Por Laís Oliveira
É muito possível que, mesmo sem perceber, você já tenha entrado em contato com algum autista num dado momento da sua vida. Caso não tenha acontecido, deve ter lido algo sobre, uma notícia, um artigo científico sobre o autismo. Talvez até tenha ouvido alguém contar uma história a respeito de um conhecido, amigo, ou parente autista.
Felizmente, o autismo não é mais um tabu, um mistério rodeado de preconceito. Hoje pessoas autistas são vistas como capazes, dotadas de direitos e que merecem respeito.
Já na arte, há uma longo trajeto a se caminhar para que o autismo seja representado de forma realista, menos caricata e o mais importante: com atores autistas interpretando personagens no aspectro autista.
Quando a indústria do cinema e a TV incluem adultos com espectro autista em seus roteiros, geralmente eles são representados como sábios, geniais, tal qual o personagem de Dustin Hoffman em “Rain Man” (1988).
O filme, por sinal, conquistou diversos Oscars como de melhor direção, melhor roteiro, melhor filme e melhor ator, mesmo este não sendo necessariamente autista. Apesar disso, Rain Man foi importante e atraiu a empatia e a atenção de muitas pessoas quanto ao seu tema.
Mas as coisas mudaram nos últimos 33 anos. Debates sobre representatividade e a importância de retratar de forma mais fiel e menos caricata as mais diversas atipicidades ganharam as telas.
Jasom Katims sabe disso. O produtor de “Friday Night Lights” e “Parenthood” chega agora com “As We See It”, lançada em janeiro deste ano, para retratar uma versão mais realista do autismo adulto.
O próprio Katims já tratou sobre autismo em “Parenthood” – quando criou um jovem personagem com síndrome de Asperger – inspirado, em parte, por seu próprio filho. Este personagem foi interpretado pelo ator não autista Max Burkholder.
Já “As we see it” chegou para inovar. A série é um drama da Amazon Prime que acompanha a vida de três jovens adultos e colegas de quarto com autismo, Jack (Rick Glassman), Harrison (Albert Rutecki) e Violet (Sue Ann Pien), e as situações diversas que vivenciam na família, no amor, no emprego e os desafios de viver em Los Angeles.
Um dos pontos mais interessantes da série é o fato de os três atores principais estarem, de fato, no espectro autista. A escolha, até certo ponto, foi inovadora e muito elogiada, isso porque, em filmes recentes como “Please Stand by” (2017), e “Music” (2021), e mesmo em séries famosas e ainda em cartaz em streaming, como “The Good Doctor”, da ABC, e “Atypical”, da Netflix, papeis de autistas continuam sendo interpretados por ator não autistas.
O objetivo de Katims em “As we see it” é quebrar esse padrão e dar início a uma nova forma de enxergar todo o potencial de atores não convencionais e criar, assim, uma série profundamente respeitosa, cheia de representatividade e, claro, que renda boas risadas.
A produção da série também envolve assistentes neurodiversos, tanto no set e na equipe de roteiristas, quanto atores coadjuvantes autistas, como Tal Anderson e Naomi Rubin, de “Atypical”.
Já Elaine Hall, fundadora do Miracle Project, um programa de teatro e cinema para crianças autistas, foi contratada para garantir que o set se tornasse um ambiente acolhedor e que não fosse causador de crises nos atores.
A produção respeitosa, cheia de afeto e com ótimo roteiro, possui oito episódios já disponíveis na Amazon Prime.
Facebook Comments