Por Laís Oliveira
Se 2020 já não tivesse sido marcado por uma pandemia que colocou os Estados Unidos como o país número um no mundo com mais mortes diárias por vários meses, a violência também marcou o ano e segue em 2021 fazendo vítimas e surpreendendo com os números acentuados.
Assaltos, furtos, homicídios, tiroteios, ataques racistas, estupros. A tendência é verificada em diferentes análises, feitas tanto por órgãos do governo, como o FBI, quanto por pesquisadores independentes. E o aumento ocorre em todas as regiões do país, em cidades grandes e pequenas, governadas por democratas e republicanos.
Os números já superam marcas históricas em muitos casos. Los Angeles, por exemplo, registrou mais de 300 homicídios em 2020, o que não ocorria desde 2009. Oakland, também na Califórnia, ultrapassou a marca de 100 homicídios pela primeira vez em sete anos.
Analistas ressaltam que é muito cedo para saber o que está causando esse aumento, mas lembram que a pandemia de covid-19 fez de 2020 e está fazendo de 2021 um ano atípico e teve impacto em diversos fatores, desde aumento de estresse devido ao isolamento e temor da doença até uma explosão na venda de armas de fogo e redução de programas de prevenção de violência por conta das regras de distanciamento social.
Desde janeiro a março deste ano, os números seguem em alta. Só para se ter noção, em um período de sete dias, os Estados Unidos registraram sete tiroteios em massa, em um levantamento feito pela rede CNN.
A sequência surpreende, assusta e revela um aumento da discriminação contra asiáticos, em sua maioria, desde o início da pandemia. No dia 16, oito pessoas morreram, entre elas seis mulheres asiáticas, foram mortas por um atirador em um ataque a três casas de massagens em Atlanta, na Geórgia. A suspeita é de que o ataque foi motivado por discriminação.
No dia 17, em Stockton (Califórnia), cinco pessoas foram baleadas enquanto preparavam uma vigília. Elas não tiveram ferimentos graves. No dia seguinte (18), quatro pessoas foram levadas ao hospital após um tiroteio próximo a Portland, em Oregon.
Já no sábado, dia 20/03, foram registrados três incidentes. Em Houston, cinco pessoas foram baleadas após uma confusão em uma boate. Uma das vítimas foi internada em estado grave. Em Dallas, um homem atirou e feriu oito pessoas, matando uma. A motivação ainda é desconhecida. No mesmo dia, na Filadélfia, uma pessoa morreu e outras cinco ficaram feridas em um tiroteio em uma festa ilegal (devido às restrições durante a pandemia) com pelo menos 15.
Jeff Asher, especialista em segurança pública e co-fundador da empresa AH Datalytics, revelou, em uma entrevista à BBC News que analisou uma amostra de 51 cidades americanas, com dados de homicídios ocorridos pelo menos até o final de setembro de 2020, e observou aumento de 35,7% em comparação com o mesmo período de 2019.
Em Nova York, foram 405 homicídios até 15 de novembro de 2020, aumento de 37,3% sobre o mesmo período em 2019. Chicago registrou 692 homicídios até 15 de novembro, salto de 53,4%.
Para Asher, “os Estados Unidos fazem um péssimo trabalho em contabilizar e divulgar dados sobre crime. Por isso, coletar dados de grandes cidades é uma maneira de obter uma boa estimativa sobre a tendência nacional”.
Mas o analista ressalta que o aumento ocorre em cidades de todos os tamanhos. Em Milwaukee, no Estado de Wisconsin, o salto foi de 102,4% em 2020.
As causas ainda não podem ser totalmente esclarecidas, pois são alvo de estudos. Mas a pandemia certamente é um deles. Especialistas e policiais listam diferentes impactos provocados por esse fato. O distanciamento social, por exemplo, restringiu ações de prevenção e aconselhamento em várias comunidades afetadas pela violência, interrompendo programas que vinham tendo sucesso na redução de crimes em determinadas áreas.
O fechamento de escolas por conta do coronavírus é citado por policiais em algumas áreas como um dos fatores que pode ter levado a um aumento de crimes praticados por jovens.
Igrejas, restaurantes, bares e outros locais de lazer também foram fechados em determinados períodos e cidades durante a pandemia, aumentando o isolamento e, em muitos casos, a sensação de ociosidade. Além disso, a pandemia levou milhares de americanos a perderem o emprego. E o impacto social da pobreza, da vulnerabilidade, e muito mais aumentam as taxas de violência.
Por fim, também houve aumento histórico nas vendas de armas de fogo, em meio aos temores gerados pela pandemia. Calcula-se que já tenham sido compradas mais de 20 milhões de armas neste ano, superando a marca anterior de 16,6 milhões em 2016.
E de acordo com a BBB News, em um estudo sobre os meses iniciais da pandemia, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Davis encontraram relação entre aumento na compra de armas e salto na violência.
A violência nos EUA foi um dos temas da nossa última live no projeto Com Vocês na qual convidamos dois policiais para falarem sobre o tema. Se você quer assistir, basta clicar aqui.
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