Enquanto o mundo atravessa a pandemia do novo coronavírus com tragédias diárias e avanço do número de mortos e infectados pela covid-19, a pergunta feita quase que diariamente é “Quanto tempo ainda falta para termos uma vacina contra o coronavírus?”.
Apesar dos avanços recentes nas pesquisas, os imunizantes contra a covid-19 mais avançados precisam passar por diversas etapas para testar segurança e resposta imune. Primeiro há uma fase exploratória, com pesquisa e identificação de moléculas promissoras (antígenos). Depois o momento é de fase pré-clínica, em que ocorre a validação da vacina em organismos vivos, usando animais (ratos, por exemplo). Só então é chegada à fase clínica, em humanos, em três fases de testes:
Fase 1: avaliação preliminar com poucos voluntários adultos monitorados de perto;
Fase 2: testes em centenas de participantes que indicam informações sobre doses e horários que serão usados na fase 3. Pacientes são escolhidos de forma randomizada (aleatória) e são bem controlados;
Fase 3: ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da eficácia/segurança e prever eventos adversos; só então há um registro sanitário.
Depois disso, as agências reguladoras precisam aprovar o produto, liberar a produção e distribuição.
Das 23 vacinas já na fase clínica, apenas duas aparecem em estágio mais avançado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ambas são testadas no Brasil: a ChAdOx1 desenvolvida pela Universidade de Oxford e a Astrazeneca e a Coronavac, do laboratório chinês Sinovac.
A desenvolvida em Oxford já na fase 3 e pretende recrutar mais de 50 mil voluntários pelo mundo. Entre eles, 5 mil profissionais de saúde brasileiros, em uma parceria com a rede D’Or e a Universidade Federal de São Paulo. Já a do laboratório chinês Sinovac enviará 9 mil doses aos brasileiros de uma vacina feita com o vírus inativado. Trata-se de uma tecnologia semelhante à utilizada nas doses anuais contra a gripe. O Instituto Butantan, em São Paulo, participa desse projeto.
O processo de testes das vacinas e como elas funcionam
A vacina de Oxford é feita com um tipo de adenovírus modificado. Esse vírus carrega um pedaço do material genético do Sars-CoV-2, o que instiga células do nosso corpo a produzirem as chamadas espículas – espécies de “espinhos” que novo coronavírus possui em sua superfície. Mas atenção: essas estruturas, sozinhas, não causam a covid-19 e o adenovírus inoculado também não possui capacidade de se replicar.
De qualquer forma, as espículas fabricadas pelo organismo após a vacinação incitam o sistema imunológico a produzir anticorpos contra elas. Ou seja, ao ter anticorpos contra a espícula logo de cara, seu sistema de defesa barraria a entrada do novo coronavírus nas células. Com isso, ele não causa estragos, tampouco consegue se replicar.
A vacina chinesa da Sinovac também mostrou ser eficiente nos testes com animais, que ocorrem antes dos experimentos em seres humanos. Em comunicado à imprensa no site Clinical Trials Arena, a companhia divulgou resultados preliminares de seu estudo de fase 2, uma etapa que testa a segurança e a dose ideal do composto em um número considerável de pessoas — mas menor do que na fase 3.
De acordo com a empresa, 90% dos participantes desenvolveram anticorpos neutralizantes 14 dias depois da injeção, sem eventos adversos relatados. Entretanto, os dados também não foram publicados em periódicos científicos, o que limita bastante qualquer interpretação.
Nessa abordagem, saiu na frente a vacina desenvolvida pela farmacêutica Moderna, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, na sigla em inglês). Os estudos com seres humanos começaram me março. Segundo a companhia, na primeira etapa, os 105 voluntários mostraram uma produção de anticorpos neutralizantes “em nível comparado aos de pacientes recuperados pela covid-19”. Atualmente, o trabalho está na fase 2, assim como outra proposta de vacina baseada em RNA, feita pela Pfizer e pela Biotech.
A Moderna afirma ter uma tecnologia mais eficiente para entregar o RNA do Sars-CoV-2 nas células humanas, o que superaria essa limitação.
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