Tudo começou em 2003 quando o jovem, de então 16 anos, Harold Winston, deixou o Brasil para trabalhar com cannabis. A motivação? A mãe do jovem tinha descoberto sua plantação de maconha no quintal de casa, em Minas Gerais. Após destruir o plantio, Harold viajou para a Holanda e, posteriormente para os EUA. Foi na terra do Tio Sam que o jovem fez carreira e se consolidou com sua marca própria: Bamf.
O amor de Harold pela cannabis começou ainda na adolescência, quando experimentou pela primeira vez, aos 16 anos. Na época, o jovem passou a ter acesso e consumir também grandes quantidades de haxixe trazido do Paraguai. Mas ele conta que sentia desgosto por consumir algo sujo e de procedência desconhecida. Seu sonho passou a ser produzir seu próprio concentrado, de alta pureza.
Desafiando as leis brasileiras, o adolescente começou a cultivar maconha em seu quintal em 2002, em quantidade suficiente para chamar a atenção das autoridades. O plantio, venda ou doação de maconha é considerado tráfico de drogas, sujeito a penas de 5 a 15 anos de prisão, além de multas. Já o uso da erva é uma contravenção, resultando em prestação de serviços comunitários e participação em cursos sobre os danos das drogas.
Harold, sem se importar com a lei, começou a cultivar maconha para sustentar seu consumo e para pesquisa. Ele passava o dia cuidando das plantas, estudando e discutindo técnicas de aumento de produção e extratos de qualidade, usando o site brasileiro Growroom, o maior fórum online sobre maconha na América Latina, com mais de 120 mil membros.
Foi nesta época que sua mãe descobriu que o filho plantava era maconha. Nilza Cozac, advogada, o chamou para dar uma bronca e ter uma conversa franca com Harold. Após uma longa conversa, a plantação do filho foi destruída e ele partiu para a Holanda.
O jovem revelou que na Europa viveu diversas experiências e passou por perigo por se envolver com cannabis. “Eu me envolvi com pessoas que achava que tinham maconha e haxixe bom. Na Holanda, a maconha é apenas tolerada. Durante os cinco anos que fiquei no país, vi muita gente sendo presa, inclusive conhecidos. Logo começaram a me dizer que eu estava no lugar errado, que eu deveria ir para a Califórnia”, revelou Harold.
Depois de fazer uma série de pesquisas e assistir a vídeos no YouTube, ele decidiu se mudar para os Estados Unidos. Primeiro, ele foi para Nova York, mas depois de um ano vivendo num clima frio e desconfortável e presenciando uma forte repressão policial contra usuários de maconha, ele resolveu se mudar, em 2009, para Los Angeles, Califórnia, e vive aqui até hoje.
Comércio de maconha na Califórnia
Após apenas três dias morando na “meca” da maconha, Harold adquiriu uma luz especial, projetada para seis plantas, e começou a cultivar sua própria erva em casa. Seis meses depois, expandiu para dez lâmpadas, e em um ano, já tinha 15. Apesar das facilidades, Harold percebeu que o mercado da Califórnia oferecia boas condições e legislação favorável, porém ainda era pouco desenvolvido. Esse cenário o incentivou a iniciar sua própria produção e buscar seu espaço no mercado.
Na Califórnia, a venda de maconha para uso recreativo é legal, mas a erva permanece como uma substância ilegal sob a lei federal dos Estados Unidos. Isso cria um conflito entre leis estaduais e federais que requer muita precaução. Por exemplo, imigrantes que buscam obter o green card ou cidadania americana podem enfrentar frustrações se tiverem problemas legais relacionados ao uso ou comércio de maconha, pois a lei federal negará tais solicitações.
Harold revela que, mesmo na Califórnia, já foi preso por estar com maconha. “Aqui é legal, mas ao mesmo tempo não é. Fui parado por um policial e tinha 20 kg de maconha no carro. Eu tinha uma licença e disse que mostraria ao policial, mas ele disse que rasgaria o documento caso eu mostrasse. A sorte é que nos EUA você não é condenado até esgotar o processo. Depois de dois anos e meio, fui absolvido”, afirmou.
Produzindo Haxixe
O primeiro passo de Harold Winston para entrar no mercado canábico foi convencer Nikka T, produtor do que muitos consideram o melhor haxixe vendido nos EUA na época, a ensiná-lo a fazer o produto. Haxixe é uma pasta densa feita da resina de maconha, fumada em bong, narguilé ou em cigarro- misturado com tabaco ou maconha.
Após pesquisas, Harold fez o primeiro haxixe usando uma técnica de extração à base de água, sem solventes, e teve a certeza de que tinha condições de produzir algo inédito e quis colocar seu produto à prova num campeonato. O produto de Bamf chamou a atenção logo no momento da inscrição por conta de sua cor clara – sinal de pureza – e por ser o único feito com água. A maioria dos concentrados é feita com gás butano – o mesmo usado em isqueiros.
Competindo com mais 40 pessoas, o brasileiro ganhou seu primeiro seu primeiro troféu. No dia seguinte, viu sua popularidade disparar e seu produto se tornar uma referência num dos mercados mais exigentes do mundo. A demanda foi tão grande que ele conta ter ficado sete dias sem dormir fazendo haxixe sozinho em sua casa para dar conta de alguns pedidos.
Algum tempo depois Harold fundou sua própria empresa, a Bamf, que aos poucos virou o nome com o que Harold passaria a ser conhecido no mercado canábico. O nome significa Badass Motherfucker e foi inspirado em uma cena do clássico filme Pulp Fiction. Na Califórnia, a Bamf começou a se tornar uma referência de qualidade ganhando oito Cannabis Cups consecutivas de melhor haxixe e passando a ser cultuado por usuários de maconha não só na Califórnia, mas ao redor do mundo.
Atualmente, cada grama de extrato ultraconcentrado de maconha produzido por Bamf pode custar até US$ 250 – o equivalente a R$ 1.000. O cristal de poucos centímetros, levemente amarelado, quase transparente, é exposto em lojas especializadas em maconha como uma joia e atrai os olhares de quem passa por ali.
Cannabis no Brasil
Quanto ao Brasil, Harold revelou que não pretende voltar mais para seu país de origem e se diz triste com a lei de drogas brasileira. Para ele, a legalização do cultivo, comércio e consumo da erva poderiam ser de grande ajuda à combalida economia do país.
Já o consumo recreativo divide opiniões de cientistas e médicos. O professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador, há 30 anos, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da universidade, Dartiu Xavier, condena o uso de maconha por adolescentes, como fez Harold.
“Eu acho que ninguém deveria fumar antes dos 18. Alguns autores dizem a partir dos 21. O ponto mais preocupante é que a maconha pode desencadear uma psicose, quando o usuário sai da realidade. Caso ele tenha uma predisposição para isso, a maconha pode funcionar como um gatilho”, explicou. Por outro lado, o médico afirma que no seu ponto de vista a regulamentação do uso da maconha diminuiria o consumo da erva no país e seria um avanço na área da saúde.
Quanto à regulamentação/legalização, as opiniões se aproximam. Bamf também acha que a legalização da cannabis no Brasil não deve demorar. Ele diz que diversos setores da sociedade estão fazendo uma grande pressão no sentido de permitir o consumo e o comércio da erva, como ocorreu antes da legalização em países como Canadá e Uruguai.
Facebook Comments