A desvalorização marca uma virada após anos de forte alta da moeda americana.

A desvalorização marca uma virada após anos de forte alta da moeda americana.

O dólar encerrou 2025 em queda de 11,17% frente ao real, consolidando o maior recuo anual da moeda norte-americana desde 2016, quando a desvalorização chegou a 17,84%. O desempenho contrasta com a forte volatilidade observada ao longo do ano e com o histórico recente de altas expressivas, especialmente após o pico de tensão registrado no fim de 2024, quando a moeda chegou a se aproximar de R$ 6,20.

Os dados de retorno anual mostram que o movimento de 2025 não foi isolado, mas representa uma inflexão relevante após uma sequência de anos marcados por ganhos do dólar. Em 2024, por exemplo, a moeda havia acumulado alta de 27,35%, enquanto em 2020, em meio à pandemia, o avanço foi ainda mais expressivo, de 29,36%. Já em anos como 2018 e 2021, o desempenho também foi positivo, reforçando o caráter atípico do resultado observado agora.

A herança de 2024

Em 2024, o dólar oscilou entre R$ 4,8015 e R$ 5,8749, pressionado por incertezas fiscais no Brasil e pelas expectativas em torno da política monetária dos Estados Unidos. No fim daquele ano, a moeda chegou a se aproximar de R$ 6,20, refletindo forte aversão ao risco e dúvidas sobre o equilíbrio das contas públicas brasileiras.

Esse patamar elevado serviu de ponto de partida para 2025, que começou sob influência de um cenário ainda adverso, mas passou por mudanças importantes ao longo dos meses.

Janeiro a março de 2025: volatilidade inicial e reversão gradual

O primeiro pregão de 2025, em 2 de janeiro, teve o dólar cotado a R$ 6,1798, ainda refletindo as tensões herdadas do ano anterior. O primeiro trimestre foi marcado por forte volatilidade, com oscilações influenciadas por dados do mercado de trabalho dos EUA e expectativas sobre juros, mas com viés de queda ao longo dos meses.

Em fevereiro, sinais de desaceleração da economia americana e inflação mais comportada fortaleceram moedas emergentes. O dólar recuou para a faixa de R$ 5,69.

Março consolidou o movimento: a moeda caiu 3,55% no mês, encerrando a R$ 5,7053, impulsionada pela entrada de capital estrangeiro, diferencial de juros favorável ao Brasil e maior busca por ativos de maior retorno fora dos Estados Unidos.

Abril e maio: tarifas e instabilidade externa

Em abril, o câmbio voltou a ficar instável após o anúncio de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, em meio às primeiras sinalizações mais concretas da política econômica do presidente Donald Trump. O dólar chegou a R$ 5,99, maior nível desde janeiro, mas o movimento foi temporário.

Em maio, a moeda voltou a oscilar diante do fortalecimento pontual do dólar no exterior e de incertezas internas, como discussões sobre possíveis mudanças no IOF, mantendo-se próxima de R$ 5,70.

Junho: real se fortalece

Junho foi um dos meses mais favoráveis ao real. O dólar caiu 4,98% no mês e acumulou recuo de 12,07% no primeiro semestre. A cotação chegou a R$ 5,43, o menor nível desde setembro de 2024.

O movimento refletiu maior apetite ao risco global, fluxo estrangeiro positivo para o Brasil e percepção de maior estabilidade macroeconômica no curto prazo, em um ambiente de juros elevados no país.

Tensões comerciais e tarifas dos EUA aumentaram a volatilidade ao longo de 2025.

Tensões comerciais e tarifas dos EUA aumentaram a volatilidade ao longo de 2025.

Segundo semestre: tarifas, política e tensões geopolíticas

No segundo semestre, o cenário voltou a se deteriorar. Em julho, tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos elevaram o dólar até R$ 5,59, com alta acumulada de 3% no mês.

Em agosto, a entrada em vigor de tarifas elevadas sobre produtos brasileiros manteve o câmbio pressionado, apesar de sessões pontuais de alívio que levaram a moeda novamente para a casa de R$ 5,38.

Setembro e outubro: política e cenário internacional

Em setembro, o dólar caiu para R$ 5,27, o menor valor em mais de um ano, influenciado por fatores políticos domésticos e pela redução temporária da aversão ao risco global.

Já em outubro, a moeda voltou a subir, acumulando alta mensal de 1,07%, diante de novas preocupações fiscais no Brasil e do aumento das tensões geopolíticas internacionais.

