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Foto: Vaticano

A fumaça branca que subiu da Capela Sistina nesta quinta-feira (8) anunciou um marco histórico para a Igreja Católica: pela primeira vez em mais de dois mil anos, um papa nasceu nos Estados Unidos. O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito pelos cardeais do conclave e agora será conhecido como Papa Leão XIV.

Nascido em Chicago, Prevost também se torna o primeiro pontífice originário de um país de maioria protestante. Sua trajetória religiosa, no entanto, está profundamente ligada à América Latina, especialmente ao Peru, onde passou grande parte de sua vida missionária. Em 2015, ele também obteve a cidadania peruana, o que reforça sua conexão com a região e a sua representatividade das Américas.

Leão XIV é membro da Ordem Agostiniana, a mesma linha pastoral do papa Francisco, da Ordem Franciscana, com um foco especial nos mais pobres e necessitados. Durante seu tempo como cardeal e administrador apostólico no Peru, Prevost se destacou por sua postura moderada e seu compromisso com os valores cristãos de justiça social.

 A escolha do novo papa, em 8 de maio de 2025, marca a primeira vez que um Agostiniano ocupa o papado. A Ordem Agostiniana integra o grupo das Ordens Mendicantes, ao lado dos Franciscanos, Dominicanos e Carmelitas. Vale destacar que as Igrejas de Nossa Senhora do Bom Conselho, no bairro Los Feliz em Los Angeles, e de São Tomás de Aquino, na cidade de Ojai, ambas localizadas na Califórnia, são administradas pelos Agostinianos.

Um Papa das Américas

Ao anunciar seu nome como Leão XIV, Prevost declarou da sacada da Basílica de São Pedro um “chamado à paz” e à construção de “pontes por meio do diálogo”. Suas primeiras palavras refletiram uma visão conciliadora e humanista, reforçada por sua biografia missionária. Um terço de sua vida foi passado nos Estados Unidos; o restante, entre a Europa e, sobretudo, a América Latina.

Foi no Peru que Leão XIV construiu sua maior contribuição pastoral. Atuou por dez anos na região de Trujillo, enfrentando inclusive o regime autoritário de Alberto Fujimori. Como administrador da Diocese de Chiclayo, recebeu o título de bispo em 2014 e posteriormente integrou os principais organismos da Cúria Romana, como a Congregação para os Bispos e a Comissão Pontifícia para a América Latina. Em 2023, foi elevado a cardeal, um feito seguido rapidamente pela eleição ao papado — algo raro na história moderna da Igreja.

O jornal italiano La Repubblica já o apelidava de “o menos americano dos americanos”, destacando seu perfil moderado, discreto e profundamente enraizado na realidade dos pobres da América Latina. Ainda assim, sua origem em um país majoritariamente protestante dá um novo fôlego ao catolicismo nos EUA e simboliza a presença de uma Igreja globalizada e pluricultural.

Passado com controvérsias

Robert Francis Prevost ainda tem um histórico com sérias polêmicas envolvendo acusações de possível acobertamento de abusos sexuais cometidos por padres tanto no Peru quanto nos Estados Unidos. Quando era bispo em Chiclayo, três meninas o acusaram de não agir adequadamente diante de denúncias de abuso por dois clérigos. Segundo elas, documentos teriam sido manipulados para evitar investigações. 

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Foto: Vaticano

Embora a diocese afirme que Prevost seguiu os protocolos e incentivou denúncias civis, o processo foi arquivado por prescrição, e vítimas alegam que a prometida reabertura do caso nunca ocorreu. Além disso, ele também foi acusado de omissão nos anos 1980 e 1990, quando era superior provincial agostiniano em Chicago, por permitir a permanência de padres já denunciados por abuso sexual, incluindo um que chegou a viver próximo a uma escola católica.

Desafios do novo papa

Leão XIV assume o comando da Igreja Católica em um momento crítico, enfrentando desafios como o afastamento crescente dos jovens da religião, a rápida perda de fiéis em países tradicionalmente católicos e a urgência de combater com firmeza os abusos sexuais no clero.

Além disso, terá pela frente o papel diplomático da Igreja em meio a conflitos globais, a necessidade de manter o diálogo com regimes autoritários que limitam a liberdade religiosa, e o desafio de dar continuidade às reformas iniciadas por Francisco, que polarizam conservadores e progressistas dentro da própria Igreja.

Apesar do início cercado por polêmicas e expectativas, o novo papa também chega com esperanças renovadas. Sua origem americana e formação latina podem simbolizar a unidade entre continentes, culturas e sensibilidades que hoje se chocam dentro e fora da Igreja.