Paul Fernando Schreiner foto revista epoca editadaO brasileiro Paul Fernando Schreiner, de 35 anos, foi deportado após 31 anos vivendo nos Estados Unidos. Mesmo adotado aos cinco anos de idade por um casal americano, ele não teve a nacionalidade americana reconhecida e o seu caso representa uma indefinição na justiça.

Em entrevista à revista Época, ele contou que, em outubro de 2017, quando seguia para o trabalho, foi parado em uma blitz do U.S. Immigration and Customs Enforcement (ICE).

“Pediram meus documentos, eu entreguei: carteira de motorista, documento de seguridade social. Perguntei pelo que eu estava sendo acusado, me disseram que estava sendo deportado porque era brasileiro e ilegal”, disse ele. A deportação ocorreu em meados de 2018 e ele voltou para o Brasil, mais especificamente em Niterói, no Rio de Janeiro. “Isso é racismo, isso é monstruoso”.

“Não quero a nacionalidade brasileira”, diz Schreiner, que foi adotado no Brasil em 1988 por Rosanna e Roger, pelo intermédio da empresa Holt, especializada em adoções no exterior.

Apesar de ter todos os documentos de um cidadão do país e ter passado quase a vida toda nos Estados Unidos, Paul nunca teve a sua nacionalidade americana reconhecida. Os pais alegam que nunca quiseram impor a nacionalidade ao filho, o que acabou prejudicando.

“Queríamos que ele se sentisse naturalmente americano com o passar do tempo, em vez de sua nacionalidade lhe ser imposta. Acreditávamos que, ao entrar na adolescência e vivenciar a alegria e as oportunidades que todo jovem vive aqui, ele se sentiria mais à vontade para requerê-la”, afirmou a mãe, lembrando que seu marido, Roger, de 73 anos, chegou a lembrá-lo de resolver seus papéis quando Paul, já adolescente e sempre teimoso, decidiu sair cedo de casa. Hoje, os pais estão idosos e não possuem meios financeiros para ajudá-lo com advogados.

Aos 19 anos, Schreiner teve sua primeira passagem pela polícia por má conduta: por andar com meninas de 12 anos, teve contra si uma queixa de comportamento impróprio perto de menores, uma contravenção penal. Não foi preso, por ter direito a liberdade condicional.

famíia de paul

A família Schreiner na casa no Nebraska, EUA, com os filhos, todos adotados. Paul Fernando Schreiner está ao topo à direita Foto: Reprodução/Arquivo Família Schreiner via AP

Poderia, no entanto, ser deportado. Com base nesse registro, ficou sob custódia do ICE em 2004. No entanto, o consulado brasileiro negou a deportação afirmando que “a deportação de um adotado sem quaisquer laços com seu país de origem ‘seria considerada uma violação dos direitos humanos’ e que o Brasil não emite documentos de viagem para pessoas nessa situação, ‘a não ser que o próprio adotado o requeira’”. Paul permaneceu detido até obter um habeas corpus.

Porém, em 2005, aos 21 anos, Paul foi novamente preso sob a acusação de ter feito sexo com uma adolescente de 14. Nos autos do processo, a vítima, K.G., que havia fugido de casa, afirmou que o encontro foi inteiramente consensual. Para as leis de Nebraska, porém, tratava-se de abuso sexual de menor. “Jamais estupraria uma mulher. Isso é nojento”, disse Paul. Condenado, cumpriu sua pena integralmente, até ser libertado em 2015 e decidiu recomeçar a vida no Arizona, limpando piscinas.

A deportação completa um ano este mês (junho) e Paul Fernando Schreiner não vê a hora de retornar ao Estado de Nebraska. Além de Paul, este drama também pode acometer de 35 mil a 75 mil americanos adotados, segundo estimativas de grupos de adoção dos EUA.

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