Novembro e dezembro: política e ajustes técnicos

Em novembro, o dólar voltou a ganhar volatilidade, pressionado por dados do mercado de trabalho dos EUA, incertezas fiscais externas e fatores políticos internos, encerrando o mês novamente acima de R$ 5,40.

Dezembro foi marcado por oscilações intensas. O movimento ganhou força após a confirmação da candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência em 2026, elevando a percepção de risco político. No dia 5, o dólar disparou 2,34% e fechou a R$ 5,4346, maior alta diária desde outubro.

Nos dias seguintes, a moeda alternou altas e quedas. Superou R$ 5,50 nos dias 17 e 19, acumulando alta semanal de 2,18%. Nos dias 22 e 23, chegou a R$ 5,5844, mas recuou 0,95%, interrompendo uma sequência de sete altas consecutivas.

Na reta final do ano, a liquidez diminuiu significativamente. Na segunda-feira (29), o dólar subiu 0,58%, a R$ 5,57. Já na terça-feira (30), última sessão do ano, recuou 1,58%, fechando a R$ 5,4890, refletindo ajustes técnicos ligados à formação da Ptax, em ambiente de baixa volatilidade típico do período pré-feriado.

Juros elevados no Brasil e enfraquecimento global do dólar favoreceram o real.

Juros elevados no Brasil e enfraquecimento global do dólar favoreceram o real.

Cenário global: Trump, Fed e dólar mais fraco

Em 2025, o dólar também se enfraqueceu globalmente. Moedas como euro, libra, iene e franco suíço se valorizaram frente à moeda americana, movimento associado à condução da política econômica dos Estados Unidos.

A expectativa inicial de um governo Trump mais agressivo em tarifas e estímulos fiscais logo no início do mandato não se confirmou. A cautela inicial e, posteriormente, o choque tarifário de abril aumentaram a incerteza sobre o crescimento americano, levando investidores a reduzir posições em dólar e a ampliar operações de hedge cambial, o que aprofundou a desvalorização da moeda.

Outro fator central foi a política monetária. O Federal Reserve iniciou cortes de juros apenas em setembro, com redução acumulada de 0,75 ponto percentual ao longo do ano, levando a taxa para a faixa de 3,50% a 3,75%, o menor nível desde 2022. Juros mais baixos reduziram a atratividade dos títulos americanos e estimularam a migração de recursos para mercados emergentes, como o Brasil.

Real x dólar

No Brasil, a valorização do real foi reforçada pela manutenção da taxa Selic em níveis elevados, os maiores em cerca de 20 anos, o que atraiu capital estrangeiro. Além disso, o mercado passou a enxergar com menos pessimismo o cenário fiscal, diante de sinais de maior previsibilidade nas contas públicas.

A atuação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, também ajudou a ancorar expectativas, ao reforçar o compromisso com a meta de inflação de 3%, mesmo diante de pressões políticas por cortes antecipados de juros.

O que esperar para 2026?

Em 2026, o câmbio deve continuar sensível a fatores externos e internos. No cenário internacional, persistem dúvidas sobre o ritmo da economia americana, a trajetória da inflação e o espaço para novos cortes de juros pelo Fed, além da troca no comando do banco central dos EUA, prevista para maio.

No Brasil, o foco dos investidores tende a migrar para o calendário eleitoral, a expectativa de início do ciclo de cortes da Selic e o compromisso do próximo governo com o controle fiscal. A partir do segundo trimestre, a disputa presidencial e as perspectivas de gastos para 2026 e 2027 devem ganhar peso crescente na formação da taxa de câmbio.

Em sintonia com essa visão de controle financeiro, a Soul Brasil se dedica constantemente em manter seus seguidores informados sobre a cotação do dólar e análises do cenário mundial. Na nossa página “De Olho no Dólar” , confira insights importantes para embasar suas decisões financeiras de forma mais informada.

FAQ – Perguntas Frequentes

1. Quanto o dólar caiu em 2025?
O dólar acumulou queda de 11,17% frente ao real ao longo de 2025.

2. Foi a maior queda do dólar em quanto tempo?
Foi o maior recuo anual desde 2016, quando a desvalorização chegou a 17,84%.

3. O que explicou a queda do dólar em 2025?
A combinação de juros elevados no Brasil, entrada de capital estrangeiro, cortes de juros pelo Fed e enfraquecimento global do dólar.

4. O governo Trump influenciou o câmbio?
Sim. Incertezas sobre tarifas e crescimento dos EUA reduziram a atratividade do dólar no cenário internacional.

5. O que pode influenciar o dólar em 2026?
Eleições no Brasil, política fiscal, trajetória da Selic, economia americana e decisões do Federal Reserve.