Em meio à crise econômica que o Brasil tem atravessado nos últimos anos, o ritmo de viagens internacionais também tem diminuído. Os gastos de brasileiros no exterior caíram 34,3% no primeiro semestre deste ano. Segundo dados do Banco Central (BC), entre janeiro e junho os gastos chegaram a US$ 6,53 bilhões, contra US$ 9,3 bilhões. Este é o menor valor registrado pelo BC desde 2009, quando os gastos de brasileiros no exterior foi de US$ 4,45 bilhões. Em contrapartida, os estrangeiros deixaram US$ 3,15 bilhões no país, contra US$ 2,94 bilhões no primeiro semestre de 2015.
Os brasileiros tem economizado em diversos aspectos do cotidiano, não apenas em viagens: nas compras diárias, no comércio, nos passeios, nos presentes.. o salário do fim do mês não tem rendido, os preços dos produtos aumentaram e o acesso ao lazer também sofreu com o recesso econômico. Sem contar que o dólar, que está relativamente alto nos últimos anos, encareceu passagens, estadia em hotéis e produtos comprados lá fora.
Com esta valorização, as despesas com cartões de crédito e débito no exterior – que sofrem ainda a incidência do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%, também dispararam, o que tem dificultado o poder de compra dos consumidores. Em junho, os gastos de brasileiros no exterior chegaram a US$ 1,7 bilhão, contra US$ 1,64 bilhão no primeiro semestre de 2015. O valor é o menor registrado para o mês desde 2010, quando os gastos chegaram a US$ 1,29 bilhão.
Muitos brasileiros que nunca tiveram a oportunidade de viajar para o exterior antes dos anos 2000, conseguiram facilidades com passagens, hotéis e abertura de crédito para gastar fora do país e fizeram deste tipo de lazer uma grande fonte de renda que movimentou a economia do país. Estes números positivos duraram até meados de 2008, deram uma caída, mas melhoraram novamente entre 2010 e 2014, quando os gastos de brasileiros no exterior subiram continuamente.
Com um pouco mais de renda no bolso, os consumidores optaram por viajar e abastecer seus desejos e necessidades lá fora. E não foi só porque queriam conhecer o “estrangeiro”. Além de ter melhor qualidade e variedade, o varejo dos países ricos é muito mais barato. O câmbio, os impostos, o pagamento à vista, nada batia a compensação entre preço e qualidade.
Porém a crise econômica dos últimos dois anos tem gerado filas enormes na busca por emprego e diminuído a renda das famílias. Também contribuem para redução dos gastos no exterior a alta da inflação e o elevado nível de endividamento das famílias. O aumento do desemprego e da inflação, além da retração do mercado de crédito e da massa salarial, levaram o consumo das famílias a registrar o pior resultado da série histórica, iniciada em 1996, com a recém-criada moeda Real.
Como alternativa para ajustar o orçamento doméstico, os brasileiros estão cada vez mais diminuindo gastos com o lazer. Foi o que a pesquisa realizada pela Boa Vista SPCP (Serviço Central de Proteção ao Crédito) comprovou: quase 40% dos consumidores do país disseram ter modificado seus hábitos de compra e consumo para conseguir equilibrar os gastos no fim do mês. Contas de consumo de água, luz e alimentação também foram alvos de corte.
Enquanto o Brasil passa por este momento difícil, os estrangeiros tem aproveitado o momento para gastar no país, em especial com a chegada das olimpíadas. Por exemplo, no primeiro semestre deste ano (2016), os moradores de outros países gastaram US$ 3,15 bilhões no Brasil – com aumento frente ao mesmo período do ano passado (US$ 2,94 bilhões). Estes números tendem a se manter positivos até o fim do ano pelo menos, acreditam os economistas.
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