Os consumidores nos Estados Unidos estão comprando mais carros usados do que nunca e, de certa forma, isso aparenta uma contradição no momento econômico do país, já que muita gente se encontra sem trabalho ou procurando gastar menos em consequência e após a pandemia. Por outro lado, existe o receio de compartilhar uma viagem de uber ou lyft com o motorista ou de usar o ônibus ou o metrô.
Em virtude da atual situação econômica, esses consumidores deixaram mais do lado a compra de carros novos em pagamento de 60 meses – e muitas vezes sem dar nada de entrada para quem tem bom crédito -, para comprar à vista carros usados.
Por que comprar carros usados?
É válido lembrar que com US$ 3 ou 4 mil é possível comprar um carro bom e de confiança nos EUA, além disso, um compromisso adicional de US$300 ou US$400 por mês por alguns anos assusta muita gente. Quem opta por pagar financiado, ao final dos 60 meses, no geral, dependendo do score de crédito e de quanto pagar em “finance charge” (juros), a pessoa pode pagar até o triplo do valor do carro.
Outro fator para a corrida por comprar um carro usado tem sido não depender de ônibus, metrôs, uber e lyft, etc, e o medo de ter que estar exposto a outras pessoas dentro desses transportes públicos. A demanda por carros usados também foi alimentada por uma paralisação de cerca de dois meses na produção de carros novos no começo desse segundo semestre de 2020.
Com isso, em todo o país, os preços dos carros usados dispararam. A sabedoria convencional de que os carros novos tendem a perder um valor de mercado muito rápido, logo que deixam a concessionária, está em alta. Só em julho, o valor médio dos carros usados saltou mais de 16%, de acordo com Edmunds.com.
Em junho, as concessionárias de automóveis venderam 1,2 milhão de carros (incluindo caminhonetes) usados, um aumento de 22% em relação ao mês de junho de 2019. Foi a maior venda de total mensal de carros usados desde 2007. O “boom” virou o negócio de venda de carros usados de cabeça para baixo. Com a alta demanda e a pouca oferta, muitas concessionárias têm investido mais fortemente seu marketing nesse mercado. Algumas tem instruído seus vendedores a fazerem ligações frias para clientes perguntando se eles estariam interessados em vender seus carros usados.
Esse “boom” está em sintonia com outras tendências inesperadas em uma recessão que deixou milhões de pessoas desempregadas, devastou companhias aéreas, restaurantes, hotéis e milhares de pequenos negócios. Apesar da dor de uns e dificuldades de outros, a pandemia foi uma dádiva para muitos, como pode ter sido para os fabricantes e revendedores de alimentos enlatados e processados, e agentes imobiliários e donos de imóveis localizados em subúrbios, e que estava em baixa nos últimos anos.
Carros novos sendo menos comprados nos EUA?
O desejo que foi sempre crescente nos EUA de ter um carro novo está em pausa, vamos dizer assim. Por outro lado, essa pausa foi motivo para líderes e políticos enviarem uma mensagem à população. O prefeito Bill de Blasio, de Nova York, por exemplo, que dirige um S.U.V., recentemente implorou aos nova-iorquinos, muitos dos quais não possuem veículos, que não comprassem um carro, dizendo que eles representam “o passado”.
Parte dessa mania repentina por carros usados deriva do aumento de anos no preço de carros novos. A média do preço de um carro novo nos EUA para 2020 está em US$38 mil, muito além do que a grande maioria dos residentes nos EUA podem pagar. Além disso, muitos consumidores têm em mente que a tecnologia está a favor e que os carros de hoje, com 4 ou 5 anos de uso, são bem melhores do que os mesmos de 4 ou 5 anos de uso do passado.
Os negócios estão tão dinâmicos que os carros usados de baixa milhagem não ficam nos pátios das concessionárias por muito tempo. Muitas vezes não completam 24 horas. Segundo autoridades no assunto, esse ano excepcional para os carros usados irá, inevitavelmente, terminar. A pandemia vai passar, as montadoras vão recuperar a produção, os lotes dos revendedores vão inchar com novos veículos novamente e os incentivos dos fabricantes vão voltar com força total.
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