudo, publicado no final de novembro no The Journal of Clinical Psychiatry, o isolamento é mais intenso entre os jovens. Ele atinge seu pico entre os 20 a 29 anos da vida de um indivíduo. Por outro lado, os menores efeitos possíveis acontecem dos 60 anos em diante.

Os pesquisadores identificaram os fatores psicológicos e sociais que levam a padrões de solidão em diferentes faixas etárias através de uma análise com mais de 2.800 participantes, todos eles americanos e com idade entre 20 e 69 anos. Assim, os estudiosos encontraram uma série de prenúncios de solidão ao longo da vida.

O que pode influenciar

Em todas as idades analisadas, foi observado que pessoas com níveis mais baixos de compaixão, empatia, relações sociais, sem relacionamentos amorosos e com maiores distúrbios de sono são mais predispostas a se sentirem solitárias. Do mesmo modo, fatores como baixa autoconfiança social e maior ansiedade foram associados à mais intensidade da sensação de solidão, exceto após os 60 anos. 

Os sexagenários seriam menos afetados pelo isolamento pela associação inversa entre solidão e sabedoria, dentre outros motivos, que tende a ser maior entre as pessoas dessa faixa etária. Para os mais velhos, a educação e as queixas de memória são fatores de maior influência na sensação de se estar só. 

De acordo com Tanya Nguyen, autora principal do estudo da Universidade da Califórnia, os jovens em torno dos 20 são mais afetados pela solidão por conta dos momentos de grande estresse comuns à idade. Afinal, geralmente é nessa fase onde se vivencia a pressão para consolidar uma carreira profissional e encontrar um parceiro para a vida. 

Tanya, que é professora clínica assistente no Departamento de Psiquiatria da UC San Diego School of Medicine, “Muitas pessoas nessa década também estão constantemente se comparando nas redes sociais, e estão preocupadas com quantas curtidas ou seguidores eles têm”. Ela complementa afirmando que o nível de autoconfiança é mais baixo entre esses jovens, o que aumentaria o nível de solidão.

O estudo também detectou um segundo pico de solidão, vivenciado aos 40 anos. Tal se dá porque, nessa fase, enfrenta-se novos desafios físicos e problemas de saúde. “As pessoas podem começar a perder entes queridos próximos a elas, ao mesmo tempo em que seus filhos estão crescendo e se tornando mais independentes. Isso tem um grande impacto sobre o seu propósito e pode causar uma mudança na autoidentificação, resultando em maior solidão”, afirma Tanya.

Como ser menos solitários

Contudo, existem formas de combater os efeitos negativos do isolamento. Empatia e compaixão, segundo os pesquisadores, atuam como componentes de comportamentos pró-sociais, o que os torna aliados no combate à solidão.

O autor correspondente do estudo, Dilip V. Jeste, explica que “a compaixão parece reduzir o nível de solidão em todas as idades, provavelmente permitindo que os indivíduos percebam e interpretem com precisão as emoções dos outros juntamente com o comportamento útil para com os outros, aumentando assim sua própria autoeficácia social e redes sociais”.

Jeste, que é neuropsiquiatra e reitor associado sênior da UC San Diego School of Medicine, diz que os prenúncios da solidão, que variam ao longo das décadas, sugerem a necessidade de metas personalizadas de prevenção e intervenção. “Queremos entender quais estratégias podem ser eficazes na redução da solidão durante este momento desafiador”, diz.

Ele ressalta a especial relevância dessas descobertas por conta da pandemia global da Covid-19: “A solidão é agravada pelo distanciamento físico necessário para impedir a propagação da pandemia”, finaliza Dilip V. Jeste.

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